O friozinho de julho chegara. Época boa para sair das árvores, pegar um busão e dar um rolê pelo shopping.
Sinceramente, eu tava meio cansado pela manhã. Mas precisava colar no cineminha de qualquer jeito, então desci da árvore de cabeça, pra dar aquela despertada.
Para variar, tava todo de preto, com o cabelo ensopado de óleo e caspa. Executei minha urina matinal, respeitando o território dos cachorros locais, e já engatei e fiz a obra.
Como eu sou meio zen, não tomo café da manhã. Pratico uma rápida meditação e deixo a energia do ambiente -- a minha floresta levemente gelada -- preencher os vazios do estômago.
Sem mais delongas, deixei um pouco de terra para o meu cachorro -- que tá só o esqueleto há anos -- e fui para o ponto de ônibus.
Hoje em dia, como a tecnologia tá avançadíssima e a economia tá boa até, os busões são divididos. A galera do meu gênero, então, acaba ficando num busão maior e mais ajeitado. Já vou explicar o motivo. Pera eu entrar aqui.
Então, nos busões naturais, a rapeize paga com sangue, mas aqui o naipe é diferente. O pessoal da minha região descobriu que a valsa -- quando valsada em par -- gera uma energia atômica que é dez vezes mais potente do que a adquirida através do sangue, que é queimado através dessas máquinas de alta tecnologia.
Nós temos o ritual de iniciação, os pares se localizam através do encontro de olhares, e se sentirem a conexão, fazem uma gesticulação em curvas com a mão direita, como se estivessem desenhando uma serpente no ar. Geralmente, gosto de valsar com as donzelas de cabelos brancos, mas havia uma morena de olhos escuros que estava me fitando de maneira especial. Não demorou para que executássemos a gesticulação, daí ambos levantamos e nos aproximamos.
