sem notícias

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"o número que você ligou está indisponível no momento, deixe um recado após o sin____"

encerrei a chamada pela quarta vez no dia, já irritada com o sumiço da minha namorada. as mais diversas paranóias começaram a surgir na minha mente e as preocupações... bom, nem se fala.

claro que era mais provável ela ter ficado atolada de coisas pra fazer no trabalho do que está me ignorando ou traindo. talvez tivesse dado algum probleminha no celular, ela nunca ficava sem me atender assim e as mensagens que eu enviava só tinham uma seta há quase dois dias completos, mas ir até ela talvez fosse meio desesperado.

eram muitos "talvez" e quase nenhuma certeza. a preocupação em si começava a ser maior que qualquer teoria boba e ciúmes. eu só queria/precisava saber se ela estava bem.

nely carregava uma grande responsabilidade; dirigir uma galeria às vezes era quase impossível. e por esse motivo, não se cuidava muito bem. às vezes deixava de almoçar, se sustentava com várias xícaras de café, fumava muito quando tinha alguma exposição grande, estava quase sempre com uma carinha de sono (que eu sou apaixonada), eu só queria cuidar dela.

[não disse como]

eu já não tinha muitas ocupações, e nem muitos amigos ou familiares próximos.

recebia uma quantia relativamente boa, uma indenização do governo por conta da morte do meu pai; que era militar. minha mãe vinha me visitar de duas em duas semanas e a nossa relação era maravilhosa assim.

nely também só tinha a mim praticamente, estávamos juntas há quase dois anos. o que me fez pensar que ela nunca tinha sumido por tanto tempo.

exagero? talvez... eu precisava tentar me distrair um pouco e esperar até ter notícias dela.

enchi a banheira e coloquei alguns sais de banho para relaxar, depois de estar confortavelmente deitada, recostando a cabeça sobre meu próprio coque, acendi um cigarro.

a fumaça densa subia e se esgueirava para fora, através da pequena e delicada janela acima de mim, o cinzeiro quase vazio do meu lado esquerdo me provocava a fumar mais um e depois mais outro.

no quarto cigarro minha pele já estava enrrugando devido o contato com a água, um último trago e mergulho para tentar afogar um pouco meus pensamentos aflitos. volto a superfície onde posso respirar e percebo o frio que o fumo outrora ocultava.

fico de pé ao sair da água e me recordo de nós duas transando ali, seus gemidos provocados por mim ecoavam toda a acústica do banheiro; senti saudades.

vesti um roupão que não cobria muito além das minhas coxas e enquanto escova os dentes ouvi o interfone tocar.

- finalmente. - pensei alto.

entrelaços (conto lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora