Capítulo 3
Katherine encontrava-se agora perto do celeiro, no local em que tinha visto Cores pela primeira vez. Era ali que gostaria de enterrar o seu fiel companheiro, a sete palmos do chão. Pegou ela mesma uma pá de haste longa e começou a escavar o chão de terra batida, a fim de dar início à tarefa, dispensando a ajuda e a companhia de todos que se ofereceram, com exceção de Emily, que permanecia às suas costas, não fazendo nada além de chorar.
A mãe de Katherine permanecia dentro da propriedade na companhia das outras mulheres que estavam em visita, e não tinha sido informada do ocorrido. Já os homens, com exceção dos três que trouxeram o corpo canino, não haviam retornado ainda da caçada, o que provavelmente só fariam ao entardecer.
A jovem plantou a pá no chão mais uma vez, fazendo uso de toda a sua força, o que era uma forma boa de aliviar a raiva. Mas não era o suficiente, Katherine continuava irritada, bufando a cada erguida da pá. Sete palmos seriam necessários, e sete palmos ela cavaria sozinha. Não necessitava de ajuda, e não a queria. Nem dos criados, e muito mesmo do seu prometido. Falando nele, James, ou Sr. Altemberg para os menos íntimos como era o caso dela, ousou se aproximar.
A primeira coisa que Katherine percebeu foi o cessar dos gemidos de Emily às suas costas, e então, logo em seguida, vieram o som de botas pisando na terra e os sons de galhos e de folhas esmagadas. E Katherine soube, sem se virar ou interromper sua tarefa, quem era o visitante impertinente. E seu pressentimento, sobre de quem se tratava, foi confirmado ao ouvir a voz de James, falando com sua amiga:
- A senhorita me daria um momento a sós com a minha noiva?
Noiva... Essa palavra, e apenas ela, foi capaz de revirar as entranhas de Katherine. Eles ainda não tinha formalizado o noivado, nem enviado os proclames, o que poderia demorar mais alguns anos para acontecer, algo que ela ansiava com intensidade.
Se o compromisso não pudesse ser desfeito, e ela sabia que não podia, que fosse adiado ao máximo. Porém, havia um prazo estipulado, James não poderia passar dos vinte cinco anos, e ele agora contava com vinte e dois. Então, que ele fosse para o mais distante possível dela pelos próximos três anos. E esse tempo ainda seria pouco.
Katherine não escutou o que Emily disse em resposta, mas sabia que ela não negaria o pedido, por isso não se surpreendeu ao perceber sua amiga se afastando. Embora não tivesse deixado de cavar, nem deixado de dar as costas.
Cores jazia aos pés da jovem, com seu corpo canino inerte e com os pelos antes branco e preto tingidos de rubro, e ele era um lembrete do que o seu prometido tinha feito. Algo que Katherine jamais seria capaz de esquecer. Por isso, quando ele pediu-lhe a pá para cavar no lugar dela, a jovem, sempre tão obediente, dessa vez não cedeu. Não seriam aquelas mãos, responsáveis por sua morte, que seriam também as responsáveis pelo descanso eterno do cão.
Katherine continuou cavando, sem olhar para sua nada desejada companhia, e James ficou parado próximo a ela, agora com suas mãos nos bolsos. Sua camisa tingida de vermelho sangue era mais um lembrete à jovem do que ele havia feito.
- A senhorita vai demorar muito tempo para cavar esse buraco sozinha, a menos que me deixe ajudá-la. - ele insistiu.
E Katherine, novamente, não disse nada. Ela tinha feito aquele pacto de silêncio com ela mesma. Só dirigiria a palavra a ele se fosse extremamente necessário. E, nesse momento, não era. Além disso, não havia nenhuma testemunha, caso ela lhe destratasse, além do próprio interlocutor que poderia, no máximo, romper o noivado. O que daria um enorme alívio a jovem. Mesmo que ela fosse excluída da sociedade, a nobreza costumava ser cruel com as mulheres, o exílio seria muito mais agradável do que a companhia dele.
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Sob a magia do luar (degustação)
Historical FictionSinopse: Katherine Moore aprendeu a se controlar, desde pequena simulando uma calma que por dentro não sentia. Aceitou o seu destino, selado desde seu nascimento, bem como o seu compromisso de casamento, arranjado como foi o caso de seus...