Capítulo 4: O Canto da Sereia

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Soem as sirenes, juntem as tropas. Senhoras e senhores, é a hora da verdade. — BMTH

§

Se você, há cinco anos e meio, contasse a Katsuki Yuuri que um dia ele lutaria ao lado de Victor Nikiforov, uniria-se a ele e viraria o submundo de cabeça para baixo em uma violenta fuga pela sobrevivência; então talvez ele realmente teria rido na sua cara e atirado em você na hora, porque se você era tão estúpido assim, então você não valia o ar que você precisava para respirar.

Quem teria pensado que aquele primeiro encontro com Victor todos esses anos atrás em Detroit levaria a esse perfeito estado de caos?

Tinha 19 anos naquela época e Yuuri lembra-se de ter acreditado que provavelmente morreria naquela noite. Lembra-se de ter acreditado que se isso acontecesse, ele estaria tranquilo com o seu destino também. Não é como se ele tivesse muitos motivos para viver antigamente. Fora enviado para os Estados Unidos ainda com a pele coçando, a última parte de suas costas preenchida com cores. Foi um trabalho pequeno; encontrar-se com um ou dois traficantes de armas, achar armas e unidades de munição pelos preços que apenas Yuuri era capaz de negociar, transportá-las de volta para casa, e tudo estaria terminado até que lhe fosse entregue outra tarefa.

Foi na noite em que ele voltaria para Hasetsu em que eles se conheceram. Ele fora a um bar discreto, onde o bartender achou que ele fosse mais velho, e pediu uma bebida antes de fazer o que sempre fazia. Decifrar as pessoas ao seu redor era sempre uma maneira satisfatória de passar a quantidade absurda de tempo que ele tinha em noites como a de quando ele conheceu Victor.

Ele decifrou todos que ele podia ver em seu campo de visão. O casal tendo um caso, paranoicos demais para aproveitarem suas bebidas; o professor de primário afobado que precisava de um cigarro e alguma coisa forte para relaxar depois de um dia que testou os seus limites; o grupo de empresários com ternos aceitáveis, que celebravam um acordo que fizeram no lado certo da lei.

Ele rodava naquele banquinho daquele bar e hoje lembra-se do instante em que viu a figura solitária de Victor Nikiforov sentada à uma mesa através do local, imerso nas sombras, que rapidamente ficava pequeno demais, sufocante, porque vê-lo sentado ali, calmo, foi como se uma marreta tivesse acertado seu peito.

Ele lembra ter pensado no quão impossível era desviar seus olhos, lembra ter pensado como o declive de seus ombros e como o afunilar de seu terno era ainda melhor na vida real comparado às fotos de câmeras de segurança que sua família juntara. Yuuri lembra ter pensado que se ele já não soubesse a quem aquele terno impecável e cabelo prateado pertenciam, Victor seria apenas mais um rosto na multidão, escondendo-se sob uma linda e perfeitamente esculpida máscara, assim como Yuuri escondia-se quando vinha a lugares como aquele para misturar-se ao silêncio que nunca levantava suspeitas.

E Victor, atento como sempre foi e sempre seria, virara ao sentir o olhar de Yuuri em suas costas e sorrira esse sorriso devastador, de alguém que sabe das coisas, porque naquele momento, naquele bar, com a mesma bebida e o mesmo ar de isolação; eram mais parecidos do que imaginavam.

Ele lembra como seu coração respondeu como se tivesse vida própria quando a cor daqueles olhos azuis elétricos o encontraram, ele lembra como ele acelerou quando Victor levantara-se de sua cadeira, de membros longos e gracioso quando caminhara em sua direção enquanto todos o olhavam, porque ele era a pessoa mais linda daquele lugar, e ele sentara próximo a Yuuri com um suspiro como se acabasse de voltar para casa após um longo dia no escritório, e então pedira um drinque para ambos, como se estivera pensando em conhecer Yuuri aqui desde o início.

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