Onde Tudo Começou

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POV Aurora

Carrego os livros da mesinha da sala para o meu quarto e pouso-os em cima da minha cama, sentando-me em seguida em cima dela cruzando as pernas. Uma tristeza invade-me ao olhar para os livros de culinária da minha mãe e documentos da antiga empresa onde o meu pai trabalhava. A casa ultimamente tem estado bastante vazia desde que tudo aconteceu. Costumo sair para ir á faculdade e trabalho numa biblioteca ao fundo da rua para me sustentar razoavelmente.

Passo a mão por cima de um albúm já dominado pelo pó acumulado sob a sua capa e abro-o. Fotografias de mim pequena fazem as lágrimas contidas à bastante tempo deslizarem pela minha face. Tenho saudades de tudo, destes dias em que iamos passear ou quando passávamos de carro pelas ruas iluminadas de noite. Era tudo tão perfeito, mas deixou de ser com a partida deles. Agora tudo não passa de memórias deixadas para trás, só relembradas vagamente quando passamos por algo semelhante ou até quando encontramos fotos que foram tiradas para serem recordadas e vistas em família uns bons anos depois. O facto de não ser uma dessas ocasiões entristece-me. Queria que eles estivessem aqui comigo, sem eles já não é a mesma coisa.

Fico um tempo a observar cada foto até ver uma que me chama mais a atenção: são os meus pais abraçados a sorrir, parecem felizes mas há algo que não me faz acreditar que estão completamente bem. Os seus olhos não estão a brilhar e os sorrisos parecem ser falsos. Observo atentamente a minha mãe que está vestida toda de azul, com o cabelo loiro solto a cair-lhe pelos ombros, uns saltos prateados e uma mala a combinar. Já o meu pai, dentro do seu fato elegante todo de preto e o seu cabelo castanho normal como sempre. Viro a foto para ver se tem algo escrito atrás e por surpresa minha, tem.

09/06/16, Los Angeles Bar

Los Angeles? Eles estavam em Los Angeles uns dias antes da sua morte. Eu nunca soube onde eles tinham estado, muito menos da existência desta foto. Só sei que morreram 3 dias depois desta foto ser tirada, de acordo com as datas. Tudo me leva a pensar que morreram em Los Angeles.

Sinto a minha cabeça a latejar com toda esta informação recebida e o meu coração a bater mais rápido do que há 5 minutos atrás.

Corro até à cozinha e pego num copo apressando-me a enchê-lo com água. Um sentimento de culpa preenche o meu coração. Eu deixei com que eles fossem, a culpa é toda minha. Levo o copo aos meus lábios e bebo tudo apenas com um gole. Preciso de dormir, não me estou a sentir bem. Caminho de volta para o quarto e enfio-me debaixo dos cobertores deixando que o meu corpo anteriormente frio fique quente. Á medida que fecho os olhos, o meu raciocínio torna-se cada vez mais lento e sou engolida pela escuridão do meu sono.

***

Acordo sonolenta e sento-me na cama. Tenho que fazer algo em relação a isto, eu nunca cheguei a descobrir mais nada sobre a morte deles. Eu sinto que a única coisa que eu preciso de fazer neste momento é vingar a morte deles depois de descobrir quem foi o culpado.

Abro o meu laptop e entro no site específico de viagens decida a comprar uma passagem para Los Angeles e investigar o que aconteceu naquela noite. Eu sei que tenho aqui a minha vida estabilizada, o emprego, a faculdade, os meus amigos mas também tenho memórias que me atormentam constantemente e eu preciso mesmo de descobrir o que aconteceu para finalmente conseguir dormir em paz sem ter um pesadelo que seja.

Decidi que vou pedir transferência para uma faculdade em Los Angeles e vou estudar lá. Posso sempre arranjar um quarto perto da faculdade e investigar aquela noite ao mesmo tempo. Depois dos meus pais morrerem, todo o dinheiro que eles juntaram durante anos para mim foi-me entregue, por isso é que tenho todas estas possibilidades. Acabo por sorrir. Eu vou descobrir o que vos aconteceu mamá e papá, vocês vão ver.

*** Umas semanas após ***

O avião para Los Angeles parte daqui a trinta minutos. Já estou no aeroporto á espera de entrar no avião, espero finalmente que com isto eu possa conseguir matar todos os fantasmas que me assombram á bastante tempo. Eu sei que é perigoso ir atrás da verdade, mas algo me diz que é o que eu tenho que fazer e sei que o vou conseguir. Talvez eu esteja a ser criança a ponto de largar a minha vida por apenas curiosidade, mas eu preciso de fazer isto.. ou isto, ou eu vou continuar a culpar-me a vida inteira por uma coisa que não fui eu que fiz.

Após entrar no avião, estou nervosa. não sei o que me espera e sinceramente não quero pensar muito nisso senão vou acabar por ficar mais nervosa ainda. O avião levanta e eu apresso-me a tirar o meu telemóvel da mala para me entreter enquanto esta coisa não pousa no chão. São cerca de 11 horas e sinceramente não sei o que irá livrar-me deste tédio.

Onze horas depois

Uma voz anuncia que o avião vai pousar e fico feliz por ouvir.

Finalmente vou sair daqui, estou enjoada e eu não queria nada ter que passar por um momento super embaraçoso dentro de um avião.

Saio do avião e depois de estar afastada do mesmo, já nas ruas de Los Angeles, tudo é lindo. Edifícios altos e bonitos, alguns feitos de vidro. Pessoas alegres a passearem com as suas famílias, namorados ou amigos. Crianças a saltitar e a rirem-se de alguma coisa que acharam piada. Paro por uns segundos a observar toda esta cena e penso que também já fui feliz assim e daria tudo para o voltar a ser, mas a felicidade não é conquistada com dinheiro, nem bens materiais.. mas sim com amor, carinho e pessoas boas á nossa volta que nos proporcionam tal sentimento. Apercebo-me de que estou parada há uns bons minutos apenas a olhar para tudo e acabo por rir e decidir chamar algum táxi.

Passado uns minutos, avisto o táxi ao longe e faço sinal para este parar e entro dentro dele.

Acentos cobertos por um couro preto e são realmente confortáveis. O taxista parece aperceber-se de que não sou daqui e sorri amavelmente para mim o que me faz despertar dos meus pensamentos e desviar os meus olhos bastante observadores para o taxista moreno, de olhos verdes e cabelo preto. Analiso toda a sua aparência por uns segundos e acabo por decidir dizer o que ele está á espera de ouvir, o meu destino.

- Para o hotel mais próximo por favor. - peço educadamente e sorrio.

- Claro menina. - um sorriso forma-se novamente nos seus lábios e isso faz-me pensar que estou a ter sorte, porque a primeira pessoa que eu tive o primeiro contacto aqui, é bastante amável.

Espero que todos sejam assim por aqui. Digo para mim mesma perdida novamente em pensamentos.

Aurora [H.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora