O domingo de Alana passou preguiçoso. Ela ficou o dia todo em casa, alternando entre livros, filmes e séries, mas todos os programas foram devidamente acompanhados de café e alguns biscoitos que Mari tinha comprado no mercado e levado pra ela. Nunca tinha ouvido falar da marca, mas eram biscoitos sortidos de chocolate e baunilha, ambos sem recheio. Os melhores que a garota tinha comido na vida.
Quando se deu conta, já era noite. Ela arrumou as coisas para a aula no dia seguinte, que eram bem cedo, para sua tristeza. Assim que terminou, fez umas torradas e pegou requeijão cremoso na geladeira, seu lanche preferido para domingos a noite. Alana costumava assistir 'Fantástico' quando estava entediada e/ou nada de interessante estava passando, o que era o caso. Durante as duas horas do programa, seu celular vibrou umas mil vezes. Ela ignorou todas. Mas lá pela milésima vez, recebeu uma mensagem da mãe, que obviamente ela não poderia ignorar. Levantou e lavou as mãos sujas antes de pegar o pequeno aparelho para responder.
A mãe perguntava todo dia como ela estava e cobrava uma ligação da filha todos os dias desde que Alana tinha se mudado de Salvador para São Paulo. Como não ligara ontem, devia saber que sua progenitora provavelmente estava tendo um ataque de nervos. Quase pode ver o pai rindo discretamente enquanto tentava argumentar que estava tudo bem com ela.
Alana amava os pais, claro, mas precisava de seu próprio espaço. Tinha crescido e necessitava ampliar seus horizontes também.
Respondeu a mãe que estava tudo bem e pediu desculpas por não ter ligado. Preferiu não contar sobre a festa. Se contasse, era bem provável que dona Clara viesse voando sem avisar e levasse a filha de volta para a cidade do axé. E por mais que amasse Salvador incondicionalmente, a estudante não podia voltar pra lá. Não agora.
O programa acabou e ela desligou a televisão, indo em direção ao quarto. Tinha tomado banho mais cedo e só escovou os dentes antes de se jogar na cama, se contorcendo para pegar o controle do ar condicionado e ligar o aparelho.
Estava tão cansada que dormiu quase que imediatamente. Não teve sonhos, como de costume, e acordou pronta para começar sua semana.
Levantou as 6:30, já que a aula era as 7:40. Cedo demais, se quer saber sua opinião. Tomou uma chuveirada e se arrumou, vestindo uma roupa mais leve. O sol aparecia lentamente, mas tudo indicava que o dia seria insuportável de tanto calor. Tomou um iogurte e comeu um sanduíche de queijo para que aguentasse até a hora do almoço. Reuniu suas coisas, terminou de se arrumar e foi rapidamente até a saída. A USP era meio longe do apartamento, então a garota pegou o ônibus que a levava todos os dias. Mari iria encontrá-la para almoçarem juntas antes de sua amiga ir para a aula.
Quando chegou, desceu com tempo o bastante para chegar sem atrasos. Aturou toda uma manhã de monólogos dos professores, notas e avisos de novos trabalhos. Mal podia esperar para que o semestre acabasse e os professores relaxassem por um tempo. Eles eram estressados demais! Alana sempre fazia de tudo para não criar confusão com nenhum deles e estava concluindo seu objetivo até agora.
As matérias que tinha escolhido eram em dias diferentes, mas as três daquele dia tinham finalmente acabado. Foi andando rapidamente para a frente da universidade e mandou uma mensagem para Mari dizendo que já tinha saído. Enquanto visualizava outras mensagens, sentiu alguém se esbarrar nela. Era um garoto, só um pouco mais alto que Alana e tinha cabelos castanhos. Ele pediu desculpas imediatamente e abriu um sorriso (que por sinal era lindo. Sério. O tipo de sorriso que derrete qualquer coração).
Alana desgostou dele de cara. Parecia um daqueles garotos que achava que era só estalar os dedos e conseguiria todas as meninas que quisesse. Ela murmurou um "tudo bem" baixinho, e se virou com o celular em mãos. Entretanto ele tentou puxar conversa.
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Café com biscoitos
Teen FictionAlana Moraes, 20 anos, estudante de jornalismo. Depois de alguns desastres amorosos, os acúmulos de trabalho na faculdade e os problemas cotidianos, ela decide levar a vida sem tantos planos e cobranças. Mas é claro que não seria assim. Afinal, semp...