Eras antigas não mais residiam em Orbis. O período de feras e heróis lendários, seres de luz e sombras, magia e seus portadores. Todos pereceram diante as anomalias generalizadas, surgidas do nascimento de uma nova espécie. Os seres humanos. Nascidos de um pecado antigo, o fruto proibido. A humanidade, embora mais fraca e insignificante, era muito mais numerosa do que todas as demais raças, junto a isso carregavam consigo a maldição de Eva. A maldição da reprodução. Algo incomum já que estes, tornaram-se capazes de relacionar-se e reproduzir-se com todas as demais raças já existentes, criando raças impuras, seres híbridos, crianças mágicas.
Novas formas de vida originaram-se deste pecado. Comumente tornava-se possível observar crianças humanas com feições mitológicas. Porte frágil, olhos vívidos e claros, fios capilares longos e esguios, acompanhados de orelhas pontiagudas, caninos ferozes, pele dotada de escamas ou demais anormalidades. A variação alterava-se conforme a mescla genética na qual o jovem originava-se. Dentre todas as combinações possíveis, os semi-Driadys eram os mais abundantes de sua espécie híbrida, tendo em vista a semelhanças físicas entre o povo da floresta e humanos, não havia tanta repulsa entre as raças em sua época.
Lendas mais antigas do que posso me lembrar mencionavam que estes seriam os seres ascendentes, aqueles que trariam a estabilidade a muito perdida na guerra de Apocalio. Religiões e demais formas de crenças surgiram a partir daí. Ídolos. Assim foram chamadas as crianças nascidas híbridas, seres portadores dos traços da alma humana, e do poder mágico das criaturas pela qual originaram-se. Entidades detentoras de características tão poderosas que sua existência era equiparada a de Deuses. Entretanto, no percurso da história, algo mudou. Com seu poder sublime, os ídolos passaram a ser temidos por todos. Caçados por seus iguais humanos, refutados por seus iguais mágicos. Leis foram estabelecidas com o objetivo de coibir tal relação entre as espécies. Leis com severas punições.
Fogueiras a céu aberto, açoitamentos públicos, torturas de todos os tipos imaginados. A morte nunca era simples, nem para os ídolos, nem para seus pais. Condenados por darem origem a vidas tão impuras. Muitas das vezes seus progenitores eram presos após o nascimento, seus respectivos filhos capturados e tratados como qualquer criança normal. Ou quase isso. Os ídolos não iam a escola, não ressoavam cânticos mágicos ou possuíam qualquer informação humana. Eram banhados em total ignorância até completarem cinco anos de idade. Não recebiam festas ou presentes, apenas uma alimentação simples e pouca água, cresciam como qualquer outra criança pura, mas cresciam na miséria. Sobre a custódia de qualquer humano que disponibiliza-se, até que completavam cinco anos de idade, dia este que, segundo seus criadores, seria o único momento em que seriam presenteados. Tortura, seria seu alimento. Seu sangue, seria seu vinho. Sua morte, seria seu presente.
Ironicamente a humanidade que dizia-se ser abençoada pelos deuses, era mais terrível que o pior dos Demônios. O motivo pela qual os ídolos eram criados, um motivo tão vil. Garantir que eles crescessem até que pudessem manter total noção dos acontecimentos ao seu redor. Torturar e matar uma criança que acabara de nascer seria fácil, mas algo nos olhos daqueles bípedes fracos dizia que não era o suficiente. Tais criatura necessitavam ouvir os gritos de socorro, vislumbrar as lagrimas de desespero, presenciar o esforço contínuo contra a dor provida, por eles. Aos ídolos. Humanos passaram a demonstrar sua real face desde então.
Sempre me perguntei como mantinham relações tão estáveis com os demais seres puros, e como estes acatavam a todas as sentenças impostas, permitindo que suas crias, filhos e netos, fossem tratados com tal brutalidade, por mãos de seres tão inferiores. Quais as razões de se relacionarem sexualmente com os mesmos, sendo que sabiam seu destino ao fazê-lo. Diversas variáveis passaram pela minha mente, inúmeros cálculos inexistentes, imensuráveis razões, tudo sempre voltava para o ponto que originou tudo aquilo. O Pecado. Seres humanos nasceram do pecado e com eles vivem ao longo de suas vidas. As boas relações nada mais eram do que a linha lógica da sobrevivência. - "Se uma único cupim, embora maior e mais forte, ataca um formigueiro, todas as formigas se voltarão contra ele. Assim sucumbindo". Logo as boas relações nada mais eram do uma questão de poder numérico e intimidação, eles eram reis e as demais espécies meros camponeses atendendo a tudo, com tudo que continham. Sendo assim, por que a reprodução em massa se mantinha, essa pergunta sempre foi a mais simples de ser respondida.
Os desejos providos da Luxúria humana sempre foram claros. Desde a revolta humana, a grande maioria de todos os híbridos originaram-se de estupros cometidos pela humanidade, ela que mantinha-se tão cega, que sequer importava-se com as consequências e com sua eventual morte. Afinal, dotados de hipocrisia, os humanos jamais acreditaram que a penitência poderia cair sobre eles, mesmo que, cientes de suas próprias leis. Devido a isso, condenaram seus filhos como se estes fossem os culpados por seus atos. Como se a magia dos ídolos os atraísse inconscientemente a fim de tentarem livrar-se da morte. Algo inútil.
Os ídolos. Todas as crianças híbridas foram consideradas sacrifícios visando manter a estabilidade no mundo, como, se a morte de cada uma fosse a forma de preservar aquele sistema fictício que os humanos geraram. Mesmo que por culpa deles próprios. Desde então o mártir dos ídolos fora considerado aquilo que traria paz a humanidade. Algo que jamais consegui concordar. Desde então sigo minhas convicções investindo a favor daquilo que acredito.
"Os humanos dizem que os Ídolos precisam morrer em prol da paz. Já eu, digo que a paz só será estabelecida, quando todos os humanos estiverem mortos."
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Idol Five
FantasyIdol Five baseia-se em uma trama criada a partir de um pensamento que surgira enquanto assistia o anime Isekai Shokudou, durante a época em que estava lendo a obra de Saraah J. Maas, trono de vidro. Desde então decidi por inciar essa história que se...