Meus olhos estão fechados. O sol aquece minha pele. O silêncio que me cerca é como um calmante para meu coração atribulado. O único som que consigo ouvir é o barulho das folhas das árvores que balançam quando o vento bate nelas.
Estou sentada em uma mureta de pedra, em baixo de uma árvore de Jaca, no forte do Anhatomirim, que fica numa ilha no meio do oceano por assim dizer, mais precisamente, uma ilha vizinha a de Florianópolis.
Se abrir meus olhos agora, a imagem que tenho na minha frente é magnifica, quase bela demais para ser absorvida.
Esse é meu refúgio, meu pedaço do céu aqui na terra. O lugar onde meus sonhos duelam com meus pesadelos, e o prêmio é a minha sanidade.
Três dias... é o prazo que tenho para ver minha vida começar a desmoronar para valer a minha volta.
Solto um suspiro profundo e quando abro os olhos, vejo que minha carona está se aproximando.
Nos últimos dois dias venho para Ilha com o primeiro barco da manhã, pegando carona para retornar no último barco que passa aqui no finalzinho da tarde.
É mês de março e a temporada está quase terminando, mas a ilha de Florianópolis ainda está lotada de turistas. No primeiro dia que vim até o forte, os responsáveis pelo barco estranharam um pouco o fato de querer ficar na ilha o dia todo, afinal, para eles é como se uma hora fosse suficiente para realizar o passeio aqui. Mas o pessoal que cuida da Ilha já me conhece, sabe como posso ficar o dia todo pensando e simplesmente andando por aqui, apenas sentando nas sombras para analisar a paisagem e por isso ninguém proibiu ou questionou minha permanência.
Olho para o barco que se aproxima e um sorriso brota dos meus lábios. Por ser um passeio turístico, o barco que faz esse passeio simula ser uma embarcação pirata. Se não estivesse com a cabeça tão focada nos meus problemas, poderia voltar a apreciado o passeio.
Levando e bato às mãos na minha bermuda para retirar a sujeira que se agarrou na minha bermuda. Depois, vou até a entrada da fortaleza, para acompanhar a visitação junto com os outros turistas.
Antes de me virar, olho mais uma vez para o horizonte, sentindo o vento soprando delicadamente contra meu rosto. Passo as mãos contra meu corpo, num abraço de aconchego, imaginando que ao invés das minhas mãos, é o da pessoa que mais sinto falta nesse mundo, meu avô Jair.
É por sua causa que estou vindo até essa ilha. Afinal, esse é o seu lugar de descanso eterno, onde sempre vou sentir que está presente, se movendo ao redor dessa construção centenária, ou no mover das ondas lá embaixo ou até na brisa suave do vento que sempre sopra aqui.
Meu avô era um historiador, trabalhou durante muitos anos na conservação e restauração desse prédio.
Costumava vir com ele para o Forte, passava horas correndo por essa ilha, sei todos os detalhes da visita que vou acompanhar daqui a pouco. Sou inclusive mais qualificada que o guia que vai fazer a excursão, mas mesmo assim gosto de ouvir a história desse lugar, como se cada vez meu coração absorvesse um pedaço novo desse lugar.
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O Silêncio do Vento
RomanceFaço uma pergunta, mas só me responda quando tiver certeza da resposta: Qual a hora certa para o amor? * Postagens quinzenais.