"Nossas lembranças nos fazem quem somos. Se eu não às tiver então quem serei?"
Meu peito batia aceleradamente enquanto eu andava pelos corredores do colégio, um misto de medo e realização ecoava em minha mente, senti um vento gelado assim que passei pela janela da sala 12. Com certeza estávamos em pleno alto inverno, mas por que estava usando roupas de verão?
Entrei na sala de aula com a cabeça mais erguida possível, olhei a minha volta e percebi que aparentemente não conhecia ninguém, uma garota me olhava com olhos suplicantes e um sorriso triste enquanto outras duas a encurralavam contra parede. Nossos olhos se cruzaram e percebi que seu rosto, entre os outros, era familiar, queria lembrar de onde a conhecia mas minha cabeça latejava em minha vã tentativa. Ela também usava roupas de verão, o cabelo estava preso e ela tentava ao máximo manter a postura mesmo com as duas maiores praticamente avançando sobre ela.
__ Não tente enganar a si mesma. Todas nós sabemos que você não é a vítima.- a menina de cabelos longos e ondulados acusou com dedo apontando para o rosto da menor.
Por um ato impulsivo, tomada de raiva, a menor que antes se mantinha encolhida contra a parede assumiu uma postura destemida e andou a passos lentos até sua acusadora.
__ Já que você sabe tão bem que não sou nenhuma vítima me diga: que pecado tão grave cometi a ponto de merecer tal punição? - a garota indagou olhando fixamente nos olhos da maior que logo desviou o olhar abaixando a cabeça. - Então, voltando ao que eu dizia, parabéns Irie por ser o monstro responsável pelos piores momentos da minha vida. Agora se me der licença, acho que não tenho mais tempo para você.- a menina saiu a passos largos e rápidos, ela parecia assustada e assim que saiu da sala correu o mais rápido que conseguiu até a saída.
No instante em que ela passou por mim senti minha cabeça latejar, minhas pernas não sentiam o chão sob elas, tudo escureceu e senti um forte aperto no peito. Só então percebi que o rosto da menina só era familiar porque era o meu rosto.
Tentei seguí-la porém meu corpo me forçava a manter-me no lugar. Senti lágrimas rolarem pelo meu rosto mas não tentei contê-las, me esforçava tanto para me levantar que o suor se misturava às lágrimas. Me sentia sufocada, meu coração acelerava um batimento a cada segundo, queria saber o que havia acontecido mas meu subconsciente implorava para que não o fizesse. Quado me senti completamente sem forças, parei de resistir e deixei meu corpo cair pela escuridão.
Acordei desesperada, enquanto minhas lágrimas inundavam todo o quarto, lembranças horríveis me faziam sufocar. Eu estava confusa e isso só piorava as coisas. Peguei o celular na cabeceira da cama e nele marcavam 3:30 da manhã, desliguei o telefone e pus de volta sobre a cabeceira.
Naquela noite, por várias vezes tentei dormir porém o máximo que conseguia eram 5 minutos de pesadelos. Quando o alarme tocou às 5:00 da manhã, logo me levantei, tomei um banho demorado e saí para caminhar. Tinha esperança de que assim esqueceria aquele sonho ruim como sempre acontecia. Mas a cada minuto que passava eu só conseguia lembrar daquele maldito sonho e chorar.
POV's Akkun
Acordei assustado com o puxão do fio em meu dedo, o nó da última lembrança tentava se desfazer. Estava afrouxando e quando já estava quase desfeito o puxei na vã tentativa de refazê-lo porém o fio era mais forte que eu e o máximo que consegui foi apertar um nó um pouco menor milímetros depois.
Estava certo de que Kim havia recuperado parte das lembranças, provavelmente estaria confusa. Imediatamente peguei o telefone e fones de ouvidos, pus no bolso e desci as escada em direção à garagem onde pequei a bicicleta e fiz o mesmo trajeto que fazíamos para caminhar toda manhã desde que ela chegou em Shibuya.
Eu estava andando pela trilha quando a encontrei sentada na grama junto a uma árvore seca. Caminhei a passos lentos e cautelosos em sua direção me ajoelhando em sua frente. Toquei de leve seu joelho esquerdo fazendo-a levantar o rosto vermelho e coberto de lágrimas.
__ Ei, está tudo bem. Eu estou aqui.-falei a envolvendo em meus braços enquanto secava suas lágrimas com uma das mãos.
__ Akkun-chan, eu tive um sonho esta noite, eu não consigo esquecer. Estou com medo e confusa. Eu sinceramente não sei o que está acontecendo.- ela explicou enterrando o rosto em meu ombro para esconder as lágrimas.
__ Ei Kimmie, olhe para mim- pedi enquanto segurava o queixo da menor fazendo-a olhar em meus olhos.- Eu entendo que você esteja confusa agora mas tente se acalmar e me conte exatamente o que aconteceu.
Ela respirou fundo, desviou o olhar para o chão por alguns segundos, inspirou mais uma vez e começou a falar. Explicou toda a história sobre as garotas de Osaka e o aniversário da tal Irie, foi então que percebi que todas a mentiras que usei para não machucá-las só a faziam sofrer ainda mais. Por um instante pensei em abrir o jogo e dizer que tudo que ela estava passando era por minha culpa mas fiquei com de medo de que ela me odiasse e resolvi manter isso em segredo por um pouco mais tempo.
__ Eu já nem sei mais quem sou, minhas lembranças estão distorcidas e minha mente parece um turbilhão de caos e confusão. - ela terminou mais uma vez enterrando o rosto em meu peito. Envolvi-a em meus braços e fiquei em silêncio por alguns segundos apenas acariciando seus cabelos na tentativa de consolá-la.
__ Kimie, eu entendo o que você está passando. Eu mesmo já passei por isso. Eu sinto muito.- disse tentando conter as lágrimas.
Não suportava ver a garota que amei por tanto tempo sofrer por minha culpa. Eu apenas achei que seria melhor se ela não tivesse que encarar seus medos e traumas, mas pelo visto só a tinha causado mais dor.
POV's Kim
Eu não entendia o porquê Akkun sentia muito, mas de alguma forma me sentia segura ali em seus braços. Era como se por um momento eu me esquecesse de tudo que passei em Osaka e só me lembrasse dos momentos felizes que passei ao seu lado.
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Akaiito
RomanceUm fio invisível que liga às pessoas que estão destinadas a conhecer-se, o fio pode esticar ou se emaranhar mas nunca irá partir.