120 dias

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Florença, Itália, vinte e cinco de maio.

O despertador mais uma vez me acordou, aquela cantiga infernal programada para tocar pontualmente às seis da manhã me tirou de outro lindo sonho.
Onde eu, Meredith Sanders, não era uma completa fracassada.

Bom, eu vivo em Florença, na Itália, me arrisco a dizer que uma das cidades mais lindas e encantadoras do mundo.
Sou uma jovem formada em gastronomia pela Universidade de Florença, e gasto as horas do meu dia distribuindo currículos e fazendo entrevistas pela cidade, onde a frase "Te ligaremos depois" já foi gravada como uma tatuagem em meu subconsciente.

Eu vivo de trabalhos esporádicos, fazendo bolos e sobremesas para eventos, é o que me mantém, isso e a ajuda da minha mãe, já que mesmo preferindo que eu ficasse na empresa da família, ela nunca me deixou desamparada. Em mais um dia de entrega de currículos, e eu já sentia um certo desespero me dominar.

O caso é que, meu pai, Martino Sanders, grande, famoso, bem sucedido advogado e proprietário da Sanders Advocacy, desenhou um lindo futuro para seus filhos, Luigi, Franchesco e eu. Onde nasceriamos, cresceriamos e no ponto em que escolheriamos nosso futuro ele entraria em ação, com um plano traçado. Cursaríamos direito, como ele e minha mãe, a dona Aída, e então assumiríamos a empresa da família.

Um plano perfeito não ? Bom, seria se não fosse por um pequeno problema, essa que vos fala, que nasceria para se tornar a filha caçula, e se juntar aos seus dois irmãos que já trajavam seus paletós e gravatas dentro de um escritório. Mas, não tardou para que eu assumisse o posto de rebelde desertora.

Quando a minha carta da Universidade de Florença chegou a quase 4 anos, eu achei que meu pai na altura dos seus 57 anos de vida fosse ter um treco.

- GASTRONOMIA ? - Ele berrou me encarando enquanto minha mãe tomava a carta de suas mãos para da uma olhada.

Eu passei meus 18 anos até ali, dizendo que não me imaginava trancafiada num escritório, logo eu, que sempre tive um espirito livre, que sempre ficava horas a fio na cozinha inventando novas receitas, e reinventado o que já existia. O pequeno e único erro do meu pai foi não perceber que eu teria a audácia de desafia-lo, a ponto de me inscrever para gastronomia ao invés do tão sonhado direito.

- Gastronomia papai - Lembro-me de ter dito - É o que eu quero fazer.

- Você enlouqueceu - Levantou-se da mesa onde tomávamos chá - Enlouqueceu.

- Gastronomia Meredith ? - Minha mãe perguntou tentando transparecer calma.

- Mãe, a minha vida se resume a cozinhar, e com todo respeito a vocês dois, mas eu não quero e eu não vou viver uma vida frustrada dentro de um escritório pensando em como seria se eu tivesse seguido meu sonho - Meu pai bufou, seu rosto atingia um tom escarlate a medida que sua respiração ficava mais ofegante.

- Uma vida traçada - Ele murmurou - Um futuro promissor e você decide jogar tudo no lixo.

- Um futuro que o Senhor idealizou para mim, imaginou que eu cresceria alienada como meus irmãos.

- Eu acho que vou infartar Aída - Ele arregalou os olhos para mim e apertou a mão sobre o peito.

- Não, você não vai - Minha mãe caminhou até ele - Se é o que ela quer nós não podemos fazer absolutamente nada.

- Obrigado mãe - Sorri vitoriosa, agradecendo a Deus pela sensatez dela.

- Mas, isso não significa que eu apoiei essa ideia maluca - Ela completou - Conversarei com seu pai e nós vamos decidir o que fazer.

120 dias e um amor - Trilogia Dias (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora