O ano era 1817, e eu, Leopoldina, não fazia nada além da minha habitual rotina de estudos matinais.
Sentada em uma mesa de cedro cheia de papéis e anotações, eu lia calmamente um livro que se tratava sobre a fauna e flora catalogadas na América do Sul. Entretida com os nomes e litografias de espécies que nunca havia visto, deixei meus pensamentos voarem em direção a este continente, tão desconhecido e habitado por povos de caracteristicas tão únicas! Ah, santo Deus! Como gostaria de visitar e ver de perto essas maravilhas tão exóticas!
Infelizmente, meus pensamentos foram bruscamente interrompidos por uma criada que, educadamente, disse que minha mãe e meu pai, juntos de 'pessoas importantes', requisitavam a minha presença no salão principal do Palácio. Tão rápido quanto entrou, a criada retirou-se de meus aposentos, deixando que as faíscas da curiosidade pairassem pelo ar e incendiassem os meus pensamentos.************************************
"Senhores, eu vos apresento minha augusta filha, V.A Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena, arqui-duquesa e princesa do Império austríaco!" Disse meu pai, o imperador Francisco I, assim que adentrei o salão acompanhada por algumas criadas do palácio.
"Venha, minha querida. Não há o que temer." disse minha madrasta tentando me tranquilizar.
Tentei me aproximar sem parecer assustada, o que foi algo muito difícil, já que não fazia a mínima ideia do que estava por vir.
"V.A, imagino que a senhorita já saiba do que se trata..." disse um dos homens presentes no salão. Vendo minha cara de profunda incompreensão, completou "V.A está prometida em casamento ao primogênito de Sua Majestade D. João VI, D. Pedro de Alcântara, futuro herdeiro do Reino Unido de Brasil, Portugal e dos Algarves."
Ao ouvir isto, senti um embrulho no estômago e o suor frio brotar de minha testa. Santo Deus!
" E-eu..." Tentei dizer mas, a insegurança e o espanto eram tamanhos que não pude completar a frase.
Após esse choque inicial, tomei coragem e, desta vez, disse que concordava com a resignação, afinal, era esta a minha função; casar-me com quem meu pai achasse melhor, dar-lhe herdeiros e não me importar com a felicidade, já que era apenas um acessório presente em poucas uniões européias.
Ao receber um retrato de meu marido, achei-o belo e muito atraente.
Recebi também informações a seu respeito e, esses pontos foram os que tornaram mais fácil a tarefa a mim designada.
Assinei o contrato rapidamente e, após o término foi a mim apresentado um pintor português muito conhecido por retratar princesas e rainhas europeias. O pintor, levou-me até uma sala do Palácio, pediu-me que sentasse e, colocou ao redor de meu pescoço um belo colar, do qual pendia um broche com o retrato de meu futuro marido.
O pintor posicionou uma tela sobre seu cavalete, pegou sua tintas e pincéis e enfim começou o seu trabalho.************************************
Após uma eternidade, finalmente recebi a autorização para me retirar, o que foi alívio já que, meu quadril estava dormente por tanto tempo sentada.
"Jesus, que estopada!" disse enquanto subia as escadas até meus aposentos, onde, finalmente pude descansar e pensar no que havia acontecido.
Após pensar muito sobre este assunto, resolvi escrever uma carta para minha irmã mais velha Maria Luísa, a qual, eu carinhosamente chamava de Louison. A pobre coitada havia se casado em segundas núpcias com Napoleão Bonaparte apenas para assegurar a paz entre França e Áustria.
Após alguns minutos de escrita, minha madrasta adentrou o quarto, chamando baixinho pelo meu nome;
"Leopoldina, minha querida. Você está aí?"
"Sim, estou! Pode entrar, estava mesmo precisando conversar com alguém."
A moça caminhou pelo quarto e apoiou-se sobre a escrivaninha com um enorme sorriso estampado no rosto.
"Está contente, minha criança? Em breve estarás casada!" disse enquanto passava sua mão sobre meus cabelos carinhosamente.
"Não sei ao certo. Meu coração está se afogando eu um misto de emoções que nem sei identificar!" Tentei amenizar dando uma leve risadinha. Mas, de fato, eu não sabia que tipo sentimentos eram aqueles! Eram uma mistura de incerteza, ansiosidade, medo e paixão. Realmente, uma combinação um pouco estranha.
Após algum tempo conversando, minha madrasta decidiu que já estava na hora d'eu me recolher, afinal, o sol já havia se posto há tempos!
Levou-me até minha cama, cobriu-me e beijou carinhosamente a minha testa dizendo 'Boa noite!'.
Quando ela saiu, peguei o pequeno retrato de meu futuro marido e o coloquei sobre minha cabeceira ao lado da cama.
"Ah, como és belo, meu augusto marido, o futuro pai de meus filhos!" eu dizia enquanto meus olhos se perdiam naquele homem, tão forte e imponente.
"Oh, santo Deus! Que tipos de pensamentos impuros são estes que se passam pela minha cabeça?! Uma moça direita não pensa em tais absurdos!!" Ao chegar em tamanha conclusão, virei para o outro lado da cama para evitar estes pensamentos mas, teimosamente eles insistiam em voltar, até que me entreguei a eles e não dormi a noite inteira, fiquei apenas fantasiando e fazendo planos para o futuro, não esquecendo jamais sobre o dia em que tudo mudou.************************************
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Não escolhi me apaixonar, a história de D. Maria Leopoldina
Non-FictionComo princesa e Arqui-duquesa austríaca, D. Leopoldina nunca imaginou que pudesse ter um futuro fora de sua querida Áustria. Talvez por sua religiosidade, ou pelo medo de se apaixonar, D. Leopoldina cresceu apenas focada em seus estudos, deixando de...