Parte 1

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 Relembrar é... Viver?

A cidade de São Tristão estava passando por um dia abençoado: os raios de Sol batiam nas variadas árvores e flores do infinito jardim que corria de um canto ao outro de sua região. No canto sul, conhecido pelos seu mercado popular com as mais variadas opções de souvenir e arranjos botânicos, havia um pequeno bar. Era composto por uma pequena porta de entrada e um segundo andar com uma varanda elegante e espaçosa. Nela, uma mesa de mármore fino e entalhado, com copos com alça largos e cheios de Arri e algumas garrafas vazias do mesmo líquido. Ao redor dela, era possível encontrar três rapazes rindo alegremente, batendo um de seus copos na mesa.

"Aí você acordou, né?" de voz grave e sotaque carregado com pigarros, o maior dos três ria enquanto se dirigia para o que parecia ser o mais novo do grupo. "Sabe, Max, você sempre tem alguma mentira boa para nos contar, mas essa sempre me surpreende" disse e voltou a beber de seu copo de maneira beirando o selvagem, o que fazia a espumada Arri escorrer por seu peito flácido e repleto de pelos, semi coberto por um colete de couro adornado com ossos e presas.

"Ifesto tem a razão aqui, Gilead. Você poderia pelo menos se esforçar em fazer essa história ser mais plausível, cara. Chega a ser ofensivo" adicionou outro rapaz, este era esguio e tinha uma franja loira grande ao ponto de ser incomoda só de encarar. Vestia uma camiseta branca com gola levantada e uma calça apertada feita de jeans, ambas peças imaculadas.

"Olha rapazes" finalmente disse o terceiro rapaz, vestido com uma camisa semi aberta xadrez vermelha e verde, enquanto levantava sua caneca transbordando. "Vocês me pedem uma história, eu dei uma história. Ou vocês querem ficar discutindo trabalho no nosso único momento de descanso? Sejamos razoáveis, sim?" tornou a rir e beber seu Arri. Tirou um cigarro do bolso e o acendeu com um estalar de dedos enquanto sorria com os braços em sinal de o que querem que eu faça?

"OK, se o tópico são histórias, por que você não começa nos mostrando seu conhecimento e sua memória, huh?" disse Ifesto, o grandalhão com piercings e moicano. "Como foi sua primeira missão com o príncipe charmoso aqui?" deu uma cotovelada no colega loiro ao lado e novamente riu alto.

"Acredito que não é hora para esse tipo de assunto, grandão" foi a resposta.

"Estamos a caminho de nossa maior missão juntos, nos três, e você não quer que eu saiba como era o laço entre vocês? Por acaso não lembra que o mais importante antes de todo é qualquer círculo é a união dos astros?" a cada palavra, Ifesto forçava mais sua melhor voz didática e de professor chato. "Aposto que até o Kass concorda" e olhou para o bem vestido colega, que agora fechou a cara e se mantinha em silêncio. "O que acha, Kass?"

"Ele tem razão, Gilead. Conte pra ele, acredito que temos tempo o suficiente para essa última história. Só tente não mentir ou enrolar, ok?" era seco o tom de sua voz.

Maxwell Gilead encheu novamente seu copo e bebeu metade dele em um só fôlego. Respirou e então começou sua história.

"Kass e eu éramos amigos de academia há alguns anos. E antes de encontrarmos você, como você bem sabe, tínhamos Hegel como terceiro elemento do nosso círculo".

"A irmã do Kass, huh?" interrompeu o grandalhão.

"Exato. Enfim, fomos enviados para uma parte da cidade baixa para encontrar um mago que pelo visto tinha ficado insano e deveríamos trazer ele para Líon."

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O barulho de aerocarros aos montes se misturava com o motor e o atrito das rodas do trem enquanto freava. Maxwell foi o primeiro a descer, vestia uma camiseta branca com uma jaqueta de couro com gola decora com plumagem, o tipo que pilotos de caça usavam, e carregava no rosto um sorriso nervoso e forçado. Atrás dele veio Kass von Grav, seu amigo de infância, com um sueter preto com gola em V e calças manchadas. E então Hegel se juntou a eles: à distância você não diria que ela é a mais nova do círculo. Uma mulher de 1,79 com cabelos negros e encaracolados agora desgrenhados vestida com uma blusa que deixava mais de um palmo de sua barriga pra fora acompanhada de calças rasgadas. Seu cabelo não escondia seu rosto, nele havia uma mancha escurecida vindo do couro cabeludo e sumindo pelos seus ombros para dentro da pequena peça de roupa.

"Eu odeio o cheiro da cidade baixa, juro" reclamou Kass enquanto cuspia no chão. Ao levantar o rosto sentiu o mesmo esquentar levemente após um estalo causado pelo choque da mão de Maxwell com a pele de sua bochecha. "Qual é?!"

"Você quer mesmo um monte de jornais em Paradiso falando sobre como o pessoal daqui ouviu gente falando sobre uma tal cidade baixa e fazendo teorias novamente sobre a cidade alta? Isso na nossa primeira missão?" ele murmurava e arqueava as sobrancelhas.

"Max tem razão, você sabe bem, mano. Não que ele esteja fazendo a parte dele vestido como um figurante de Top Gun" Hegel então levou a mão à boca para esconder o riso. Os dois garotos olhavam pra ela com um olhar de desaprovação, mas o silêncio demonstrava que concordavam. "Ok" disse ela se recompondo quase que de imediato "precisamos chegar à lavanderia da 22 e pegar o carro que deixaram lá pra nós e então ir à casa noturna que fica na 56".

Ficaram ali, na plataforma alta da estação de trem, abaixo dos milhares de aerocarros e à sombra de prédios escuros cheios de janelas que refletiam outros prédios como este.

Hegel fez um sinal impaciente olhando para seus companheiros que se entreolharam. "Só isso?" Gilead quebrou o gelo.

"É. Só isso. Na casa noturna apenas que receberemos mais informações. Vocês não estavam na reunião sobre a missão?!" a resposta foi outro cartunesco momento dividido pelos dois amigos de infância. A reação de Hegel foi uma desapontada - porém não surpresa - baforada de ar quente pra cima. Em passos rápidos e fortes atravessou a barreira que os dois formavam em sua frente e os levou consigo puxando irmão e amigo pelas roupas.

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O Caminho Do MagoOnde histórias criam vida. Descubra agora