Estava frio, as pessoas nas ruas estavam todas com casacos pesados, era por volta das 15h00min horas quando Ben virou aquela esquina, a mesma pela qual ele passava todos os dias, a rua que se estendia a diante estava exatamente igual, exceto pelos casacos, todos os dias era a mesma coisa, casa, trabalho, café, casa. Não saia com os poucos amigos, não ia para festas, não ia para o Happy Hour com o pessoal do laboratório, seguia a rotina, ou talvez, a rotina seguia ele.
Mas naquele dia aconteceu algo, um imprevisto, um acidente, um acaso, logo com ele que não acreditava nessa historia de acaso. Passou despercebido por ele, apenas passou, apenas por 1 segundo. Foi em frente a uma loja de roupas, em meio há muitas pessoas, uma delas esbarrou nele, Ben não deu atenção, seus fones de ouvido com música no volume máximo o levavam a outro mundo, sempre foi assim, andava por ai distraído com sua música, não olhava para o rosto das pessoas, não se importava com isso, mas naquela ocasião ele devia ter olhado, devia ter visto.
Dez metros depois do esbarrão acidental alguém puxou seu braço, ele virou a cabeça rapidamente, e não pode acreditar no que viu... Aqueles olhos sorrindo para ele novamente, os lábios perfeitos contornando os dentes brancos como neve, a expressão angelical que há muito assombrava seus sonhos... Ele sorriu de volta, retirou os fones calmamente e disse em resposta ao movimento dos lábios.
- oi.
Ninguém falou nada, só ficaram ali, parados, olhando um pro outro. Ele esperava que ela dissesse algo para que ele enfim ouvisse sua voz depois de tanto tempo, e foi o que aconteceu.
- você "ta" indo naquela direção? – a voz suave não havia mudado. Ela apontou com a mão direita e ele notou um anel em seu dedo.
- é o que parece. – ele foi rude e notou isso pela expressão que ela fez. Ele ia falar algo, mas ela foi mais rápida.
- posso te acompanhar?
- claro... mas você... claro, vamos...
Os primeiros metros foram em silêncio, ele com as mãos nos bolsos, ela com os braços cruzados, ele olhando o chão, ela olhando para frente... Como sempre foi.
- eeeerrr... Então – começou ela – como vão as coisas depois da faculdade?
- vão bem.
- soube que você se formou com louvor. O melhor da turma, o melhor dos últimos dez anos...
- foi o que disseram.
- você gosta disso não é, senhor biomédico?
Ele respondeu entre um sorriso discreto.
- sim, eu gosto muito disso.
- sabe, eu pensava que você iria pra outra cidade, novos ares...
- eu fui. Passei quatro semestres no exterior, me graduei, fui pra capital, passei um ano lá e voltei.
- onde no exterior?
- Toronto.
- nossa, me lembro que você disse que queria ir pra lá, que bom que conseguiu.
- é, foi muito bom.
Ficaram em silencio por mais alguns metros.
- Sam... – começou ele, mas foi interrompido, o som do nome dela quase não saiu.
- você quer voltar?
- hein? – ele ficou confuso com a pergunta, aquelas três palavras o confundiram.
- pra Toronto. Você quer voltar pra lá?
- ah! Talvez. Talvez eu volte pra lá sim. Na faculdade tive um professor que é dono de um laboratório de pesquisa, quando voltei ele me disse que minha vaga sempre estaria lá, me esperando.
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Ben e Sam
RomanceUma breve estória sobre duas pessoas que se amam, mas nunca descobriram como fazer funcionar. Não possui cronologia definida, são relatos de acontecimentos, de encontros e despedidas.