The Start

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Do Kyungsoo

Encarei o portão de embarque, engolindo seco e suando frio.
   Eu não estava preparado para passar por aquele portão. Passei muitos dias me preparando para esse momento, mas mesmo assim, não me sentia seguro, nem um pouquinho.

   Era a minha primeira viagem de avião. Eu, Kyungsoo, 24 anos, nunca viajei de avião por uma causa simples: medo. Desde pequeno vejo no noticiário os repórteres falando sobre a queda de algum avião que matou diversas pessoas. Eu vi muitos familiares e amigos chorando pela perda gerada por uma aeronave, e eu não queria que minha família fosse essas pessoas.
Mas dessa vez não tinha escapatória, eu precisava viajar nesse inferno, se eu não quisesse perder meu emprego.

   A fila ia andando, meu nervosismo ia aumentando. Creio já ter rezado o
Pai-Nosso mais de cem vezes.  Apresentei minha passagem, era hora de entrar no que eu tanto abominava. Andei sem pressa até a porta do avião.
   Me lembrei da superstição de que entrar com o pé direito dá sorte. Nunca fui de acreditar nisso, mas agora eu precisava de algo para me segurar. Entrei com o pé direito, dei um sorriso forçado para a aeromoça e procurei pelo assento 4F.

   Ao sentar, já coloquei o cinto, agarrei os braços da poltrona e suspirei. Todas as notícias de queda de avião rodavam minha cabeça, não ajudando em nada.

   Eu tinha que ser pessimista... eu sou um merdinha mesmo.

   Olhei pela janela, vendo as luzes da pista iluminar a noite. Nem a lua havia aparecido hoje.
Continuei encarando o ambiente lá fora por alguns minutos, até que sinto o tecido de um jeans raspar em meu braço esquerdo. Olhei para meu lado e vi que um homem tinha sentado ali. Ele era — parecia, pelo menos — jovem, na casa dos vinte, eu diria.

   — Boa noite — Ele me disse, dando um sorriso. Retribui um com um sorrisinho de leve, logo voltando a minha expressão nervosa, olhando para frente.

   Percebi que eu ainda estava agarrado ao braço do assento, e o homem ao meu lado parecia incomodado por não poder apoiar seu braço em nenhum dos lados, já que do lado dele tinha uma senhora que também segurava os dois braços do assento. Quase imediatamente, coloquei meu braço esquerdo em meu colo.

   A porta do avião se fechou e o piloto deu o aviso que ia começar a manobrar para a decolagem. Na TV começou a passar um filminho sobre os cuidados para tomar durante a viagem. Prestei muita atenção na apresentação, com os olhos arregalados, identificando tudo que era mostrado: as saídas de emergência, onde ficava os coletes, verifiquei meu celular, meu cinto, minha pulsação.... Pude ouvir o homem ao meu lado segurando uma risada. Eu provavelmente estava sendo ridículo, mas era algo que eu não estava conseguindo controlar.

   A apresentação acabou, e logo ouvi a voz do piloto pelo autofalante.

   "Atenção passageiros, estamos prontos para a decolagem."

   Engoli seco e me arrumei no assento, tentando achar uma posição que me desse um pouco de conforto. Acabei por ficar reto, com as pernas juntas uma na outra.
   O avião começou a correr para pegar velocidade, ao mesmo tempo que meu coração também acelerou. Encostei minha cabeça na poltrona, suspirando para controlar meu nervosismo, algo extremamente difícil. Não sabia se fechava os olhos ou os arregalava mais.

   E durante esse momento de pânico, senti uma mão pegar a minha, entrelaçando os dedos e a apertando. Não hesitei em apertá-la também. Era algo a mais para eu poder me apoiar. Algo talvez mais confortante, pois alguém estava fisicamente comigo.
   O avião começou a voar. Senti a inclinação e minha respiração falhou.
   Eu estava dentro do meu medo.
   Senti um carinho nas costas da minha mão. Aquele carinho foi me trazendo calma aos poucos, e quando o avião já estava no meio do céu, eu não estava tão assustado quanto na hora que entrei, mas claro que ainda estava bastante receoso.

Airplane × KaisooOnde histórias criam vida. Descubra agora