Into the Trees

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— Hey, não precisa se preocupar. – HoneyPaw desacelerou o passo, ficando ao lado de Silver. — LightStar é muito justa nos seus julgamentos. Ela com certeza vai deixar você ficar.

— Como assim... ficar?... – Silver balbuciou, decidindo prestar mais atenção na aprendiz ao seu lado. Os olhos de HoneyPaw correram rapidamente para os dois guerreiros à sua frente, a qual tinham uma decisiva conversa sobre a última estação sem folhas. A aprendiz estremeceu as orelhas.

— Ouvi dizer que, uma vez, LightStar previu o futuro de uma batalha decisiva pelo território do Sul. Ela estava certa.

— E o que aconteceu...?

— Não sei direito, mas lembro-me de ouvir que ela tornou-se conhecida como "A Sábia", depois desse dia. Normalmente, quando precisam de conselhos, os gatos da Assembléia sempre a deixam falar primeiro. – a gata malhada possuía os olhos brilhando de admiração. — Deve ser por isso que não mais temos o avanço dos Duas-Pernas na nossa região. Talvez esse tenha sido o motivo da guerra...

– O que é um.. Duas-Pernas?

— Você nunca viu um?... – HoneyPaw miou, exasperada. Silver balançou a cabeça negativamente. — Um Duas-Pernas são seres altos, de pelo fino e que ficam andando nas duas patas traseiras. Eles tem um poder de destruição muito forte... Podem até controlar cachorros!

— Impossível! – Silver estava estupefata com todas aquelas informações. Seus bigodes estremeceram de medo ao imaginar a figura horrenda de um Duas-Pernas.

— Prometo que cada palavra é verdade. – miou HoneyPaw, pulando um riacho à sua frente. Silver achou mais fácil apenas contorna-lo. Continuaram a marcha. — E como se não bastasse, eles ficam andando dentro da barriga de grandes monstros brancos, azuis, vermelhos... Sorte nossa que a maior quantidade deles encontra-se perto do território do Clã do Trovão, que está a várias caudas daqui.

— Clã do Trovão?...

— É um dos clãs da província do Norte. Lá encontram-se vários duas-pernas - até ninhos deles! Como estamos na província do Sul, eles não nos afetam muito.

— Então, basicamente, deve ser mais natural para vocês apenas cumprir com as obrigações de clã...

— Você fazia parte de algum clã? – HoneyPaw indagou, curiosa. Silver pegou-se perguntando a si mesma quais eram suas próprias memórias antes de sentir um forte vento frio e ser encontrada pelos guerreiros do Clã das Árvores.

— E-eu não lembro...

— Jura? Então acho melhor darmos uma passada na toca de CinderHeart para ver se está tudo bem com você...

— HoneyPaw, chega de trocar ideias com a novata. Nós chegamos. – NettleJump aproximou-se das duas jovens gatas, e HoneyPaw acelerou o passo até ficar ao lado de seu mentor. Os dois passaram por dentre uma boca de pedra estreita, coberta de samambaias. O gato malhado foi logo em seguida, fazendo-se desaparecer por completo.

Silver olhou para trás, onde se encontravam altas árvores de folhas densas. O chão de Outono e os raios de Sol pintavam uma bela paisagem na floresta. Ela não tinha para onde ir. Não se lembrava nem da própria identidade.

Sem deixar o medo tomar-lhe por completo, Silver adentrou no acampamento do Clã das Árvores.

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A gata prateada seguiu o leve raio de luz que vinha da saída do acampamento. Silver olhou para baixo e notou que a grama sob suas patas estava achatada, formando uma trilha curta.
Ao finalmente chegar em seu destino, seus olhos puderam brilhar de encanto.

Além dos tojos, abria-se uma clareira. No meio, o chão era de vegetação rasteira, e todo o acampamento era coberto por densas árvores que faziam um teto falho e Improvisado de folhas. A luz do sol penetrava as árvores, e o vento balançava a vegetação.

Havia gatos por toda parte, sentados sozinhos ou em grupos, caminhando ou ronronando calmamente enquanto penteavam uns aos outros.

— Logo depois do sol alto, quando o dia está mais quente, chega a hora de trocar lambidas. – explicou NettleJump.

— Trocar lambidas?.. – Silver repetiu.

— Os gatos dos clãs sempre passam um tempo penteando uns aos outros e conversando. – disse HoneyPaw. — Chamamos esse hábito de "trocar lambidas".

Era evidente que os felinos haviam sentido o odor diferente de Silver, pois as cabeças começaram a voltar-se, curiosas, em sua direção. A jovem gata encolheu-se ainda mais perto de NettleJump. Com repentina vergonha de encarar todos aqueles olhares, Silver decidiu dar uma olhada na clareira. Percebeu uma grande árvore caída mais ao fundo, banhada pelo sol. Haviam outras três tocas dentre arbustos e galhos finos espalhadas pelo local, mas Silver conteu-se com sua curiosidade.

— Ali é o berçário, onde se cuida dos filhotes. – miou NettleJump, agitando a cauda na direção de uma toca com teto de pedras. Ela encontrava-se mais afastada, porém movida mais para a lateral. Silver não conseguiu ver por dentre os joios que cobriam a entrada, mas pode ouvir o miado de diversos filhotes que vinha lá de dentro. Enquanto observava, uma gata dourada surgiu contorcendo-se pela pequena fenda da toca.

— Aquela é uma das rainhas. Elas são responsáveis por amamentar e cuidar dos filhotes de todo o clã, além de seus próprios. – explicou OakFace, cumprimentado respeitosamente a rainha dourada que passara por ele.

— Todos os gatos servem ao clã. – miou NettleJump. — A lealdade ao clã é a primeira lei do nosso Código dos Guerreiros. – Silver o observava confusa, sem entender.

— O Código dos Guerreiros é um conjunto de leis que devem ser obedecidas por todos os gatos de clã. – HoneyPaw explicou. — Mais cedo ou mais tarde, você vai acabar entendendo.

De repente, um barulho chamou a atenção dos gatos.
Uma nobre gata, de pelo longo branco e maltratado, saiu da sombra de uma grande rocha na frente deles, no centro da clareira. A gata estreitou os olhos — Quem é ela??

— LightStar, perdoe-nos a surpresa repentina... – miou OakFace, ternamente.

Silver encolheu-se ainda mais sob o olhar de LightStar. Os olhos azuis penetrantes a fizeram sentir-se ainda mais vulnerável.

— É apenas um filhote, LightStar. – NettleJump miou, calmamente. — Nós a encontramos quase morta perto do Rio Largo, na fronteira com o Clã das Rochas. Parece ter caminhado uma longa distância até chegar aqui...

— Ela não é uma ameaça! – miou HoneyPaw rapidamente, pondo-se ao lado de Silver. — Nós a encontramos por acaso em uma patrulha, e decidimos trazê-la até você!

— Acho que LightStar gostaria de fazer suas próprias perguntas, HoneyPaw. – miou OakFace, fazendo a gata malhada calar-se. A solene líder agradeceu silenciosamente.

— Ela não é nenhuma gata de algum dos outros clãs, certo?.. – Perguntou, percebendo o cheiro desconhecido de Silver. O guerreiro marrom negou com a cabeça, fazendo LightStar ainda mais surpresa. — Compreendo...

— Ela afirma não lembrar-se de nada antes de seu desmaio. – miou NettleJump. — Mesmo parecendo-me suspeito, creio que ela merece uma chance de explicação.

— E essa chance não será conseguida aqui. – miou a líder, percebendo os olhares curiosos ao seu redor. Ela voltou-se para a gata prateada. - Qual o seu nome?

— S-silver... - a jovem respondeu, quase num sussurro.

— Pois bem, Silver. – miou LightStar, levantando-se. — Que tal vir a um lugar mais reservado para que possamos conversar? – OakFace já havia colocado-se de pé, mas recebeu um aceno reprovador de líder. — ...Apenas nós duas.

LightStar dispensou os guerreiros a sua frente, e Silver recebeu um rápido toque de focinho de HoneyPaw, deixando-a surpresa. Despediu-se de sua mais nova companheira, e pode ouvir um rom-rom divertido da líder do Clã das Árvores.

— Ela parece confiar em você. – Ela acentuou. — Vamos ver se consegue minha confiança, também.

Com essas palavras, as duas dirigiram-se até a sombra da Pedra Grande, afastadas dos burburinhos que se formavam dentre as árvores.

Gatos Guerreiros - Silver's Prophecy [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora