Quando é pra ser

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-Mar acorda, a mamãe está te chamando!- Kim berrava em meus ouvidos enquanto me sacudia.

-Ta bom Kim, diz pra mamãe que já vou levantar pra me arrumar.

Minha irmã caçula sai correndo do meu quarto e fecha a porta com força.

Ah, como eu eu adoraria que fosse sábado, mas infelizmente é só uma segunda-feira qualquer.

Levanto-me da cama e vou direto ao banheiro fazer minhas higiênes.
Observo cada detalhe do meu rosto no espelho. Droga! Uma espinha surgiu no meu queixo, e está enorme. Procuro meu pó em todos os lugares possíveis, mas não o encontro em lugar nenhum.

"You, you're gonna break my heart
You're gonna tear it apart
No matter what you do [...]"

Meu celular começa a tocar ao som de Never be Alone, uma das minhas canções favoritas.
Corro para atender. Era Débora, minha "melhor amiga".

"Oi Débora..."

"Mar, oi! Hoje eu resolvi me arrumar mais cedo e daqui uns vinte minutos chego na escola. Quer que eu passe na sua casa antes e te dê uma carona?"

Débora, nunca vai cedo pra escola. Ela sempre chega uns cincou ou dez minutos depois, e sempre arranja desculpa. Hoje, provavelmente vai chover, ou melhor, ter tempestade na cidade, por ela estar indo mais cedo à escola.

"Pode ser. Vou ver se consigo me arrumar em vinte minutos."

"Ok, até daqui a pouco então."

"Ah, será que tem como você levar seu pó? Uma espinha horrível surgiu em meu queixo e eu não tenho o que passar por cima pra disfarçar."

"Tudo bem. Até mais."

Ótimo, consegui resolver o primeiro problema do dia. Voltei para meu quarto e comecei a pensar no que vestiria. "Fique bonita hoje" minha consciência dizia sem motivo algum.

Estranhei. Abri meu guarda-roupa e analizei cada peça de roupa. Realmente estou precisando de roupas novas.

Tirei do cabide uma blusa da minha banda favorita 7months. Era uma banda pequena, mas muito conhecida no país. Haviam lançado apenas 1 álbum e já estavam estourando nas rádios e emissoras de Tevê.
Abri minha gaveta e nela peguei meu shorts jeans favorito.

-Kim!- gritei- venha aqui rápido.

Ouvi passos correndo vindo da cozinha. De repente a porta abriu e a pequena entrou com um enorme sorriso no rosto.

-Pode me ajudar? Não sei se uso meu Vans ou minha sapatilha. - Sim. Eu estava pedindo ajuda à minha irmã de 11 anos. Apesar de ainda ser pequena, a garota entendia muito de moda.

Kim fez uma cara pensativa e começou a coçar o queixo como se fosse tomar uma decisão muito difícil.

- Nenhum. Use aquele seu Crocs preto, vai combinar mais.

Peguei o par de Crocs na sapateira e o coloquei no pé. Realmente havia ficado muito bom.

- Obrigada minha estilista favorita.- Agradeci e fui abraçá-la, porém, Kim deu um passo atrás e se recusou.

-Não preciso de abraços. Sabe que eu odeio isso.- bufou- Ah, e use seu cardigan rosa. Vai ficar lindo.

- Tudo bem, sem abraços então mocinha. Pode ir agora.

Ela sai do quarto sem fechar a porta e reviro meus olhos. Odeio isso.
Pego o cardigan, que Kim falou pra mim usar e o visto.

Tiro meu celular do carregador, coloco minha mochila nas costas e saio do quarto.

Um cheiro de café invade o corredor. Sorrio e entro na cozinha. Adoro tomar café logo pela manhã.

-Bom dia mãe.- Falo e a abraço.

-Bom dia Mar. Pegue.- Ela me entrega uma xícara com café e um saco de papel, com meu lanche do almoço dentro.

Agradeço e sento na cadeira em frente ao balcão para tomar meu café.

-Débora vai passar aqui pra me dar uma carona.- comento.

- Ela resolveu acordar cedo numa segunda-feira do nada?- Kim pergunta.

-Pelo jeito sim...- Mamãe comenta.

As duas começam a discurtir sobre Débora ter acordado cedo. Não me importo muito com o assunto então, começo a gravar snapchats e mandar para alguns amigos. Os efeitos estavam piores do que nunca. Faltava criatividade.

Ouço o som da buzina do carro de Débora lá fora. Levanto e coloco a xícara na pia.

-Tchau mãe, tchau Kim. Até depois.

-Tchau filha, amo você.

-Tchau Mar.

Saio de casa e vejo o Mini One preto dela estacionado.

Assim que entro, ouço tocar na rádio "Everything you want" dos 7months e começo a gritar.

-Melhor música.- comento.

-Com certeza.- Débora diz e começamos a cantar juntas.

A letra nos permite sentir uma alegria intensa e assim que a canção termina nos sentimos mais felizes. Eles sempre vão ser a melhor banda já existente no mundo. Eu faria de tudo pra ver um show deles.

-Sabe Mar... tô sentindo que hoje não vai ser chato. Pela primeira vez na vida, uma segunda não vai ser chata.- Débora entra no estacionamento da escola e procura uma vaga.

-Também tô sentindo isso... Mas não é possível.- falo.

-E por que não?

-Hoje tem aula com o professor Collins.- Resmungo.

-Ah, verdade! Nossa... pior professor de matemática existente. Por que ele não morre logo?

-Credo Débora! Não fala isso.- reclamo.

-Ué, aposto que você também queria isso.

-Não né... Ele pode se tranferir para outra escola e entrar um professor novo. Não precisa morrer.- Comento.

Achamos uma vaga na sombra e ela estaciona.

-Olha. Que sorte, uma vaga com sombra. Eu tô dizendo que hoje vai ser um dia bom. Tô dizendo...

-Tomara que você esteja certa então.

Saímos do carro e entramos na escola. Andamos o longo corredor e então chegamos à nossa sala.