Capítulo 1

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Eu não queria só passar pelo mundo, eu precisava aproveitar cada pedacinho dele. Esse meu contínuo pensamento foi o que me levou a ser o que sou hoje. Uma curiosa amante do mundo.

Assim como todo dia, após ter ido a varanda e ter brigado com Linx, meu cachorro, por ter sujado todo o piso - como ele faz todos os dias - me sento em uma cadeira com uma xícara de qualquer coisa que tenha em casa e cumprimento meus vizinhos que passam. A maioria dos meus companheiros de quadra são pessoas mais velhas e eles sempre estão alienados e atrasados para algum compromisso ou pra chegar no serviço em que permanece a mais de 10 anos.

Não entendo como alguém consegue ficar tanto tempo assim em um lugar. Eu mesma não paro por muito tempo em um emprego. Normalmente não faço da minha vida profissional em certo lugar algo durável ou constante, certamente não vou ser assídua quanto a isso e vou me aventurar em uma outra carreira, faculdade, curso, ou em qualquer outra baboseira que me surgir na cabeça.

Após terminar o que estava tomando, tenho a boa ideia de andar por aí, algo que já é bem comum eu fazer todos os dias.

Saio de casa com Linx me seguindo, esse fujão sempre está no meu pé. As vezes acho que ele é um porquinho disfarçado de cachorro, sério, todos os dias quando chego em casa minhas pernas estão sujas de lama porque ele não para quieto e insiste em andar nas poças de lama que tem pela cidade e depois vem se engraçar pelas minhas pernas. Foi esse o motivo de eu nunca usar sapatos claros perto dele.

[...]

Meus pés já doíam. Linx desistiu de mim e provavelmente voltou pra casa, já que nem ele estava aguentando andar tanto assim. Já passavam das 16h, eu estava exausta, desde manhã fiquei passeando por tudo quanto é canto. Cheguei em um lugar que tinha ouvido falar que abriu nesta semana, uma livraria, e eu obviamente, não iria perder a chance de comprar um bom livro pra matar o tempo no próximo serviço que eu achasse desinteressante.

Entrei e olhei logo de cara para uma enorme prateleira vermelha aos fundos. A placa acima dela dizia "Seção Mistério", meu gênero preferido. Fui com um sorriso breve no rosto até ela e fiquei olhando alguns livros procurando por algum que me agradasse.

Okay, talvez eu seja um pouco exagerada de estar levando quase dez livros, mas fazer o que não é? Não posso fazer nada se eles magicamente pularam em minhas mãos.

Andei até o caixa segurando a pequena pilha de livros no braço, paguei e sai de lá com a sacola de livros que estava pesada. Eu definitivamente vou pedir um táxi pra ir embora depois.

Perto dali, existe um parque, não seria uma má ideia ir até lá, até porque meus pés estão me matando. 

Quando cheguei fiquei olhando algumas crianças brincando e fui em direção ao centro da praça onde tinham alguns bancos de madeira e me sentei. Uma sensação de alívio percorreu meu corpo, senti minhas pernas moles e fechei os olhos suspirando. Eu não vi o quanto fiquei cansada nessa tarde.

Ouvi passos e abri os olhos, vi que no banco da frente se sentou um garoto que, aparentemente, tinha minha idade. Ele parecia cansado também, sua pele pálida dava a impressão de que além de cansado, estava doente e por isso ficava tão branco. Observei suas mãos, ele esfregava seu dedão por cima da outra mão como se estivesse com raiva (ou seria tristeza?).

 — Você está bem?  — Disse um pouco alto para ele me escutar.

Ele levantou a cabeça e olhou pra mim sem dizer nada e depois de alguns segundos, assentiu devagar com a cabeça. Seus olhos o denunciavam. Ou ele iria chorar, ou já teria feito antes. Abaixo dos olhos dava-se a dica de que não dormia bem, pois suas olheiras estavam enormes.

Levantei e fui até onde ele estava sentado e fiquei em pé a sua frente.

 — Você realmente está bem? — Persisti e ele abaixou a cabeça. — Posso me sentar?

Ele assentiu ainda de cabeça baixa e me sentei meio de lado olhando para ele.

 — Ei, olhe pra mim — Falei e depois de um tempo ele fungou e passou as mãos nos olhos e me olhou. Haviam lágrimas em seus olhos que estavam um pouco vermelhos. — Como você se chama?

 — Porque está aqui? — Ele disse e eu gelei. — Não preciso que tenha pena de mim nem nada, pode ir embora.

Olhei para ele e dei um sorriso sem mostrar os dentes, ele me olhou confuso então coloquei uma mão em seu ombro coberto pela jaqueta.

 — Não estou com pena — Falei e tirei a mão do ombro dele. — Só fiquei preocupada e quis ajudar. Mas de qualquer forma, me desculpa, já estou indo.

Fiz menção de levantar e ele segurou meu pulso levemente.

 — Desculpa — Ele disse e me soltou, assim, fiquei sentada e olhei em seus olhos. — Desculpa por agir como um idiota, eu só não estou tão bem assim e acabei descontando em você.

 — Tudo bem.. — Disse.

 — Meu nome é Yoongi, e o seu?  

 — Sook   — Sorri. — Um prazer te conhecer.

 — Igualmente — Ele retribuiu meu sorriso, com um belo sorriso de lado.

 — Aconteceu algo? — Disse.

 — Ah — Suspirou — Nada na vida é pra sempre sabe. As vezes ela tira as pessoas da nossa vida cedo de mais.

Percebi que ele estava tenso, era um assunto delicado, então não fiz questão de o pressionar. Provavelmente alguém se afastou dele..Quem sabe foi uma garota.

 — Sinto muito — Disse sincera. — Não fique se lamentando tanto. Ficar triste não é bom.

 — Só.. — Ele disse e após uma pausa fechou os olhos — Não dá pra não ficar triste sabe? É algo bem complicado.

Yoongi abriu os olhos e passou as mãos pelos cabelos pretos.

 — Fique tranquilo, vai dar tudo certo — Sorri com ternura. — Pode ser difícil mas não é algo impossível. Você supera, sei que sim.

Ele deu uma risada nasal e me olhou.

 — Obrigada por tentar ajudar, foi legal da sua parte mas eu não acho que eu vou superar.

 — Não fale isso — Desviei o olhar dele e olhei no relógio do celular. Estava ficando escuro e eu estava longe de casa. — Eu preciso ir embora, moro longe daqui.

 — Okay — Ele disse e ambos levantamos do banco. — Bom. A gente se vê, eu acho.

 — A gente se vê — Falei e fui para a saída do parque e pedi um táxi.

[...] continua




Wonders that save | Min YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora