1 - Bate-me

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Há um mês atrás, agarraste-me no braço com muita força e disseste-me que tinhas nojo de mim e que eu era uma puta. Senti-me presa nas tuas palavras de machista. E depois, gritas-te comigo vezes e vezes sem conta, dizendo que o nosso casamento era uma farsa e que eu iria apodrecer contigo até ao fim dos meus dias. Que não faltava muito. Mas, quando me viste a chorar, compraste-me flores, pediste desculpa, e levaste-me a jantar fora, por momentos, amaste-me. Nos teus olhos, falsidade.
Há uns dias, deste-me uma chapada, disseste-me que eu não era mulher para ninguém e que nunca ninguém me iria querer. Eu limitei-me a calar-me e ouvir. Mas chorei muito, à noite, sozinha. No outro dia, deste-me um pontapé nas costas, e gritas-te severamente que eu não valia nada, estavas com um ar frio e cruel. Mais uma vez, eu calei-me, e desta vez, não chorei. No dia a seguir, empurraste-me contra um móvel, e eu bati com a barriga, queria ter-te dito que estou grávida, mas apanhei-te outra vez num mau dia. Calei-me, sangrei muito, e percebi que aquele tinha sido o fim de um ser que teria sofrido nas tuas mãos. Consenti.
Ontem, deste-me com um pau nas pernas e eu já nem podia andar de tantas nódoas negras que lá tinha, já não ia à praia, nem andava sem os meus óculos de sol, andava sempre negra, quem me visse diria que sofria de violência doméstica. Tiraste-me o telemóvel desconfiado que eu tivesse um amante, a raiva era notória nos teus olhos, e neles também se notava a crueldade do ser humano. Deixaste o telemóvel cair no chão e pisaste-o com a tua máxima força, com a intenção de o partires.
Hoje, espancaste-me até à minha morte, queria ter pedido ajuda, mas foi tarde demais, morri vítima dos teus pontapés, murros, de me dares com paus, de me pisares, de me matares. Hoje eu queria ter gritado e pedido ajuda, mas não consegui. Eu até podia chorar e dizer que és horrível, mas já de nada adianta. Mataste-me. E nos teus olhos se via a ganância. Segundos antes de me dares com o pau na cabeça, disseste "Serei a última coisa que irás ver na vida." enquanto olhavas nos meus olhos, que transportavam lágrimas e dor, e deste-me com o pau. Os meus olhos fecharam-se e os teus continuaram abertos onde apenas se via ódio.

01-12-2016 - Daniela

My world, my wordsOnde histórias criam vida. Descubra agora