Capítulo 5

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Para qualquer outro espectador deste e de um outro qualquer combate, isto não passa de uma normalidade, o que na realidade também o deveria ser para mim, mas não é e não sei dizer porquê, mas sinto-me agonizada ao ver a figura em que está o rapaz do chapéu, quase deitado no chão com as costas arqueadas e uma das mãos a pressionar o corte provocado pela força do soco do adversário.

O meu coração só descansa e consigo obrigar-me a sentar, quando Nathan arranja forças para se levantar do chão e larga a ferida, deixando o pouco sangue escorrer lentamente. Coloca-se em posição de defesa e depois de ser vítima de mais um ataque no ombro direito, consegue defender-se do ataque seguinte e acaba por soquear John, repetindo o movimento inúmeras vezes até este se encontrar no chão, mostrando-se rendido e assegurando a vitória ao homem da casa.

Seguem-se uma data de uivos e felicitações pelo bom combate de hoje e pela vitória merecida mas que acabam por desvanecer à medida que Nathan me arrasta, com a mão esquerda que se encontra livre de qualquer luva de boxe, até às casas de banho, balneários ou o que quer que aquilo seja.

- Tu devias, ao menos, limpar isso. - Digo, ao vê-lo sentar-se no banco e tentando ignorar o facto de se encontrar de boxers por estar a trocar os calções pelas calças.

- Não me lembro de te ter perguntado nada. - Responde amargamente.

Mesmo tendo noção das consequências que isto pode vir a ter, vou buscar um grande pedaço de papel e molho-os razoavelmente num lavatório perto da entrada do balneário e, reticente, aproximo-me dele, sentando-me a poucos centímetros do rapaz.

- Não te metas Olivia, deixa isso como está. - Resmunga Nathan ao aproximar o papel da ferida. Olho para ele como que a pedir por favor e ele acaba por ceder. - Despacha-te.

*

Começo a assustar-me com tantos sentimentos em tão pouco tempo, eu não sou assim. Não faz sentido, não consigo arranjar respostas a qualquer pergunta que me passe pela cabeça neste momento. Não posso deixar que quem quer que seja consiga mudar quem eu sou, por mais assustador que seja... ou querido... ou rude.

Desejo saber o que é que ele está a pensar ao olhar discretamente pelo canto do olho para o banco do condutor, onde Nathan conduz sereno e inexpressivo. Gostava de saber se está a pensar no mesmo que eu ou se está a pensar em quão patética me torno por tentar ser simpática com quem nada quer de mim ou se está a pensar no que eu posso estar a pensar ou se está a decidir o que fazer comigo (tanto quanto sei, pode ser inofensivo – o que não me parece – como um assassino qualquer em série, o um pedófilo disfarçado ou um violador; tanto quanto sei pode ser isso e bem mais).

Permanece um ambiente de silêncio até chegarmos perto da EF Academy e ele segue em frente alguns metros depois, confirmando as minhas suspeitas sobre ser a mesma estrada que dá acesso ao colégio.

O rapaz para o carro mas não desliga o motor, informando de forma implícita que provavelmente não vai sair do carro. Sendo assim, abro a porta e pouso o acessório escuro que lhe pertence em cima do banco de pendura, apercebendo-me que o mantive comigo este tempo todo e nem me apercebi. Coro ligeiramente e desvio a cara para que não perceba à medida que a porta do carro se fecha atrás de mim.

- Até mais tarde. - Oiço antes de ouvir o carro arrancar pela 500 Columbus Ave.

Agora é só rezar para que me lembre ainda do caminho que me fez percorrer por entre árvores, arbustos e afins, e rezar para, mais uma vez, não romper nenhuma parte do meu outfit ao passar pelas grades. Ah, e claro, para não ser vista a fazê-lo, muito menos depois do recolher obrigatório.

OliviaOnde histórias criam vida. Descubra agora