Capítulo I

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Faziam horas desde que o sol havia partido da capital. O grande centro comercial do império Quod mantinha-se tão belo quanto nunca. O cintilar de cada estrela presente no céu tornava-se opaco quando comparado ao reluzir das inúmeras bijuterias que as damas locais carregavam enquanto caminhavam ao lado de seus respectivos maridos. Ou amantes. Prostitutas eram, provavelmente. - Não importa - Salteava por cima das edificações que ocultavam-se nas sombras por trás do centro comercial, especificamente aquelas eram as residências da população mais pobre, que, embora fosse tão rica quanto qualquer criatura vivente, não se equiparavam aos padrões dos verdadeiros Lordes humanos.

A Cidadela. Meu alvo estava cada vez mais próximo de meus olhos, encobertos por um capuz que estendia-se em um manto de entonação chumbo. O pequeno castelo brilhava tanto quanto as ruas, uma festa seria dada ao badalar da meia noite. Festa essa que não havia sido convidado, afinal, seres como eu vivem às escuras, correndo, fugindo daquela raça porca que são os humanos.

Com um salto sobre humano, pude alcançar o topo de uma das muralhas que envolviam aquele castelo. Mantendo total cautela a fim de não ser notado pelos vinte guardas que guarneciam o local. Enfrentar aquele conjunto de lustres, velas e demais fontes de luz era algo que, para mim, tornava-se algo particularmente difícil devido minha visão aguçada. Própria para a noite. Com paciência e certa agilidade, finalmente atingi os pontos altos do monumento, fazendo uma escalada precisa e inaudível. Desaparecer da humanidade sempre fora uma de minhas maiores especialidades.

Um badalar. Repousado sobre o parapeito próximo a uma das janelas, pude avistar o grande pátio onde o centro de toda a festa ocorria. Dois badalares. Todos os convidados, lordes, ladies, crianças, velhos, sábios. - Sábios. Pensar que algum daqueles monstros era considerado sábio, me enojava. Todos começavam a se mover-se para o centro do pátio onde uma cadeira, apenas uma cadeira se encontrava. Três badalares. Todos aqueles olhos curiosos e famintos, ansiando pelo banquete que viria. Quatro badalares. A porta do pátio principal se abriu, e dela atravessaram dois dos guardas que anteriormente mantinham a segurança do local, atrás deles um homem de vestes bregas e esnobes, segurando a mão de uma pequena garotinha vendada. Cinco badalares. Todos os convidados deram um passo ao lado para abrirem caminho para aqueles quatro. A garotinha rapidamente foi retirada das mãos do homem, Lorde Villard. Após sentar-se, começou a ser amarrada sobre a cadeira. Seis badalares. Cada nó em seu corpo alimentava o sorriso de todos ali presentes, exceto os meus, que mantinham-se fixos naquilo que assistia. Sete badalares. Quatro dos diversos convidados davam passos a frente enquanto portavam ferramentas afiadas e pontiagudas como facas e canivetes, indo em direção a garotinha como leões próximos de sua presa. Oito badalares. Dois gritos. Um silencioso, outro tão audível quanto qualquer uma das badaladas do grande sino. A primeira mulher havia berrado em euforia após preencher o estomago da pobre criança com sua faca cujo fio brilhava, demonstrando o quão preciso havia sido seu corte. Um líquido avermelhado escorria pelo local, enquanto lagrimas escorriam dos olhos da garota que mantinha-se com a boca aberta. Sua dor era tão grande que sequer conseguia emitir sons de sua voz. Um grito silencioso. Nove Badalares. O segundo homem cravara algo semelhante a um florete em ambas as coxas da garota, atravessando-as e unindo-as pela eternidade. Dez badalares. Números incontáveis de pequenos cacos de vidro eram colocados dentro da boca da garota, pelas mãos de um jovem de aparentes dez anos, naquele momento não consegui conter meu sorriso. Onze badalares. Um canivete descia pelos braços da jovem, até seus pulsos. Quem fizera tamanha atrocidade. Eu sequer prestava mais atenção. Doze badalares. Lorde Villard, o homem que antes segurava as mãos da garota, neste momento puxava seu pescoço, cortando-o livremente enquanto permitia que todos seus convidados visualizassem o sangue que jorrava da garganta da garotinha.

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