Capítulo 1

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::::HELOÍSA::::

Oi, eu sou a Heloísa e estou cansada! Cansada de todos me tratarem como uma santinha perfeccionista evangélica! Poxa vida! Todos temos falhas, e meu maior erro foi acreditar que as pessoas teriam misericórdia como elas pregam...mas não, elas simplesmente são cruéis.

...

Sete da manhã, meu primeiro dia de faculdade. Ainda não tenho certeza se quero seguir essa área, mas como no momento eu não tenho certeza de nada, acho que posso descobrir fazendo alguma coisa, até porque minha mãe ia pirar comigo se eu ficasse mais um ano me decidindo o que fazer da vida.

"20 anos Heloisa! 20 anos! E o que você fez da sua vida"

Isso mesmo, minha mãe é um doce.... as vezes.

Eu amo ela! Me criou sozinha, com a ajuda dos meus avós e tios, meu pai morreu quando eu era pequena em um acidente de carro. Era um homem bom, eu não me lembro ainda era muito pequena, tinha dois anos, mas minha mãe sempre me disse o quanto ele me amava. Ainda assim parece que falta um pedaço de mim, como se algo dentro de mim tivesse ido com ele naquele acidente, sempre senti esse vazio, essa lacuna dentro de mim, e esse é um dos motivos que me fazem chorar todos os dias, e a minha mãe com certeza não sabe disso.

"Heloisa Bernardini?"

Uma voz me desperta no meio da aula, e eu não faço a mínima ideia do que é essa bendita aula!

- Sim

-Presente?

- Presente professor ... hã, professora. Presente.

A sala cai na risada, e eu fiquei pálida igual a um fantasma, Jesus me tira daqui, quem sabe se eu orar baixinho ele dá um jeitinho de me tele transportar para o dia da minha formatura e pegar meu diploma, seria maravilhoso, só que não né Jesus.

Para minha salvação, a aula termina, e eu estou aqui paralisada de vergonha no meu lugar.

- Oi Heloisa – a menina da minha frente vira para trás e me cumprimenta.

- Oi.

- Eu sou a Liandra, mas me chama de Lia.

- Legal – Estou meio em choque, e não sei o que responder pra menina, tá bom que eu não sou lá a pessoa mais social do mundo, mas eu deveria falar alguma coisa mais "legal". Ok sem ideias para o momento, Jesus será que é demais pedir para ser salva pelo gongo de novo?

- Você já tem dupla para o primeiro trabalho da professora Mariana? – Eu não tinha ouvido nem isso na aula, ok Heloisa, hora de levar essa coisa de faculdade a sério, ou você vai abandonar o curso em duas semanas.

- Ainda não, eu ... meio que não ouvi essa parte de trabalho, é sobre o que?

- É bem simples, como é o nosso primeiro semestre de pedagogia a professora não quis pegar tão pesado, então ela pediu pra nos juntarmos em duplas e pesquisarmos sobre crianças com alguma deficiência e de como isso interfere na vida escolar delas.

- Tema legal – Ok eu preciso melhorar esse vocabulário. – Você já tem dupla?

- Ainda não Heloisa, mas estava pensando se podemos fazer juntas, eu ainda não fiz muitas amizades, sabe como é, primeiro dia.

- Claro, eu também não fiz muitas amizades, vai ser ótimo ter alguém pra me ajudar a começar nessa coisa de trabalho, eu não era lá a menina mais inteligente do ensino médio.

- Otimo, te vejo depois do intervalo! Preciso fazer uma ligação.

- Certo Liand... Lia. Obrigada.

Lia sai as sala, e eu fico lá mexendo nas redes sociais, o que não tem muita coisa já que eu sou bem desligada com essas coisas, minha foto do perfil foi atualizada a mil anos atrás e eu ainda estou loira com mexas castanhas (estranha, nem me fale!). Estou melhor agora, cabelo castanho quase preto, do tipo ondulado rebelde que só obedece a ele mesmo. Mas não sou lá a menina da selfie então vai ficar naquela mesma.

No decorrer das aulas algumas meninas vêm falar comigo, e eu conheço além da Lia, a Camila, e a Raquel, meninas ótimas e já combinaram três mil eventos e eu estou perdida, literalmente. Hora de ir embora (Aleluiaaa).

Deixo a sala de aula, e corro para o portão de saída, minha mãe me espera pra irmos pra casa almoçar. E se tem uma coisa que eu sou, é distraída e atrapalhada. Minha mente voa pensando em mil coisas e eu literalmente esbarro e derrubo qualquer coisa no meu caminho.

E sem perceber eu tropeço em alguma coisa, uma pedra, grande. E sim, eu estou de cara no chão, sentindo o cheiro de grama dentro do meu nariz. Essa foi ótima Heloisa, continue assim e você sai daqui especialista em comer terra!

- Caramba! Que tombo, você tá bem? - alguém que eu não vejo (por motivos de minha cara está enterrada no meio da grama) me ajuda a levantar, e que vergonha! Olha eu pálida de vergonha de novo, com um sentimento esquisito numa mistura de nervoso com vontade de correr e de chorar, me levanto limpo minha cara, ou tento, e quando olho, um moço de aparência não muito simpática me encara com cara de bravo.

- Hã... acho que sim.

- Que bom, me mandaram ver se você estava bem, se precisar de alguma ajuda pra sua...ã ... cara, bem é só você falar com o segurança do campus.

- Ok, obrigada.

O moço sai, meio apressado e vai falar com o segurança me apontando, e depois sai pelo portão do campus e não o vejo mais.

- Menino estranho – falo baixinho – não tão estranho quanto a menina que deu de cara com a grama.

Hora de ver a minha doce mãezinha, que me espera e vai me levar pro ensaio do ministério e louvor na igreja, onde eu sempre fico fazendo nada. Não é por mal, eu só não consigo me enturmar, ou sentir o que eles estão sentindo, chorar, me emocionar cantando, não está nos meus planos nem em casa nem na igreja.

Lugar Secreto - O verdadeiro amor pode ser encontradoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora