Capitulo 2

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  Ouvi o som de uma buzina insistente em frente à minha casa, sabendo que já era Belle e Vítor. Joguei todas as roupas que estavam dentro da mala no chão afim de encontrar minha camiseta "Compromisso", encontrei e vesti de qualquer jeito sabendo que estava parecendo que a tirei de dentro de uma garrafa.

-Filha, Vítor já está aí te esperando. - Meu pai adentrou meu quarto sem bater e logo encarou aquele monte de roupas no chão do quarto. 
-Quando vc voltar já terei jogado suas roupas lá na casa do Betoven. -Arregalei os olhos, peguei minha bíblia e agenda e fui saindo do quarto deixando ele observando abismado toda aquela bagunça.
  -QUERO DINHEIRO. -Gritei procurando meu tênis pela casa.               -E essa bagunça? Depois que estiver sem nenhuma calcinha para vestir, não venha me dizer que não avisei. -Disse saindo do meu quarto e estendendo uma quantia razoável de dinheiro para passar a semana. -Se for demorar pra chegar me ligue avisando. -Me deu um beijo na testa e entrou em seu quarto.

-VOCÊ VEM OU O QUE??? 
Sim, era Belle, certamente ela cansou de me esperar dentro do carro e desceu para me apressar.
  -Estava terminando de me arrumar. -Joguei tudo que iria precisar dentro de uma bolsa e corri pra abraçá-la. -Senti sua falta, cadela.
-Eu até senti a sua... como você está? -Se soltou do meu abraço e me encarou, eu conhecia bem aquele olhar, 16 anos de amizade foi o bastante pra compreender cada olhar de Isabelle, e aquele dizia "Não precisa mentir pra mim, eu sou Isabelle e eu sei de tudo."
-Eu tô bem, cansada apenas.
-Vai mentir mesmo? -Suspirei, com vontade de voar naquele pescoço e socar aqueles olhos incrivelmente verdes de Belle "Ela está de bom humor hoje..." Porque eu sei? Porque a maldição dos incríveis olhos da minha amiga mudam de cor de acordo com a variação de seu humor, e não, não é loucura da minha cabeça, todas as pessoas próximas notam esse detalhe sobrenatural dela, e com tantos anos de amizade já havia decorado cada cor para cada humor, que variam de castanhos claros, verde, verde brilhante e azul. Estranha.
-Anda logo que o Vitor já está inquieto esperando. -me puxou pelo braço me acordando de meu transe sobre seus olhos.
  -Belle?
  -Diga
  -Estou com medo... -Apertei sua mão, enquanto sua outra puxava o portão para sairmos.
-Vai dar tudo certo, sabe disso. -Puxou meu braço me abraçando de lado, me levando em direção ao carro, onde Vítor já saia para me envolver num abraço. 

-Elôzinha, senti saudades. -Vítor em termo emocional é todo contrário de Belle, mesmo sendo 6 anos mais velho, sempre fomos muito próximos e  sou considerada sua "irmã caçula".
-Como você está? Achei que não ia voltar mais, já estava indo te buscar de volta.
Sorri e o abracei forte encarando aquele ser quase gêmeo de minha amiga. A única coisa diferença entre os dois é a idade e os olhos, os de Vítor não mudam de cor, são verdes permanentes.
-Você acha mesmo que eu iria te deixar livre de mim? Tô bem, só tentando sobreviver ao fato de de volta. -Soltei de seu abraço, já entrando no banco carona do carro.
-Tira essa cara de enterro que você não vai encontrar o Matheus hoje! -Disse ligando o rádio, e nem mesmo AC/DC me fez evitar o tremor que me alcançou. Claro que ele não se tocou sobre a gravidade do que havia dito, Isabelle o encarar com um olhar mortal. Eu tenho medo desse olhar...

Ao ouvir aquele nome senti um calafrio, e nem mesmo as batidas de Highway to hell me fez evitar a sensação ridícula que se instalou em mim .
"Te odeio Vítor"   

Olhei pra Belle que havia virado o rosto pra me olhar com a típica cara que dizia: "Não precisa ficar assim..."
Mais antes dela empezar seu discurso que eu havia decorado, rondei o inferno do meu íntimo pra responder algo, atrás do desprezo e magoa, muita mágoa...
-Que bom né. - Disse com o tom mais desprezível, mesmo estando gelada até o dedo mindinho do pé ao ouvir o nome de quem me virou do avezo durante 2 anos seguidos.

Maldito.

-Ontem eu vi o Rick, disse que desde que você foi não deu notícias pra ele. Tá bolado. -Belle disse com um tom debochado, mesmo sabendo que nosso amigo realmente estava bem chateado comigo, e mesmo eu sabendo que ela só havia falado isso por perceber meu estado aflito no banco de trás.
  -Agorinha a bolação dele passa. -Disse dando de ombros e encarando as ruas que a alguns meses eu não via e tão pouco senti saudade, enquanto AC/DC tomava de conta do carro.

"I'm on the highway to hell
On the highway to hell
Highway to hell
I'm on the highway to hell"

  Belle afastou aquela grande porta verde, me fazendo tremer de vergonha ao ver tantos jovens conhecidos e desconhecidos vestidos com a mesma camiseta sentados em fileiras.

-ELÔ. 
Sai correndo até a frente daqueles 20,30,40 ou 80 jovens, me embrulhando no abraço de Melissa.
  -Senti tanta saudade amiga. - Falei com a voz embargada, esquecendo da vergonha que tive só de entrar naquela sala, sabendo que agora estava agarrada na minha amiga na frente de todos eles.
  -Sua cachorra, te amo tanto. -Mel me sacudia enquanto eu ria, tentando me soltar. -Achei que não viria.
-Belle me arrastou. -Disse rindo arrumando meus cabelos e procurando onde estaria minha suposta amiga antisocial. Foi quando olhei pro lado de Mel, encontrando um par de olhos castanhos claros encarando a cena, gelei me perguntando quem seria o dono daqueles olhos brilhantes e preguiçosos, dei um aceno com a cabeça e o mesmo repetiu o gesto, voltando a atenção pro seu violão.

Mal educado.

Um mal educado que mal sabe que tenho um abismo por caras com violão.
 
Dei de ombros pra Mel, mesmo querendo perguntar "Quem é esse?" sabendo que se fizesse tal pergunta ela me faria passar alguma vergonha relacionada ao dono dos olhos brilhantes e preguiçosos que estava ao seu lado. Era típico dela.
Deixei um beijo na testa de Melissa e dei as costas seguindo rumo a Belle que  estava sentada na última fileira de tantas que havia.

"Nossa, como você emagreceu."
"Você tá magra hem." "
"Você não tinha ido embora?"
"O que você fez pra emagrecer tanto?" "O que você fez com seu cabelo?"   
"Então, você voltou."

   Voltei.

E foi esse tipo de comentários e perguntas feitas por aqueles conhecidos e quase amigos que tive que  dar um "Oizinho" por pura educação, no meio de tantos desconhecidos.
Um foda-se para todos vocês. 
Eu voltei e voltei magra.

Sentei ao lado de Belle focando minha atenção no palco improvisado à frente, fingindo está olhando pra Mel, sabendo que minha atenção estava voltada no dono daqueles olhos brilhantes e preguiçosos que encarava seu violão imerso em seus pensamentos.
Mel diz algo que não consegui decifrar, e logo o mal educado começa a dedilhar uma música lenta que eu conhecia bem, a música tema. Um sorriso brota em meus lábios e olho pra Belle, ela entende o significado daquele olhar sem que eu precise dizer uma única palavra: Eu senti saudades disso.
Olho pra frente tentando focar na letra da música no telão, e meu olhar desvia sem que eu ao menos perceba.

Eu não me importaria de você ser minha estrada para o inferno.
Como você pode pensar isso Elôah? Você está dentro de um encontro cristã.

E droga, ele toca incrivelmente bem.

Eu não me importaria mesmo.

70x7, Lembra?Onde histórias criam vida. Descubra agora