capítulo único

217 28 89
                                    




Min Yoongi abriu o mapa, velho e esquecido, marcado por carinhas felizes e marca-texto rosa. Tocar, com suas mãos pálidas e trêmulas, um pedaço morto de sua vida fora difícil para o jovem.

A senhorinha, sentada ao seu lado no vagão do trem vazio, gentilmente observava-o. O menino guardava oceanos dentro de seus olhos afogados em melancolia. Costumam dizer que nossos os olhos são as janelas da alma e se isso for verdade, a alma de Min está morrendo agoniada e sufocada pela dor de algo. A verdade é: seu espírito sofria de amor por Park Jimin.

O garoto de cabelo esverdeado desviou o olhar do papel, onde poderia-se ler "Viagem Minimini" escrito com uma linda caligrafia na borda do mapa, para os borrões verdes e amarronzados que se viam da janela. Assim como o trem, seus pensamentos corriam rápidos e fragmentos de memórias o assombravam.

A natureza era linda e, de certa forma, fora Jimin quem ensinara Yoongi a saber apreciá-la. Antes o garoto não conseguia ver o mundo de maneira positiva. Quando observava rosas pintadas por um vermelho vívido, via somente seus espinhos venenosos. Quando observava o sol brilhar, pensava nos pequenos agricultores sofrendo de seca e desejava a chuva. No entanto, quando esteve ao lado da mais bela flor, em contato com suas pétalas ruivas e folhas delicadamente suaves, Min conseguiu. Min conseguiu lidar com o mundo. A amar as partes que antes ele pensava não existir.

Sua ternura por Jimin preencheu seu coração e iludiu-o a ponto de ignorar o jardim morto e a terra infértil dentro de si, prestando atenção somente nos narcisos amarelos crescendo quando seus lábios tocavam o doce Park. Yoongi pensava que, provavelmente, o garoto ruivo fosse o impulso que fizesse seu coração bater. Jimin o fez viver.

Min Yoongi fingia pensar em outros assuntos, mas tudo acabava em um mesmo lugar como uma roda gigante e o de cabelo esverdeado estava preso a ela. Ele ia ao pico, com o medo palpitando em seu peito, e a vontade de pôr para fora todo alimento, toda tristeza, toda saudade, toda solidão, de vomitar todas suas células e se desfazer por completo, sempre vinha e agora ele não tinha mais os narcisos amarelos de Jimin para afogar-se no cheiro de aconchego.

O oceano acabou transbordando. A tsunami, criada por tempestades dentro de sua alma, que destruíam todo seu sistema, derrubou sua falsa estabilidade. Lágrimas saíam apressadas de seus olhos e a melancolia expelia-se de dentro para fora, decorando todos poros do rosto de Min, o fazendo brilhar de vergonha e desonra. Seu espírito abriu as janelas dos olhos.

"O que há de errado?", a mulher ao seu lado, aparentemente, por volta de seus setenta anos se sentiu angustiada ao ver o jovem chorar e precisou acabar com aquela curiosidade impaciente que passava.

O garoto pálido não a olhou. Estava se sentindo humilhado. Em seu rosto pensava estar exposto toda sua fragilidade. Uma massa de vulnerabilidade preenchia suas bochechas vermelhas e Yoongi tinha total noção que se mexesse qualquer músculo ali no momento, quebraria. E ele não era capaz de parar com as lágrimas. Min estava desamparado e agora não tinha mais os narcisos amarelos de Jimin.

"Me apaixonei por um bailarino". Min Yoongi balbuciou. O jovem resolveu conversar, o que traria de mal desabafar com alguém? Ele tinha certeza de que nunca mais veria a senhora na vida e de que já tinha sido exposto. Seu choro não iria simplesmente voltar para seus olhos mortos, incapazes de levar novas informações ao cérebro de Min, fazendo-o voltar sempre às lembranças de Park segurando sua mão, dando a impressão à Yoongi de seu mundo ser aquilo, ser o sentimento de segurança que Jimin trazia. As memórias não o deixavam vivo. Elas matavam o garoto.

Min Yoongi abriu seu coração congelado para ela. Contou-lhe a razão de suas lágrimas frias e transparentes, como sentia-se o jovem para o mundo naquele momento. Estavam no trem regional de origem Budapeste e destino Viena e a viagem duraria cerca de quatro horas. A senhora, latina, e Min, coreano.

NARCISOS Onde histórias criam vida. Descubra agora