Há males que vêm para o bem

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*Piii piii piii piii piii*

"Merda!"

Adoro o som do despertador às 5 da manhã todos os dias, não há maneira melhor de se acordar!

Meu dia começa assim todos os dias aqui em Marte, com o som irritante e a luz se acendendo automaticamente depois do quinto piii. Já se foram três meses e eu ainda não me acostumei.

Na verdade eu poderia acordar mais tarde, mas preciso me manter em forma, já que a gravidade aqui é mais ou menos um terço da que temos na Terra, por isso acordo cedo para me exercitar. Como estamos em cinco pessoas e numa base móvel, só tem duas bicicletas, e bem compactas para caber no pequeno cômodo chamado de academia. Apesar de nossos trajes de trabalho externo serem pesados, que ao combinar com a gravidade de Marte ficam mais pesados do que nossos pesos na Terra, ficamos mais tempo dentro da base, com roupas leves, então nós temos que nos exercitar uma vez ao dia por pelo menos uma hora, para que nossos corpos não percam massa muscular. Além disso, as bicicletas produzem energia para o gerador, para os casos em que ficamos sem, quando temos as famosas, e comuns demais pro meu gosto, tempestades de poeira e radiação.

Me levantei saindo de meu cubículo, que é chamado de quarto mas mais parece uma lata de sardinha de tão pequeno, e fui ao banheiro fazer a higiene matinal.

Na base móvel tudo é pequeno, parece um ônibus terráqueo, só que um pouco mais largo. Existem duas pequenas salas de entrada, sendo uma delas para nos livrar das radiações marcianas e a outra para tirarmos nossos trajes espaciais, segunda pele e apetrechos antes de entrar de fato na base, livres de qualquer contaminação. A sala e a cozinha vem logo depois, há um dormitório com seis quartos (ou também chamados de bunk), ao fundo um closet e um banheiro coletivo, com chuveiro. O laboratório e a academia são as outras áreas, além da sala de controle do veículo e a central de comunicação com a base principal lá na frente.

Depois de me lavar e me trocar, estava pronta para a academia. Nossas roupas internas eram todas cinzas com o símbolo da NASA, e ficavam em nossos respectivos armários com nossos nomes. A gente não precisa ficar na moda aqui, eu entendo, mas eu já estou extremamente enjoada dessa cor.

Pra dizer bem a verdade, eu não acordaria tão cedo só para ir me exercitar, existe uma outra razão. E ela está lá, neste exato momento, em uma das bicicletas.

Entrei na sala fechando a porta atrás de mim e acenei com a cabeça para Camila, que estava com seus fones de ouvido. Ela acenou de volta e continuou concentrada em seus movimentos. Eu sentei na bicicleta que estava ao lado e comecei a me exercitar também.

Eu não escuto música enquanto me exercito, gosto de ouvir a respiração ofegante de Camila, essa é minha música preferida.

Sim, eu sou completamente apaixonada por ela, desde o primeiro momento em que a vi, há quase cinco anos. E não, ela não sabe.

Conheci Camila na faculdade, eu estava no segundo ano do curso de geologia da faculdade da NASA e Camila estava no primeiro ano de astrofísica. Lembro como se fosse ontem o dia em que nos conhecemos.

"Vocês ficaram sabendo da novata que não fez o colegial aqui? Dizem que ela tirou a nota máxima!" Uma das meninas de minha classe disse.

"Sério? Uau, ela deve ser mais nerd do que a gente, será que é bonita?" Um menino perguntou.

"Daqui a pouco ela passa por aqui, Ally está mostrando a faculdade à ela." Ela respondeu.

Eu ouvia a conversa dos meus colegas atenta e curiosa, era incomum alguém que não estudou no colegial da NASA entrar em algum curso universitário daqui, era uma missão quase impossível pelo nível de dificuldade. Eu estudei aqui minha vida inteira, e 99% dos alunos estudaram pelo menos o colegial aqui, já quem veio de fora é muito raro.

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⏰ Última atualização: Jul 11, 2017 ⏰

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