Capítulo I

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"Pelo poder que emana do submundo, eu condeno à ti, filha da coroa, que ao décimo sexto aniversário, sejas consumida pelas trevas... blá blá blá"

Todo dia era a mesma coisa, ou quase sempre. O meu professor, Sr. Quinzel, sempre dava um jeito de levar a aula para aquele mesmo assunto. Não sabia o que significava, apenas sabia que era uma profecia ou uma maldição antiga que fora jogada em uma garota. Okay, mas o que eu tenho a ver com isso? Tenho muito mais do que me preocupar do que com o passado. Durante toda a minha vida eu vivi trancada nesse palácio, sem ter contato com ninguém além dos empregados do palácio. Eu sabia o nome de todos, todos mesmo, acredite. Ficar trancada em um lugar, mesmo que seja grande como o palácio, não é algo legal. Porém meu aniversário de dezesseis anos estava chegando, ou como falavam alguns dos empregados: "as dezesseis luas da princesa Kiara". Logo estaria apta a reinar, visto que era a única da linha de sucessão à coroa. Meu pai não teve outros filhos, pois sei que minha mãe morreu após eu nascer. Foi a única coisa que meu pai me contou sobre ela, pois sempre que eu o perguntava como ela era, uma expressão fria surgia em sua face. Não o culpo, ainda deve ser doloroso para ele, mas eu merecia saber ao menos como era a mulher que me pôs no mundo.  Queria saber, pois sentia que ela era uma boa pessoa, e nisso, queria poder dizer que ela era minha inspiração. Mas nem isso conseguia.

— Bom dia, majestade — Dizia uma empregada, Mary, ao me ver passar sorridente pelos corredores.

— Ainda não sou a rainha, Mary, então apenas princesa

— Claro, majes... princesa — Ela se corrigiu, logo abrindo um sorriso, o qual retribuo de bom grado.

Era manhã, estava na hora do café, então, como sempre, eu descia as escadas para ir à sala de jantar para me alimentar. Lá já estava meu pai, com sua pose firme e medonha, mas não me dava medo, não tento, digo. Sabia que no fundo ele era amoroso, só não gostava de demonstrar isso.

— Bom dia, minha filha — Diz, sem olhar para mim, mas sentindo que eu estava ali. E ele acertou em seu pressentimento. Aquilo me deixou confusa, e ao mesmo tempo contente. Meu pai nunca fora de puxar assunto com alguém, nem mesmo comigo, sempre era eu quem o dava bom dia, ou cumprimentava. — Seu aniversário está chegando, não? — Completou. Concordei.

— Sim, pai, meu décimo sexto aniversário — Informei, com um sorriso largo estampado em minha face. Encarei meu pai, e logo meu sorriso foi se desfazendo, algo que eu havia falado havia lhe deixado pensativo e intrigado. — Pai? Você está bem?

— Sim, sim, claro! — Respondeu, tentando parecer convincente, embora não me enganasse. Não posso dizer que conhecia meu pai, porque de fato, não sabia muito sobre ele, mas conhecia as pessoas, aprendi a saber se alguém está sendo verdadeiro ou não, e meu pai não estava. Talvez dissesse aquilo não para me preocupar, mas ainda sim, eu ficava preocupada. E ainda sim, eu ficava preocupada.

Comecei a comer, ao saber que o assunto acabara por ali, pois sabia que havia aborrecido meu pai, e o deixado desconfortável.

— E o que vai querer este ano? Como presente, digo — Mais uma vez sou surpreendida por meu pai. Porque, também, era eu quem tocava no assunto de pedir algo anualmente. Mas esse ano, pediria algo mais ousado, e esperava que ele atendesse ao pedido.

— Uma festa, como todo ano — Informei. Ele assentiu. — Mas, pai... — Seu olhar se voltou para mim instantaneamente. — Quero que abra os portões.

Foi o suficiente para que ele me encarasse com aquele seu olhar indescritível, que não transparencia nada. Isso dava ainda mais medo, pois não sabia o que ele estava pesando e nem o que diria após.

— Tudo bem

— Mas, pai, por favor, eu... espera! Você disse que tudo bem? — Perguntei, incrédula, ele mais uma vez concordou. Meu pai estava estranhamente legal naquela manhã, estava chegando a me aterrorizar. Sem querer ser ainda mais inconveniente, sorri. — Obrigado, pai.

A Escolhida: Os 7 selosOnde histórias criam vida. Descubra agora