You saved me || Kim Seokjin

02 - Lembranças

Sinto as mãos de minha mãe tocarem minhas pernas que tremiam pela ansiedade. Estávamos no hospital do câncer aqui da cidade e em poucos minutos o nome da minha mãe iria ser citado por uma das enfermeiras, hoje é o dia em que ela vai receber o resultado dos exames e claro que não pude deixar de ficar nervosa.

⁃ Kyung-Soon! Para de ficar tremendo as pernas desse jeito, até parece que é você que vai receber os exames - ela sussurra me encarando com os olhos semicerrados.

⁃ Mãe, sabe-se lá o resultado desse exame, é claro que estou nervosa - respiro fundo tentando me acalmar e volto minha atenção a ela que sorria pra mim.

⁃ Quem é pra estar nervosa sou eu, Kitty - ela deixa uma risada baixa escapar - vai ficar tudo bem, meu anjo - ela segura em minha mão entrelaçando nossos dedos.

⁃ Mas... E se o médico confirmar mãe? - mantive meu olhar sobre ela que estava calma olhando para a porta do consultório, esperei mais alguns segundos por sua resposta, mas não obtive nenhuma.

Antes que ela pudesse responder, a porta do consultório foi aberta revelando um homem que provavelmente tinha seus 49 anos, cabelos grisalhos e um tanto alto. Ele segurava uma folha e olhava atentamente pra mesma, provavelmente seria a lista dos pacientes. Logo atrás dele saiu um casal que estavam visivelmente abatidos, o médico desviou sua atenção do papel e olhou para os pacientes que estavam aguardando pelo resultado do exame.

⁃ Park Juliet - sua voz grave ecoou naquele local enquanto ele procurava com o olhar o paciente que acabou de ser chamado.

⁃ Sou eu! - minha mãe se levanta calmamente e se vira pra mim com o sorriso de sempre no rosto - Não quer mesmo me acompanhar?

⁃ Não estou com forças suficiente - falo abaixando minha cabeça e brinco com a barra da minha saia.

⁃ Tudo bem, eu entendo - sinto um beijo ser depositado em minha cabeça e ergo o olhar vendo minha mãe caminhar até a sala de consulta.

Tendo passado exatamente 15 minutos, me levanto ansiosa e fico andando de um lado para o outro percebendo alguns olhares sobre mim, paro aos poucos por conta do constrangimento e caminho calmamente até a porta do hospital me encostando no batente da porta. Cruzo os braços e sinto a brisa da manhã bater em meu rosto, estava nublado em Seul, um clima perfeito para tomar um bom café expresso. Meus pensamentos aleatórios foram afastados ao sentir uma mão passar calmamente sobre meu ombro.

⁃ Hoje está nublado por aqui não acha? Que tal um café bem quentinho com alguns biscoitos doces? Eu sei que você ama um clima assim... - ouço a voz serena de minha mãe e sorrio desviando meu olhar para ela.

⁃ E café, claro - entrelaço nossos braços saindo daquele hospital junto com ela - Não me conte nada até lá.

Fizemos uma boa caminhada até o local, jogando conversa fora e tentando começar assuntos aleatórios para que eu ficasse calma para receber a notícia. Entramos no local que tinha um ar aconchegante com uma linda decoração, havia poucas pessoas no local, o que era perfeito pra mim. Procurei uma mesa mais afastada de todos e me sentei nas poltronas junto com minha mãe, fizemos nossos pedidos e ficamos nos encarando por alguns segundos até os nossos pedidos chegar.

⁃ E então? - falo logo após a garçonete se afastar e cruzo os braços mantendo o olhar em minha mãe.

⁃ Acredita que o médico me chamou pra sair? - ela deixa uma risada baixa escapar e beberica um gole do seu café. Ela tira da bolsa seu exame colocando o mesmo sobre a mesa, depois de míseros segundos ela toma coragem e aproxima os papéis pra mim.

Observo o papel em minha frente e respiro fundo antes de ler, passo a primeira folha e ignoro algumas palavras e desço meu olhar logo abaixo onde dizia o resultado do exame que havia confirmado o câncer em minha mãe, levo minhas mãos trêmulas até minha boca e tento de alguma forma controlar o choro, mas era quase que impossível. Senti meus olhos arderem e algumas lágrimas rolarem em meu rosto, olho pra minha mãe e nego com a cabeça várias vezes.

⁃ Eu não quero te perder. Mãe eu vou te perder? Me diga que não por favor. - sussurro tentando controlar minha voz embargada.

⁃ Kitty, você não vai me perder? Ouviu bem? Vamos sair dessas juntas, vamos chegar até o fim. Você não vai me perder! - ela disse firme e veio se sentar ao meu lado me dando um abraço apertado em seguida.

⁃ O que vai ser de mim se eu te perder mãe? - falo deitando minha cabeça em seu ombro deixando as lágrimas rolarem livremente.

⁃ Pare de falar besteira minha filha, eu ainda vou ver você casada, ainda vou ver meus netos correrem alegres pelo jardim. Ainda temos um futuro, isso não é nada - ela sussurra enquanto passava as mãos em minhas costas carinhosamente.

⁃ Mas câncer não tem cura, não é isso que dizem? - aos poucos vou controlando meu choro e crio coragem para olhar em seus olhos.

⁃ Tem pessoas que conseguem reverter toda a história e uma delas somos nós. Tudo vai ficar bem meu amor, porque o amor sempre vence tudo, a vida é mais forte. Kyung, isso tudo vai passar.

⁃ E vamos passar por essas juntas - falo limpando as lágrimas e tento ficar firme.

⁃ Juntas, como sempre.