Benjamin estava sentado no chão, encostado no tronco de uma velha arvore, os galhos secos projetavam suas sombras cadavéricas raramente quando o sol resolvia sair de trás das nuvens escuras e pesadas. Ele estava só. O longo caminho permanecia deserto, se alguém se aventurasse pela estrada poderia ser visto ao longe.
As poucas folhas que ainda insistiam em permanecer na árvore em que Ben se recostava, logo iriam cair, o outono estava gélido indicando que o inverno seria rigoroso, apesar do frio ele não tinha um agasalho, tremia, passava as mãos nos braços para tentar se aquecer com a fricção, mas não dava resultado, suas mãos também estavam geladas. Ben ergueu os olhos a tempo de ver uma folha se soltar e pairar calmamente até repousar sobre a grama seca e queimada pela friagem.
À medida que a folha despencava a mente dele o traiu. Por muito tempo ele vinha trancando aquelas lembranças, a dor que veio junto com elas foi quase insuportável, se não tivesse experiência com o sofrimento, certamente ele iria espernear, gritar, gemer, se retorcer, mas ao invés disso permitiu que apenas uma lágrima escorresse pelo seu rosto, uma lágrima que continha todo o peso e angústia que Ben guardara todos aqueles últimos dias.
Então ele a viu, já estava na metade do caminho, estava agasalhada e trazia um casaco a mais, ela sabia que Ben estaria ali, sempre soube.
O ventou soprou forte e levantou a folha que repousava silenciosamente e até então imóvel, os cabelos curtos de Samantha dançaram com a ventania permitindo que ele visse seus olhos vermelhos, ela também andara chorando. Todos choraram.
Sam se aproximou e ficou encarando-o, Ben não olhava para ela, depois de alguns segundos que pareceram vários e vários minutos ela atirou o casaco no colo dele e sentou ao seu lado, ficaram apenas sentados em silencio pelo que pareceu meia hora ou uma hora.
Eles não se olharam, não se falaram, apenas ouviam a respiração um do outro. Nem mesmo se mexiam.
Então Ben pegou o casaco e o vestiu.
- obrigado.
Ela não respondeu e ele não voltou a falar por mais algum tempo.
- sabe Ben, não acho que você pudesse ter feito...
- eu podia, eu devia.
- como você iria saber...
- eu devia ter tentado mais.
- as vezes você exige demais de você mesmo.
- ele teria feito isso por mim, Sam. Ele teria... – sua frase foi suprimida pelo pranto.
- eu também falava com o Daniel, percebi que tinha alguma coisa errada...
- ele me falou com todas as letras que pretendia se matar. – as palavras foram entrecortadas por um soluço disfarçado.
Ela só olhou para ele. Não era um olhar culpando-o, não era um olhar de surpresa, mas um olhar acolhedor, ela sabia daquilo, afinal eles eram muito amigos, não tinha como Ben não saber o que iria acontecer, Sam sabia que ele iria até o inferno, se possível, apenas para salvar um amigo, sabia que ele faria de tudo para que eles não passassem pelo que ele passou, esse era Benjamin, o cara misterioso e problemático, mas sempre disposto a estar junto dos amigos, o cara por quem ela se apaixonara dois anos antes.
- fale comigo, Ben. Foi você mesmo que me disse que é sempre bom falar sobre nossos problemas.
Ben não olhou para ela, estava fixando o chão, pensou em levantar e ir embora, mas ela estava certa, sempre que um amigo falava com ele sobre seus problemas parecia que uma fração da carga saia dos ombros deles, era por isso que ele sempre estivera disposto a ajudar.
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Ben e Sam
RomanceUma breve estória sobre duas pessoas que se amam, mas nunca descobriram como fazer funcionar. Não possui cronologia definida, são relatos de acontecimentos, de encontros e despedidas.