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Já faziam algumas poucas horas desde o momento em que a luz do sol havia começado a adentrar as finas frestas da persiana do quarto de Taehyung, iluminando precariamente seu corpo magro, que continuava vestido exatamente com as mesmas roupas de couro da madrugada anterior.

Os tecidos, colados contra sua pele dolorida e cansada, deixaram de ser psicologicamente desconfortáveis após as tantas horas em que o jovem permaneceu ali, deitado na sua cama impecavelmente limpa, observando o teto tingido em tons pastéis, enquanto os tristes pensamentos e memórias desagradáveis da noite anterior circulavam por sua mente, de forma constante e perturbadora, o impedindo de pregar os olhos por um segundo sequer.

Após ter presenciado a desoladora cena de Jeon Jeongguk aos beijos, risos e amassos com Park Jimin, e ter se escondido por entre lágrimas atrás de sua precária propriedade localizada nos arredores de Gyeryong, Taehyung dirigiu-se imediatamente para a casa de seus pais, onde pôde desabar completamente sem se importar com a vergonha que estava instalada dentro de si.

Sua cabeça estava uma bagunça e seu coração despedaçado, tendo cada uma de suas partes afogadas na irremissível mágoa que insistia em inunda-lo por completo, vazando por todas as suas cicatrizes e rachaduras, manchando sua face e manifestando-se através dos olhos inchados, envoltos pela escuridão, e da feição amargurada que havia se formado conforme a noite se estendia.

Eram tantos sentimentos embaralhados e acumulados, que ele nem ao menos sabia por onde começar a refletir, sendo sempre impedido pelas lágrimas quentes que voltavam a brotar no canto de seus olhos, escorrendo por seu rosto e misturando-se com sua maquiagem - que já se encontrava completamente arruinada - transformando sua aparência no perfeito reflexo de seu interior.

Sentia-se inútil e deixado de lado; um completo desprezível. Ele havia fugido de suas complicações, como sempre fazia quando algo de errado teimava em acontecer, e seu subconsciente julgava-o absurdamente, o punindo por suas atitudes de covardia e por seus sentimentos incontroláveis, que mesclavam-se com a dor ambígua que dominava seu coração.

Ele estava machucado, e sabia que aqueles dois garotos - que pareciam íntimos demais para quem acabava de se conhecer - possuíam responsabilidade dividida a respeito de sua angústia.

É claro que Jeongguk tinha a maior - e quase total - parcela da culpa, fazendo com que Taehyung chorasse, não apenas devido à inevitável dor que residia em seu âmago, mas também graças a toda a raiva e indignação que o jovem de cabelos morenos constantemente o fazia sentir.

Aquela não era a primeira vez em que o mais velho deles feria os óbvios sentimentos que o outro possuía em relação a si, assim como estava extremamente longe de ser a última.

A relação complicada, onde apenas Taehyung expressava suas emoções sem medo, e Jeongguk pouco se importava em retribuir qualquer esmero que divergisse de sua típica libidinagem, era a maior inimiga dos sentimentos amorosos aderidos pelo Kim.

Não importava o quanto de paixão o mais novo depositasse em todos os atos direcionados ao outro; ele sempre acabava sentindo-se sozinho nos fins de suas noites, como se Jeongguk não estive, realmente, ao seu lado, parecendo ser um mero corpo vazio, sem o mínimo de afeto ou consideração pelo jovem com quem havia compartilhado os tempos difíceis de sua adolescência.

Com o passar e as transições do tempo, Jeon havia se tornado uma pessoa completamente fria, diferente de quem costumava ser, e as consequências dos problemas de seu passado acabaram caindo sobre o pobre Kim, que tinha de aguentar toda a indiferença e o descaso de seu amante, que nunca se entregava cem por cento para si.

Era verdade que o que tinham não possuía uma denominação concreta, tratando-se de uma relação sem comprometimentos oficiais ou qualquer símbolo que indicasse que pertenciam um ao outro.

hopeless fountain ⁂ tae.ji.kookOnde histórias criam vida. Descubra agora