Klaus: Dia 6, Desperto ( Ainda )

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No almoço, toda a escola já sabe que Caroline Forbes salvou Klaus Mikaelson na torre do sino. No corredor, a caminho da aula de geografia, ando atrás de um grupo de garotas que não param de falar disso, sem imaginar que sou o próprio Klaus Mikaelson.
Elas falam todas ao mesmo tempo, num tom de voz agudo que parece sempre terminar em interrogação, tipo: Ouvi dizer que ele estava armado? E que ela teve que arrancar a arma da mão dele? Minha prima Stacey, que estuda no New Castle, disse que ela e uma amiga estavam em Chicago e ele estava tocando em um bar e, tipo, ficou com as duas? Bom, meu irmão estava lá quando ele acendeu os fogos de artifício e contou que antes de a polícia aparecer, ele disse: "A não ser que vocês me reembolsem pelos fogos, vou ficar para o grand finale"?
Aparentemente, sou trágico e perigoso. É isso aí, penso. Isso mesmo. Estou aqui, agora, não só acordado, mas desperto, e todos vão ter que aprender a lidar com isso. Chego mais perto e digo:
— Ouvi dizer que ele fez isso por causa de uma garota — e sigo com passos firmes para a aula.
Já na sala, sento no meu lugar, me sentindo infame e invencível e inquieto e estranhamente animado, como se tivesse acabado de escapar... da morte. Olho ao redor, mas ninguém está prestando atenção em mim ou no sr. Black, nosso professor, que é literalmente o maior homem que já vi. Ele tem a cara vermelha, bem vermelha, então sempre parece que está com insolação ou à beira de um ataque cardíaco, e fica sem fôlego quando fala.
Durante todo esse tempo que vivi em Indiana, ou seja, minha vida inteira — os anos de purgatório, como sempre digo —, aparentemente estivemos a apenas dezessete quilômetros do ponto mais alto do estado. Ninguém nunca me disse isso, nem meus pais nem minhas irmãs nem meus professores, até agora, neste exato minuto, na seção "Sobre Indiana" da aula de geografia — instituída pela diretoria este ano como uma tentativa de "ensinar aos alunos a riqueza histórica do próprio estado e inspirar o orgulho de nascer em Indiana".
É sério.
O sr. Black se acomoda na cadeira e limpa a garganta.
— Será que existe... um jeito melhor e mais... apropriado de iniciar... o semestre do que começando... pelo ponto mais alto?
É difícil dizer se o sr. Black está mesmo impressionado com a informação que transmite ou se está apenas com falta de ar.
— O monte Hoosier está... 383 metros acima do nível do mar... e fica no quintal... de uma casa de família... Em 2005, um escoteiro de Kentucky... obteve permissão para... abrir uma trilha e montar... uma área para piquenique... e colocou uma placa...
Levanto a mão, mas sou ignorado pelo sr. Black.
Enquanto ele continua falando, deixo a mão levantada e penso: E se eu fosse até lá e ficasse em pé no ponto mais alto? As coisas pareceriam diferentes a 383 metros de altura? Não deve ser tão alto assim, mas as pessoas têm orgulho disso, e quem sou eu para dizer que 383 metros não são suficientes para impressionar alguém?
Finalmente, ele acena com a cabeça pra mim, com os lábios tão cerrados que parece que os engoliu.
— Sim, sr. Mikaelson? — Ele solta um suspiro que parece ter saído de um homem de cem anos e lança um olhar apreensivo e desconfiado.
— Sugiro uma excursão. Precisamos ver os lugares maravilhosos de Indiana enquanto podemos, porque pelo menos alguns dos que estão nesta sala vão se formar e ir embora deste grandioso estado no fim do ano, e como poderemos divulgá-lo se só tivermos a formação básica oferecida por um dos piores sistemas educacionais do país? Além do mais, é difícil compreender a grandeza de um lugar sem vê-lo. É como o Grand Canyon ou o Parque Yosemite: é preciso estar lá para apreciar de verdade seu esplendor.
— Obrigado, sr. Mikaelson — diz o sr. Black em um tom que indica exatamente o oposto de agradecimento, apesar de eu estar sendo apenas vinte por cento sarcástico. Começo a desenhar montanhas no caderno em homenagem ao ponto mais alto do estado, mas elas parecem bolotas disformes ou cobras voadoras, sei lá.
— Klaus tem razão... Alguns de vocês... vão embora daqui... no fim do ano... para estudar. Deixarão nosso... grande estado e... antes de ir embora... vocês deveriam... conhecê-lo. Deveriam... andar por aí...
Um barulho vindo do outro lado da sala o distrai. Alguém chegou atrasado e derrubou um livro e, na hora de apanhá-lo, derrubou todos os outros. O que segue são risadas, porque estamos no ensino médio, o que significa que somos previsíveis e quase qualquer coisa é engraçada, principalmente se causar a humilhação pública de "de alguém. Quem derrubou o material foi Caroline Forbes, a garota da torre do sino. Ela fica roxa de vergonha e parece que quer morrer. Não uma morte do tipo pulando de uma torre, mas sim do tipo Por favor, Terra, abra um buraco e me engula.
Conheço essa sensação melhor do que conheço minha mãe ou minhas irmãs ou Kol Dennis. Andamos juntos a vida inteira. Como a vez em que bati a cabeça e tive uma concussão na frente da Katherine Pierce na aula de educação física; ou a vez em que ri tanto que uma coisa saiu voando do meu nariz e aterrissou em Tyler Lockood; ou o oitavo ano inteiro.
Então, como estou acostumado com isso e essa tal de Caroline vai chorar se derrubar mais um lápis que seja, jogo um livro no chão. Todos os olhos se voltam pra mim. Me inclino para recolher e jogo todos os outros de propósito — eles batem na parede, na janela, na cabeça dos outros — e, só pra garantir, inclino a cadeira e me jogo no chão. A cena é acompanhada de risadinhas e aplausos e alguns gritos de "aberração", e o sr. Black diz, ofegante:
— Se já terminou... Klaus ... eu gostaria de continuar.
Levanto, arrumo a cadeira, faço uma reverência, junto os livros, faço outra reverência, sento e sorrio para Caroline, que me olha de um jeito que só pode ser descrito como surpresa e alívio e alguma outra coisa — preocupação, talvez. Eu gostaria de acreditar que tem um pouco de desejo ali também, mas seria só ilusão. Abro o melhor sorriso que posso, aquele que faz com que minha mãe me perdoe por chegar muito tarde ou por ser estranho. (Às vezes, pego minha mãe me olhando — quando me olha — como se pensasse: De onde é que você surgiu? Com certeza puxou isso do seu pai.)
Caroline sorri de volta. Imediatamente me sinto melhor, porque ela se sente melhor e por causa do jeito que olha pra mim, como se não precisasse me evitar. Essa é a segunda vez, em um dia, que a salvo. Todo generoso, esse Klaus, minha mãe sempre diz. Generoso demais para o seu próprio bem. Ela diz isso em tom de crítica e é assim que eu encaro.
O sr. Black fixa os olhos em Caroline e depois em mim.
— Como eu ia dizendo... o projeto para esta... aula é escrever sobre... pelo menos duas, preferencialmente três... maravilhas de Indiana.
Quero perguntar "E a excursão?", mas estou muito ocupado olhando para Caroline enquanto ela se concentra na lousa, com o canto da boca ainda denunciando um sorriso.
O sr. Black continua falando sobre como quer que a gente fique à vontade para escolher lugares que agucem a imaginação, mesmo que sejam obscuros ou distantes. Nossa missão é visitar cada um, tirar fotos, filmar, pesquisar sua história a fundo e contar exatamente o que nesses lugares nos deixou orgulhosos por ser de Indiana. Se for possível relacioná-los de algum jeito, melhor. Temos o resto do semestre pra terminar o projeto e precisamos levar a sério.
— Vocês vão trabalhar... em duplas. O trabalho vale... trinta e cinco por cento... da nota final...
Levanto a mão de novo.
— Podemos escolher as duplas?
— Sim.
— Escolho Caroline Forbes.
— Você pode combinar... com ela depois da aula.
Me viro para ela, cotovelo apoiado nas costas da cadeira.
— Caroline Forbes, queria ser sua dupla.
Seu rosto fica vermelho quando todos olham pra ela.
— Sr. Black, eu pensei em talvez fazer outra coisa, quem sabe pesquisar e escrever uma breve dissertação — ela fala baixo, mas parece um pouco irritada —, pois não estou pronta pra...
Ele a interrompe:
— Srta. Forbes, vou lhe fazer... o maior favor... possível e... vou dizer... não.
— Não?
— Não. Começamos um novo ano... é hora de retomar as rédeas... do seu burrico...
Algumas pessoas riem. Caroline olha pra mim e percebo que, sim, ela está irritada, e é aí que me lembro do acidente. Caroline e a irmã, na última primavera. Caroline sobreviveu, mas a irmã morreu. É por isso que ela está assim.
O sr. Black passa o restante da aula falando sobre lugares de que podemos gostar e que, independente de qualquer coisa, precisamos visitar antes da formatura — pontos turísticos, como o Parque Histórico Conner Prairie, a casa de Levi Coffin, o Museu Lincoln e a casa onde James Whitcomb Riley passou a infância —, mas sei que a maioria de nós ficará aqui nesta cidade até morrer.
Tento chamar a atenção de Caroline de novo, mas ela não levanta mais o rosto. Em vez disso, se encolhe na cadeira e olha fixo pra frente.

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2017 ⏰

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