Ben e Sam

Capítulo 1 Um breve epilogo

"Morrer muda tudo", ele estava morto, foi em paz, sem peso, com um sorriso no rosto. Benjamin passou por tudo que um homem poderia passar na vida, conquistas, fracassos, amores, amizades, passou por situações dificílimas, alcançou a estabilidade financeira e sentimental. Deixou nove livros para as futuras gerações, conhecimento técnico para inúmeras inovações científicas.

Deixou um filho, rapaz de 25 anos, jovem, muito parecido com o pai, parecido em tudo. Tem os mesmos olhos verdes que mais parecem amarelos, a mesma ingenuidade, o mesmo caráter, se tem algo nesses dois que não se pode criticar é o caráter, nunca quebram uma promessa. Nunca.

O nome dele é Miguel. Agora ele já não tem pai ou mãe, ambos falecidos do mesmo mal, acidente de carro, mora com a tia,  quem ama muito e por quem é muito amado.

Cumpriu o último desejo do pai,  o cremou assim como a mãe e as cinzas de ambos foram lançadas ao vento do topo da mesma montanha, sem cerimônia, apenas os amigos antigos e íntimos. Há duas lapides no cemitério com um pouco das cinzas de cada um, apenas um memorial.

Miguel estava lá naquela manhã, fazia dois meses desde o falecimento do pai, o rapaz foi contar que entrara pra faculdade, medicina, sua paixão.

Naquela mesma manhã, pouco depois que ele saiu, chegou outras duas pessoas, uma senhora, cabelos ficando grisalhos, vestida de preto, levando um anel em um cordão no pescoço, Samantha. Estava acompanhada de um jovem, talvez um ano mais novo que Miguel, olhos da mesma cor, cabelos negros como os da mãe fora um dia, isso destacava a cor dos olhos.

Sam caminhou até a lapide de Ben, observando os dizeres gravados na pedra. "A vida é bela. " Ela sorriu.

- seu amigo mãe? – o rapaz estava postado ao lado dela, envolvia a mãe com o braço direito e era envolvido por ela.

- sim, querido, de muito tempo atrás. – ela percorria lentamente a circunferência do anel em seu pescoço.

- é ele mãe?

- ele quem, querido?

- eu sei que o Jonh não é meu pai, ouvi uma discussão uma vez...

- o Jonh é seu pai, querido.

- mas esse ai é meu sangue.

Ela limitou-se a uma única palavra.

- sim.

Ficaram ambos em silencio, abraçados ali, diante das lapides.

- eu fui feliz, Daniel – ela começou – eu fui muito feliz, enquanto ele sofria. Houve um tempo em que Ben ficou depressivo, soube disso por amigos, nunca fui vê-lo e quando o vi dei a notícia que iria casar com seu pai... ele escreveu o primeiro livro nessa época, falava sobre um mendigo, um homem que certo dia resolvia deixar tudo de lado e ir morar nas ruas, não era um pedinte, um morador de rua, era mendigo de sentimentos... nunca parava em uma cidade por muito tempo, nunca se envolvia com pessoas... ele comete suicídio no final...

- mãe, por mais que a senhora ache que fez esse homem sofrer, por mais que ele tenha sofrido, não acho que ele tenha guardado rancor, na lapide dele tá escrito que a vida é bela, viver inclui felicidade e dor, a senhora mesma me disse isso algumas vezes. Lembra? É como um filme...

- com risos e lágrimas...

- onde no fim tudo fica bem...

- e se não está bem...

- é porque não é o fim ainda.

Ela sorriu e deixou cair uma lágrima.

- estive com ele pouco antes de morrer, disse essas mesmas palavras.

- a senhora não deve se lamentar, vamos, a senhora tem uma bela vida para viver ainda.

Samantha retirou um lenço de um bolso, secou as lágrimas, beijou o bordado e o colocou sobre a sepultura e disse:

- eu te amei... – voltou a chorar – eu te amo...

Daniel segurou a cintura da mãe pronto para leva-la apoiada em si, mas ela resistiu por um instante e virou-se para a lapide ao lado da de Ben.

- obrigada, Anne, obrigada, por cuidar tão bem dele.

Abraçou o filho e partiram.

Benjamin teve uma vida completa, passou por todas as emoções humana, realizou seus sonhos, mesclou felicidade com tristeza, companheirismo com solidão, sorrisos e lágrimas, mas é por ter experimentado de tudo que pôde dizer ao fim:

"A vida é Bela. "