Tinha se passado uma semana quando passamos a sentar juntos e não conversávamos muito.
Mas claro que tinha excessões.
- Yuki.
- Que foi, idiota? - Doce como o coice de uma mula.
- Preciso de ajuda.
- Se vira.
Revirei os olhos. Chato.
- Por favor. Eu te dou... Um pão com karê.
Vi ele pensar um pouco, acho que fiz uma boa proposta.
- Não. Não quero seu pão imundo.
- Mas eu vi você pensar!
Ele bufou e olhou nos meus olhos. Aquele cinza parecia penetrar no fundo da minha alma.
- Você vai me dar um pão de karê, e me trazer um bolo de morango.
Lá se vai meus 650 yen.
- F- fechado.
Ele se virou pra minha mesa, e me explicou o assunto.
Na hora do almoço, gastei todo meu dinheiro no maldito bolo de morango e no pão com karê. Não tenho nada pra comer hoje. Droga.
- Toma a droga do seu bolo, e claro o pão "imundo" - Dei ênfase na frase com uma voz forçada. - Idiota.
Coloquei a sacola na frente do rosto dele e esperei ele pegar.
Ficamos sentados juntos no terraço.Estava morrendo de fome. Meu estômago roncou muito alto, e meu rosto esquentou. Deitei e virei pro lado contrário dele.
- Ta com fome? - Ele perguntou
- N- não!
- Sua idiota... Podia ter pego um pedaço. Toma, eu não comi o bolo.
- O acordo era os dois pra você me ensinar.
- Deixa de ser teimosa!
Ele foi me levantar a força e quando a mão dele tocou na minha cintura, me arrepiei. Sentei por reflexo.
- Come!
Eu olhei pro rosto dele, me olhava com o rosto sério.
Peguei o bolo da mão dele, não se passou nem dois minutos e o sinal para irmos para sala tocou. Fui me levantar e ele me puxou de volta pro chão.- Não tem problema chegar 5 minutos atrasada. Eu vou ficar aqui mesmo. Só come rápido.
- Vai matar aula?
- Vou, e se eu sonhar que você contou pra alguém, você vai se ver comigo.
Assenti e comi o bolo o mais rápido possível. 13:33. Okay preciso correr.
- Tchau, idiota!
Ouvi ele bufar. Olhei para trás e vi ele deitar e ficar olhando pro céu. Parei de correr e me virei. Talvez eu devesse ficar... Suspirei. Okay, vamos matar aula. Andei até ele, sendo encarada de canto de olho pelo mesmo. Me sentei do seu lado.
- O que foi, Sakê?
- Não me chame de Sakê! E eu resolvi ficar, não te devo satisfação.
Me deitei do lado dele, olhei o céu e fiquei encarando as nuvens, imaginando formas.
- Por que você é tão... Fechado?
- Por que você não cala a boca?
Encarei ele.
- Será que dá pra gente conversar sem discutir, idiota?
Ele revirou os olhos e me encarou sério.
- E sobre o que você quer conversar?!
Pensei um pouco, desejando que algo viesse em minha mente. Nada.
- E- eu... - Ele continuou me encarando e deu um sorriso irônico. Quando ele estava prestes a me dar uma resposta, o interrompi. - Do que você gosta de fazer?!
- Se esforçou tanto pra isso? Não somos compatíveis. É tão difícil de entender assim?!
Ele virou o rosto para o céu, e fechou os olhos. Ficamos em silêncio, nenhum de nós quis continuar a conversa. Aliás, nem eu entendo o porque de querer conversar com ele. Definitivamente não sei.
Ao invés de olhar pro céu, fiquei observando a respiração dele se regularizar, até que ele dormiu, ele tinha uma expressão serena no rosto, não transparecia ser aquele ser irônico, sarcástico, grosso e sádico ao meu ver.
Pensei várias vezes antes de me aconchegar no seu peito. Passei minha mão em sua boca, nariz, bochechas... Tão bonito. Minha mão foi ao seu pescoço, e me assustei ao vê- lo arfar. Parei por alguns segundos e levei a mão ao seu cabelo e me surpreendi ao ver que era tão macio, fiquei reparando em cada detalhe do rosto dele.
Espera um pouco...
Ainda é o Yuki! O que diabos eu estou fazendo?!
Me afastei dele bruscamente, vi ele se mexer resmungando alguma coisa inaudível.
Deus, pelo amor de você mesmo, não acorde esse menino!Me deitei novamente, só que em uma distância consideravelmente grande, pensando no porquê de ter feito aquilo, meu coração acelerava pelo susto que eu me dei. Pensei, pensei, pensei e ao não achar a resposta acabei adormecendo.
Quando acordei, não vi Yuki. Olhei pro céu, já ia ficando alaranjado. Ah não. Peguei meu celular e olhei as horas, 17:36.
Corri. Corri como se não houvesse amanhã. Peguei minha mochila na sala e corri mais ainda. Cheguei no portão, fechado. Okay, você tá presa na escola, pense no que pode fazer. Peguei meu celular e olhei meus contatos.
Ninguém que poderia me ajudar. Olhei pro portão, alto, mas dá pra pular. Joguei minha bolsa, e rezei para que ninguém passasse. Eu estava de saia. Como diabos eu vou escalar esse portão?!
Coloquei um pé na grade, e fui subindo desajeitadamente. No topo do portão tinha pontas que pareciam algumas flechas. Passei um pé pro outro lado, e puxei o que continuava do lado de dentro. A flecha acabou cortando um pouco da minha perna, não foi fundo mas também não foi superficial. Dei um grito um pouco alto, merda. Desci do portão com dificuldade. Fiquei tonta por um momento quando vi o sangue escorrendo pela minha perna. Sangrava mais do que pensei.
Preciso cuidar desse machucado. Fiz as contas, a casa do Yuki era mais perto e ainda eu podia matá- lo por não ter me acordado. Respirei fundo e andei em direção à casa dele.
Minha perna não parava de sangrar e minha visão ia ficando turva. Que belo dia, mato aula, fico admirando meu inimigo, fico presa na escola, corto a perna, vou para a casa do meu maldito Yuki e estou quase desmaiando. Que dia perfeito!
Meu corpo foi pesando, mas eu precisava chegar lá. Me mantenha acordada pra chegar na porta pelo menos.
Andei mais um pouco, não tinha mais forças para levantar a perna. Só mais alguns passos e eu chegava na casa. Saki, seja forte por favor.Dei um soco na porta o mais forte que eu pude antes de desabar.
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Furacão
Teen FictionConheci ele quando tinha 13 anos. Com 15, nos reencontramos. O Furacão é Yuki Takahashi. Eu o odeio. Odeio quando me chama de Sakê. Odeio mais ainda quando meu coração insiste em acelerar.