Voltando pra Casa

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Não parar de correr, se tornou algo extremamente necessário em meio aquela madrugada. Mesmo que os pés descalços daquele rapaz doessem ao pisar em vários galhos e pedras durante a travessia daquela relva escura, mesmo que estivesse todo arranhado pelas chicotadas que as plantas davam em sua pele pouco coberta, ele não podia parar e não iria, tinha feito essa promessa a sua mãe afinal.

Seus braços tentavam proteger seu rosto, inutilmente, dos galhos das arvores, e estampados em seus olhos arregalados, estava o medo de ser pego. Homens grandes e fortes o perseguiam, pelo menos era o que pensava, já que os mesmos estavam longe de serem meros seres humanos.

Para intender melhor porque um rapaz de pele branca e macia, cabelos pretos e lisos como as noites mais escuras de Tulipam - Cidade das pedras preciosas - poderia estar correndo como um desesperado em meio a uma mata densa? Vamos ter que voltar um pouco no tempo.


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Eram exatamente oito horas da noite, quando os Byun se sentaram para o jantar, como o habitual, a família rezou em agradecimento pela farta comida disposta a mesa antes de começarem a se servirem. O lugar onde moravam era no topo de uma montanha bem alta, o quintal era um campo com diversas flores, onde atraia derivados animaizinhos. Uns eram um tanto nojentos, mas os outros eram lindos e majestosos, como por exemplo, as borboletas, de todas as cores e tamanhos. O único filho dos Byun adorava correr pelo campo e as espantarem com sua forma barulhenta e alegre de ser, as ver voar e se misturar umas com as outras era a coisa mais maravilhosa de se presenciar, era tão colorido.

E mesmo com aquela imensidão à disposição do mais novo, ele sempre buscou mais. Só que sua mãe o proibia de chegar a menos de três metros perto da floresta que rodeava o campo, ela dizia que existia coisas ruins e perigosas naquele lugar. Porém o pequeno nunca acreditou muito naquela história, sabia que a mulher escondia alguma coisa por trás das copas daquelas árvores imensas, mas não tinha muito que discutir apenas obedecê-la.

Era para ser uma noite comum como todos os dias que se passaram vivendo ali, após o término do jantar, Baek Hyun e sua mãe recolheram os pratos de cima da mesa, os levando para a cozinha. O senhor Byun foi ver TV enquanto a mulher e o filho terminavam de lavar a louça suja, para que no final se juntassem ao mais velho na sala, até ai continuava tudo normal. O relógio ia rodando e as horas iam passando, na televisão passava um programa de humor e os presentes na sala riam das palhaçadas que um homem fazia, quando um barulho chamou atenção da família, do lado de fora da casa. O senhor Byun arregalou seus olhos - o que foi bem estranho, já que o homem quase não demonstrava expressões - e se levantou de sua poltrona e foi até a janela olhando o que tinha na escuridão.

— Subam e se tranquem no quarto, vou ver o que fez esse barulho lá fora. — O homem mais velho pediu, saindo de casa e fechando a porta atrás de si.

— Vamos, querido? — A mulher contornou o ombro do único filho e foi junto dele rumo às escadas, chegando a subir metade delas, quando se assustaram com o barulho de tudo se quebrando atrás deles.

— Cadê o herdeiro? — Um homem enorme passou pelo batente da porta, que se encontrava toda arrebentada pelo corpo que foi jogado com força contra a mesma, e que escorregou até bater as costas na parede do outro lado, aquele era o pai de Baek Hyun.

— Você não ira por essas mãos imundas nele. — Falou entre dentes ao se levantar do chão e se posicionar para se transformar em um animal grande e feroz, que tinha pelagem inteiramente branca.

O animal rosnou alto antes de pular no outro homem, o que deixou Baek Hyun em estado de choque, ele não acreditava no que tinha acabado de acontecer diante de seus pequenos olhos. Sua mãe teve que o arrastar para o andar de cima, porque aquele homem estranho não estava sozinho e seu pai ou aquele animal, não conseguiria segura-los por muito tempo.

Ao se trancarem no quarto a mulher foi em direção ao seu guarda-roupa e abriu as portas revirando tudo o que tinha lá dentro, até achar uma caixinha de madeira envernizada. Ela a abriu e tirou de dentro um pano negro de camurça que enrolava um colar com uma pedra em tom de roxo claro, quase entrando em um azul, cor do céu e dentro uma fumaça branca se mexia como se representasse as nuvens. A mais velha voltou a correr na direção do filho e colocou em torno de seu pescoço o colar, que se prendeu magicamente, sem ter um feixe para prendê-lo.

— Mãe o que está acontecendo? Porque estão machucando o papai? E o papai, porque ele é um animal? — perguntou sentindo seus olhos transbordarem em lágrimas, se sentia assustado e perdido com tudo aquilo.

— Agora eu não posso dar as respostas que você procura, meu filho, você tem que ir. — O empurrou com pressa até a janela, à medida que tentavam abrir a porta do quarto.

— Eu não vou a lugar nenhum sem vocês. — Teimou, tendo o rosto segurado pelas mãos delicadas de sua mãe.

— Baek Hyun, escuta a mamãe, corra para a floresta e a adentre cada vez mais fundo. Não olhe nunca pra trás e mesmo quando seus pés começarem a doerem ou a sangrarem não pare, está me entendendo? — O pequeno confirmou com a cabeça, passando uma perna de cada vez para o outro lado, onde tinha encostado à janela uma escada.

— Vem, mamãe, é a sua vez. — Falou para a mulher que deixou de segurar sua mão e se afastou da janela. — O que está fazendo? — Confuso viu a mulher sorrir e do nada se transformar em um animal enorme e com a pelagem branca como a de seu pai, os olhos do animal penetraram nos seus e então ela uivou se colocando em modo de ataque, bem na hora que conseguiram quebrar a porta.

Assustado o pequeno acabou escorregando pela escada até cair no chão, se levantou rapidamente, mas não tirou os olhos da janela, deixar sua mãe pra traz lutando sozinha, só o fazia se sentir culpado. E o impulso que o levou ao dar as costas e começar a correr, foi ver o animal - sua mãe - pela janela, o mandando partir de maneira assustadora, porque animais não falavam e humanos não os compreendiam na forma de se comunicarem.

Mas mesmo assim correu, correu e correu. Suas roupas não eram adequadas para que ele se enfiasse no meio da floresta, sem se machucar. Vestia uma blusa fina de mangas compridas na cor branca e um short curto na cor azul escuro. Já estava cheio de arranhões pelo corpo, mas o pior, que realmente o fez diminuir os passos, foi o corte fundo que fez na lateral das costelas ao se enrosca em um galho pontiagudo. A dor veio de imediato, o fazendo cair no chão, porém se levantou colocando a mão em cima do machucado para tentar estancar o sangue e conseguir, pelo menos, dar mais alguns passos.

Caminhou mais um pouco até chegar a uma árvore enorme comparada às outras e encostou-se a ela, sua respiração estava falha e suas pernas tremiam bambas por ter corrido por mais de uma hora naquela mata, o que o fez escorregar até estar encolhido no meio das raízes daquela árvore. As lagrimas escorriam livremente por seu rosto enquanto pensava nas frações de segundos que sua vida tinha virado um inferno, estava exausto e não conseguia dar mais nenhum passo, ainda mais estando machucado. Só restava o seu fim e não estava longe disso, porque conseguia escutar passos se aproximando cada vez mais perto.

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— PAREM. — Gritou o líder do bando que perseguia o pequeno rapaz. — Seus imprestáveis, eu disse que não era pra deixar o herdeiro atravessar a linha dos dois mundos. — Disse entredentes enquanto pegava um de seus subordinados pela gola da camisa. — Era apenas um lobo sem memoria, era pra ser fácil e rápido. Agora o perdemos de novo, a espécie mais rara já encontrada nesse mundo conseguiu fugir de uns cavalões que nem vocês. — Olhou com raiva para cada um que estava presente.

— Mas a guardiã do garoto era muito brava, senhor. — Um dos homens se atreveu a se pronunciar.

— Brava? Bravo sou eu, seus bandos de imbecis. ­— Disse tacando uma faca afiada no peito do engraçadinho que resolveu dar desculpas de merda para si, que caiu morto no chão logo em
Seguida, tendo a pele canonizada pela prata. — Alguém mais quer ser usado como exemplo?

— Não, senhor. — Responderam em uníssono.

— Bom... vamos sair daqui, antes que aquelas feras percebam a agente de bobeira rente ao muro deles. — Suspirou tentando se acalmar e então deu as costas, se afastando junto de sua turma.

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— Por favor, não me machuque. — Baek Hyun pediu com a voz baixa ao ver uma silhueta alta parar em sua frente. Por estar tão fraco, pela perda de sangue que estava tendo, mal conseguia se mover para tentar fugir, tudo estava latejando e seus olhos queriam, porque queriam, se fecharem.

— Machucar? Eu queria era te arrebentar. — Uma voz potente e grossa se pronunciou e o dono da mesma se abaixou em frente ao corpo quase desfalecido. — Mas estou com tantas saudades, que sou incapaz de te ferir mais do que já está ferido, pequeno. — Disse ao passar um dos braços por debaixo do tronco do menor e o trazer para mais próximo, onde pode alcançar os lábios pequenos e ressecados, matando um pouco da saudade que sentia.

— Não. — O menor negou o selar tentando virar o rosto, mas a mão alheia o prendeu, o trazendo de volta onde seus lábios foram sugados. Baek Hyun não sabia o que estava acontecendo, mas algo em seu peito o fez usar o restante de sua força para levar a mão até a nuca da pessoa que o beijava e aprofundar o contato, que parecia tão familiar. — Quem é você?  — Sussurrou antes de sua inconsciência o dominar.

— Seu marido.

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⏰ Última atualização: Jul 04, 2017 ⏰

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