III

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Olá, olá. Como prometido, essa foi uma fanfic extremamente curta, mas talvez algumas pessoas tenham realmente gostado ou algo assim, enfim, não tenho muita cisa pra dizer então, bem-vindos ao fim.

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"..., mas caso você esteja lendo eu lhe contarei o motivo.

Pode lhe parecer ridículo, mas eu não tenho motivo algum. A esse ponto você já deve ter concluído que sou louco, o que provavelmente é verdade, que outro tipo de pessoa entrega uma carta de suicídio a um garçom que mal conhece, não é mesmo? Mas voltando ao minha..."

E o trem de Chuuya estava ali. O ruivo entrou depressa e correu para um dos lugares disponíveis, onde poderia terminar a carta até chegar ao seu destino, que ficava a cerca de vinte e poucos minutos dali.

"Mas voltando ao minha falta de motivo... Eu estou vivo, estive vivo sem motivo algum pelos últimos vinte anos, por que deveria haver um motivo para morrer?

Não tivemos a chance de nos conhecer direito, mas você não soa como o tipo de pessoa que supervaloriza a vida, não soa como o tipo de pessoa que me julgaria. Talvez seja por isso que eu confie em você para entregar essa carta, talvez seja por isso mais do que por você passar o meu café todos os dias, aliás, seu café é ótimo.

Patético eu estar escrevendo uma carta de suicídio sem motivo aparente para o mesmo, pois explicar o porquê normalmente é a função desse tipo de carta, creio eu.

Depois de refletir por milhares de segundos, eu cheguei a alguns motivos. Eu gostaria de deixar um vestígio de que algum dia já tive o desprazer de estar vivo, e talvez, eu inconscientemente quisesse que alguém sentisse minha falta, talvez só um pouquinho, mas como não tenho ninguém para ocupar esse posto, será que você me daria a honra de lhe causar saudade, Nakahara?"

Mais alguns segundos de reflexão, Chuuya se impressionava com como Dazai conseguira transformar algo tão triste e digno de pena em palavras bonitas que estavam mexendo com o seu emocional contra sua própria vontade.

"Isso provavelmente é impossível, como se pode sentir saudade de alguém que nem se teve a chance de conhecer? O que na minha pessoa poderia possivelmente lhe causar nem que uma ponta de saudades? Os poucos ienes que deixo todas as tardes? Ou talvez você sinta falta da minha presença naquela mesa às cinco da tarde? Quem sabe os meus sorrisos involuntários toda vez que me entregava meu pedido faziam com que você achasse seu emprego menos deplorável? Será que você já chegou a imaginar onde seriam minhas novas ataduras, e talvez você sinta falta disso? Eu realmente não consigo enxergar um motivo plausível para que você sinta minha falta, mas leve isso como o meu último desejo, de estranho para estranho, lembre-se de mim, que a sua memória seja a prova de que Dazai Osamu já esteve vivo."

Chuuya se encontrava melancólico, nenhuma pessoa devia passar pela humilhação de implorar a um estranho que fosse a prova de sua existência. A carta havia chegado ao fim. Não era muito extensa, poucas dezenas de linhas escritas da caligrafia invejável do rapaz. O ruivo releu a carta mais duas vezes, ainda mais triste e reflexivo.

Será que ele podia ter impedido esse fato antes mesmo de receber aquela carta, será que ele podia ter impedido até Dazai de escrever aquela carta? Será que se ele houvesse pelo menos perguntado o nome dele como havia cogitado milhares de vezes Osamu nunca tivesse escrito uma carta anunciando que tiraria a sua própria vida? Será que Chuuya poderia despertar em Osamu nem que uma mínima vontade de continuar vivo?

Faltavam poucos minutos para que o trem chegasse a estação mais próxima do edifício do qual Dazai estava prestes a se jogar – se é que seu corpo morto já não estava estirado naquela calçada –, Chuuya retirou o envelope que estava dobrado no bolso da sua calça para guardar novamente a carta, e notou a presença de um pequeno pedaço de papel amarelo.

"Relendo a carta, percebi quantas vezes escrevi que não nos conhecemos bem, talvez porque esse seja um dos meus poucos arrependimentos. Talvez eu me arrependa de que eu tenha morrido com nós dois sendo apenas estranhos."

Agora Chuuya se encontrava ainda mais melancólico, talvez se ele não fosse tão introvertido, ele pudesse realmente ter salvo Dazai antes de ele pedir sua ajuda, talvez eles pudessem ter se conhecido e se tornado amigos, tornando a vida um do outro um pouco menos deplorável, talvez até algo a mais, talvez Chuuya ainda pudesse salvar Dazai.

Levou pouco mais de cinco minutos para o trem chegar ao destino, mas o nervosismo de Chuuya estava fazendo com que parecessem horas. Uma e cinquenta e nove da tarde, as nuvens de chuva estavam fazendo parecer noite. O ruivo correu o mais rápido que pôde por três quadras até chegar ao seu destino. Ignorou tudo e todos dentro da construção e se dirigiu rapidamente a um dos elevadores, entrando nele milésimos de segundos antes da porta se fechar totalmente, dizendo para o funcionário que gostaria de ser deixado no terraço.

— Temo que o senhor não possa ir ao terraço. — O homem disse, fazendo com que o desespero de Chuuya fosse ainda mais aparente.

— Temo que um amigo meu esteja prestes a se atirar do seu terraço, senhor. — respondeu engolindo em seco.

Um silêncio se formou com as outras três pessoas ali dentro, que alternavam os seus olhares entre Chuuya e o funcionário, que acabou concordando em levar o ruivo até o terraço.

— Boa sorte, garoto — Uma senhora disse, deixando o elevador poucos andares antes do qual Chuuya deixaria.

O ruivo concordou com a cabeça e a porta se fechou, deixando apenas Chuuya e o funcionário no cubículo metálico que estava subindo até o terraço. Talvez Osamu já tivesse se atirado no tempo do percurso do elevador, talvez o seu sangue já estivesse sendo arrastado para os bueiros pela chuva que estava se iniciando, Chuuya não conseguia evitar pensar nas piores possibilidades, sua cabeça criava oito mil paranoias diferentes por segundo, e simplesmente se esvaziou ao ouvir uma voz computadorizada anunciar que estavam no terraço.

O coração de Chuuya quase parou ao ver Osamu de pé na beirada da construção, a poucos centímetros de sua morte. O ruivo soltou um suspiro nem tão aliviado ao perceber que seus esforços pudessem salvar o rapaz.

— Nakahara, você veio! — Dazai falou virando a sua cabeça para o ruivo que ainda estava o encarando. — Estive esperando-o por uns quinze minutos.

Ele tinha um Chuuya inábil de pronunciar palavra alguma como resposta. Osamu deu um passo para trás, e virou o seu corpo levemente, ainda a metros de distância do ruivo, estendeu o seu braço coberto por ataduras e, com um sorriso enigmático, perguntou para Chuuya:

— Você se juntaria a mim em um suicídio a dois?

Waiter no.2  ☼ soukoku AUOnde histórias criam vida. Descubra agora