Era final de maio de 2012, inicio do inverno no Brasil, eu me preparava para a grande viagem. Quem diria ir para Europa, conhecer novos países, novas culturas no mundo antigo, ou velho mundo.
Os preparativos eram muitos, local para chegar, quanto de dinheiro levar, meios de transportes mais fáceis para um estrangeiro que não domina o idioma, diga-se de passagem, um estrangeiro que realmente não fala o idioma, estava indo para França, na segunda maior cidade francesa, Lyon, localizada próximo da Suíça, uma cidade próxima de Grenoble, com estações do ano bem definidas.
O dia do embarque havia chego, tudo em ordem, convidada para trabalhar numa empresa de engenharia, na área de energias renováveis, havia fechado um bom acordo salarial, com ótimas condições de trabalho, não havia então nada que pudesse dar errado, tudo tão simples e ao mesmo tempo tão inimaginável, o sonho da maioria dos brasileiros, classe baixa a classe média, é morar na Europa, e eu estava indo.
Sem família a me apoiar, as 9hs da manhã chamei um táxi e rumo ao aeroporto, via toda minha vida como se fosse uma história sendo alterada do novo e suburbano mundo para o antigo e desenvolvido.
O táxi, ao nosso estilo brasileiro, motorista descolado, feliz com uma corrida longa - aeroportos sempre são distantes da cidade - mas de aspecto cansado, aquele de horas de trabalho, dirigindo seguido, com todos os tipos e estilos de passageiros possíveis, e logo percebia-se que recentemente levara uma mulher de exageros com perfume pirata, o cheiro estava impregnado no veículo, doce, enjoativo, a sorte eram as janelas estarem todas abertas, pois segundo o taxista o ar condicionado quebrara naquela manhã.
Ao chegar no aeroporto, já sentindo o espírito europeu, paguei a corrida e ainda dei ao taxista uma gorjeta, saltei e segui em direção a porta que dizia Tap, afinal aeroportos são imensos, mais fácil entrar na porta que possui o nome no seu bilhete de embarque.
O ambiente já era outro nível, ar condicionado, gente bem vestida, terno, roupas de classe aparente, mostravam beleza, mas em sua maioria não passavam de imitações baratas de alguma marca cara vendida na 25 de março, algo comum em São Paulo, comprar bolsas Louis Vuitton, blazers Hugo Boss por preços acessíveis a todos os bolsos.
Após realizar o check-in e despacho de bagagens parti diretamente para o portão de embarque internacional, pois la dentro só estariam os que podiam pagar por uma passagem internacional, logo estaria numa classe mais elitizada. De fato, todos estavam bem vestidos, apresentavam boa educação, ou, pelo menos, o que eu considerava boa educação, pessoas sentadas com seus lap-tops, ignorando a existência dos demais no mesmo recinto.
Anunciaram o embarque: "Vôo da Tap: São Paulo - Lisboa às 16hs embarque autorizado no portão de número 108". Muitos levantaram-se rapidamente e seguiram em direção ao portão anunciado, com muita pressa, como se alguém pudesse roubar o seu assento já numerado na passagem. Então segui na mesma pressa, sem realmente entender o motivo dela, para o vôo que me levaria a Lisboa e depois Lyon.
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Eu era brasileiro...
Non-FictionHistória baseada em fatos reais de imigrantes brasileiros que partem para a Europa em busca de sonhos, mas na verdade encontram um mundo diferente do que esperavam, cheio de desafios, dificuldades e paixões sorrateiras.