| p r ó l o g o

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Antes de tudo, gostaria de dizer que bancar o cupido nunca fez o meu tipo. Na verdade, nada muito meloso se liga ao meu tipo. Talvez, em parte, isso se deva a minha mãe que me batizou com o nome de uma das maiores autoras de livros de romance policial, fazendo-me crescer obcecada pelos livros de Agatha Christie e toda a sorte de conteúdos semelhantes.

Sendo assim, não tive tempo para aprender o que a maioria das garotas aprende sobre o amor e sobre todas as outras coisas como batons, blushs e sapatos de salto. Ao invés disso, eu comecei a colecionar características peculiares para uma garota. Coisas como: Amar quadrinhos da DC, trocar vestidos caros por uma edição de colecionador de Guerra dos Tronos e substituir, sempre que possível, baladas na noite de sábado por filmes de terror e suspense.

Entretanto, não sou apática ao romance. Não mesmo. Uma vez até gostei de um garoto. Estava na segunda série, mas percebi que era uma grande ilusão quando ele rasgou minha amada pelúcia do Frajola no recreio. Não é preciso dizer a forma desastrosa como meu primeiro amor terminou quando eu o atirei no chão e pulei nas costas dele, puxando-o pelos cabelos lisos. Fiquei de castigo por três semanas, mas vinguei meu pobre Frajola.

Os anos se passaram e eu descobri que preferia apreciar os romances de uma distância segura à vivê-los em minha própria pele. Por observação, aprendi que coisas do coração eram complicadas e podiam fazer as pessoas perderem a paz. Por isso consegui um pouco de espaço para os romances na minha literatura e decidi mantê-los apenas nessa parte da minha vida enquanto buscava me focar em objetivos sólidos como entrar para a faculdade de jornalismo.

De leitora assídua, tornei-me também escritora e consegui espaço no jornal online da escola quando ainda estava na sétima série. Meu empenho me levou ao cargo de editora chefe assim que entrei no ensino médio e eu passei dois anos dando o melhor de mim para tornar o site quase nunca visitado em algo "decentemente" visitado. Para o meu último ano ser fechado com chave de ouro, eu planejava entregar um jornal interessante, manter boas notas e conseguir uma média impecável no exame nacional que me levaria direto para a universidade federal.

E tudo poderia ter dado certo, sem drama algum, se eu não tivesse dado ouvidos ao pedido de Victória naquela sexta feira. Se eu não tivesse assumido o cargo de cupido, não estaria tomando milk shake de morango sem minha melhor amiga. Se eu não tivesse enviado aquela mensagem infeliz que fez com que minha cabeça se tornasse o prêmio do garoto mais popular da escola, Vinícius Ottaviani não estaria saindo pela porta agora enquanto eu lidava com o que sempre tentei evitar: um coração partido.

As vantagens de não ser beijadaOnde histórias criam vida. Descubra agora