Prólogo

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Olá minhas larriezinhas do meu coraçãozinho. Essa estória vai se passar no Brasil e vai ser envolvida por enlaces econômicos e abordar alguns assuntos que acredito serem extremamente pertinentes, mas o foco é o romance e esses outros assuntos vão ser o fundo para os acontecimentos e somente isso. E não, eu não sou nem um pouco religiosa, sou mais o Harry que não acredita que o Louis super crente, mas amo como podemos em nossas aspirações de um mundo melhor usar Deus como uma coisa realmente benevolente e não como um ser odioso.

Espero que ela entre no coração de vocês como entrou no meu. boa leitura.

Mari 

Houve um tempo em que eu acreditava que nascíamos destinados a um caminho, o qual trilharia e o universo conspiraria para que tudo se encaixasse. Com o tempo o universo se transformou em Deus, o ser todo poderoso e benevolente que acompanhava e traçava a linha de todas as vidas, do nascimento até a morte.

Um padre de quem gostava muito em um dos seus sermões disse que o amor de Deus é a única coisa do mundo não efêmera, e que todos nós no final receberemos o carinho de suas mãos afetuosas nos levando para a salvação.

Ouvir sobre como cada um de nós éramos os escolhidos de Deus fazia com que me sentisse especial e gratificado por ter escolhido servi-lo com a minha vida, afinal se o único amor puro é o do Senhor porque me dedicar a outro?

Mas então veio a adolescência, repleta de novas descobertas e acontecimentos facilmente explicados pela biologia como o amadurecimento hormonal, o empecilho, no entanto é que Deus não tem uma função para os hormônios de seus jovens escolhidos.

Apesar das provações, como os padres denominavam os desejos aflorados no corpo agora de um homem, segui firme empenhado em me tornar um padre, muitos seminaristas que começaram comigo desistiram e cederam a vida mundana, tentados por namoros e festas adolescentes descobriram um caminho diferente sendo traçado, enquanto o meu destino continuava cada vez mais claro, nascera destinado a ser um padre, ou pelo menos era no que eu acreditava.

Minha mãe, a engenhosa mulher que quando eu ainda pequeno enxergou meu potencial, transbordava de orgulho. Minha mãe, Johanna, se apaixonou por meu pai pouco antes de entrar para o convento e seguir carreira como freira, desistiu de tudo e fugiu de sua cidade natal com o meu pai um homem mais velho e que destruiu sua vida. Sem o ensino médio completo, gravida e abandonada pelo namorado que antes se dizia tão apaixonado recorreu aos pais, mas eles não a ajudaram deixando-a desamparada.

Com todas as dificuldades o Padre da cidade acolheu-a na igreja e dentro dela nasci, nesse mesmo dia minha mãe prometeu minha vida a Deus, e meu destino foi traçado.

"Todos os caminhos levam ao mesmo destino, quando algo faz parte de você não há como fugir, nem se esconder, eu garanto, eu tentei, e falhei miseravelmente. Sei que não imaginava o desenrolar do futuro quando me prometeu de corpo e alma a Deus, talvez eu tenha quebrado sua promessa propositalmente, ou talvez meu destino fosse quebra-la.

Mas Deus não me daria uma cruz maior do que a que posso carregar não é mãe? Essas são suas palavras. Você estava errada. Eu nunca conseguiria segurar essa cruz, eu não escolhi nascer como nasci ele me fez assim em todos os aspectos, nasci com isso dentro de mim. Deus sendo cheio de amor como aprendi ainda assim me ama?

Sou sua imagem e semelhança, sou uma obra dele, sou seu escolhido. Ele me ama menos agora? Um gay ainda merece o céu? Eu não sei mãe, mas sinto muito por quem eu sou, sei que não fui forte o suficiente, mas eu não conseguia lutar contra então talvez Ele quisesse que eu deixasse vir.

Desculpe-me mãe, sei que lhe desapontei, mas tenho orgulho de mim mesmo e da coragem que toda a minha historia e sofrimento me proporcionou. Desculpe-me por não ser quem você queria que eu fosse, mas eu não te desculpo pelo que fez.

Eu não te desculpo porque a vitima sou eu e o mundo já está repleto de vitimas que se culpam, eu sinto muito, mas não posso te perdoar, porque tudo que queria de você era um pouco de amor e compreensão, mas não foi possível.

Talvez você realmente sinta minha falta, mas sei que não se arrepende por todas as palavras que bradou como uma flecha em meu coração que deixou marcas. Eu te perdoei como um ser humano, porque preciso disso para que possa tirar a culpa das minhas costas, mas rezo todos os dias para que consiga te perdoar como filho, infelizmente ainda não foi possível.

Não posso ir para sua casa neste natal. Não posso ainda olhar em seus olhos sem me recordar do ódio que transbordava deles no dia em que te revelei a verdade, naquele dia você me odiou e fez com que eu me odiasse mãe. Às vezes ainda acordo soluçando na madrugada, minha mente repassa aquele dia como um pesadelo e você repete incansavelmente enquanto me bate "Você não é meu filho" "você é um monstro" "você está doente". E ele é a única coisa que ainda me mantem firme, ele me envolve em seus braços, em seu amor e me devolve a paz que as lembranças que você me deixou me tomam.

Eu realmente estava doente. Estar perto de você me deixava doentio, eu tentei até mesmo me matar algumas vezes depois que sumi, mas agora estou melhor, estou curado e feliz, espero que um dia sua doença do ódio e do preconceito também se cure, que seja muito feliz. E que Deus te perdoe."

Essa estória tem fins políticos e sociais, aborda assuntos problemáticos específicos como religião, preconceito, prostituição e depressão. Por este fator peço encarecidamente que você que está lendo se tratando de algum intolerante nesses assuntos citados acima, favor não ler a historia, ou se desejar se desconstruir dos próprios pré-conceitos e preconceitos leia e leve algo para a vida. A escolha é sua.

Afinal, na vida a escolha por mais difícil que possa ser sempre é nossa.

Caminhos Traçados - Larry Stylinson AUOnde histórias criam vida. Descubra agora