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Eu nunca chorei tanto quanto chorava naquele momento.

As lágrimas caíam dos meus olhos borrando o papel em meu colo, inclusive borrando marcas de lágrimas antigas, mas eu sabia que as lagrimas tinham significados totalmente diferentes. E Kyung me olhava em silêncio no carro, ele sabia que eu precisava apenas chorar, apenas liberar tudo que eu sentia trancado em meu peito.

— Ele me amava tanto, e eu amava tanto ele. Porra, por que isso aconteceu comigo? Por que? — eu pedia entre soluços, desesperado, quase engasgando com as lágrimas.

— Eu vou buscar água e... Quem sabe vodca. Merda. — ele disse baixo, saindo do carro para ir até o pequeno posto do outro lado da rua.

Continuei chorando, obvio, meu peito doía tanto, tudo doía. Eu estava preocupado, com raiva, com remorso, triste, eu queria ele de volta, eu queria saber como ele estava, eu não dava mais a mínima para a droga do meu passado. Eu só precisava saber como ele estava.

Em alguns segundos batidinhas no vidro me assustaram, e quando olhei, era apenas uma senhora preocupada com um garoto maluco chorando dentro de um carro preto no acostamento de uma estrada. Depois de explicar três vezes que eu estava bem, recusar suas tentativas de pedir ajuda e conseguir à fazer ir embora, eu limpei meu rosto com as mangas da minha camiseta. Achei a situação irônica, pois eu realmente preciso de ajuda, mas ninguém pode me ajudar nisso.

Kyung estava demorando, então eu decidi sair e ir até o posto também, quem sabe eu comprava alguns chocolates e me sentia melhor. Assim que entrei, o vi conversando com a garota do caixa, ela sorria e ele também, acabei rindo baixinho e passei por ele, indo direto à sessão de doces, precisava de algo para me fazer esquecer a dor do meu peito e se tinha uma coisa que fazia isso muito bem, com certeza era a droga do chocolate.

— Eu geralmente como os de amendoins, além de deliciosos eles enchem mais, e algo me diz que eles são seus preferidos. — uma voz soou ao meu lado.

Assim que me virei confuso como alguém que acabou de receber uma prova de matemática, acabei sorrindo surpreso como se tivesse com uma nota boa nela, vendo a silhueta tão bem arrumada de Jungkook ao meu lado. Ele segurava o celular mostrando a mensagem de Kyung, avisando que precisava dele comigo agora, e eu acabei fazendo um bico, pronto para voltar a chorar, mas sabia que eu não podia fazer isso na frente dele.

— Estava chorando, não estava? Ou melhor, ainda está. — Eu apenas consegui assentir antes de desabar novamente, desta vez nos braços de Jeon.

Jungkook era absurdamente confortável, e seu cheiro nunca havia mudado, cheiro de lar, de segurança, e ele sabia disso, pois me apertava o suficiente para transmitir um sincero "eu estou aqui". Ele sempre esteve aqui por mim, desde nossos anos juvenis até hoje em que é um adulto e eu... uma tentativa falha de vida.

...

— Você nunca me contou isso... Se eu soubesse, eu teria ajudado. — seu tom de voz intercalava entre decepção e mágoa.

— Me desculpa, eu tinha medo que ele me machucasse também.

Após passar três horas sentado ao lado de Jungkook na areia da praia, o contando sobre o professor Seokjin e tentando arranjar coragem para contar das cartas, eu conseguia me sentir melhor. Pelo menos um pouco.

A real história por trás de nós, era que, naquela época, Jeon Jungkook era apenas um garoto mais novo que pela inteligencia conseguiu estudar numa turma à frente dos garotos da sua idade, conhecendo Park Jimin, o típico popular diferentão que não ligava para a fama que tinha. Cogitamos a ideia de nos apaixonar naqueles anos, mas nossa amizade era tão boa, que nem mesmo uns beijos embaixo da arquibancada conseguiram nos tornar mais que bons amigos. Então ele conheceu Taehyung, e eu... vocês ja sabem.

Tentava me lembrar de como conheci myg, mas a única coisa que me vinha na cabeça era um site idiota de relacionamento virtual, eu nunca o vi, isso eu tinha certeza absoluta. Eu nunca vi myg na minha vida, nem sequer em meus sonhos.

— Está bravo comigo? — a pior coisa que eu poderia desejar era Jeon bravo comigo.

— Não, tudo bem. Eu escondi coisas de você também.

O olhei confuso, meus olhos brilharam por um segundo torcendo para ser algo sobre o que meu coração tanto aclamava, mas Jungkook contou uma história idiota sobre ter transado com um ex namorado meu quando estávamos na festa de férias de verão do Hoseok. Acabei rindo e lhe dando alguns tapas, tentando me lembrar daquela época.

— Hoseok... — vagas lembranças da carta em que li, onde meu suposto namorado dizia sobre um boato em que Hoseok espalhou sobre mim me veio à cabeça, me fazendo questionar: — o que aconteceu com ele?

Ele pensou um pouco, suspirando enquanto pegava o celular e abria alguma rede social que não me dei o trabalho de identificar. Mostrou um perfil e lá estava, Jung Hoseok. E porra... Não sei o que ele fez comigo, mas sei o que eu gostaria que fizesse.

— Uau, ele tá bonito. — disse com um leve sorriso, lembrando o quanto ele sempre foi bonito.

— É... Você se lembra dele? Do que ele fez? — o tom de voz de Jeon nunca me enganava, ele sentia um certo rancor.

Neguei, não sabendo se queria mesmo lembrar, estava cansado de descobrir as drogas que fizeram meu passado ser o que era, ou melhor, as pessoas que o fizeram. Mas ao mesmo tempo fiquei curioso, já que o suposto boato deixou myg tão irritado, talvez fosse alguma bobeira que o deu ciúmes.

— Você apareceu com uns chupões no pescoço uma vez na aula, e ele disse que vocês acabaram se divertindo até demais no banheiro da StarBucks. Você acabou sendo chamado de Expresso Especial por umas quatro semanas e até fizeram umas montagens.. Criancice. — contou, fingindo rir para não parecer algo tão grande, típico dele.

— Nossa, isso é uma merda. — fiz uma careta e o olhei irritado — Ta rindo por que?

— Porque você deu um soco na cara dele depois, foi tão legal. Ele ficou sem ir pra escola até o olho dele voltar ao normal e todo mundo ficou quieto, com medo de apanhar também. — Jeon ria debochado. Acabei sorrindo, me permitindo rir alto e me gabei por ser forte, esquecendo todos os lados ruins dessa história por um tempo.

Comecei a me sentir realmente melhor, lembrar do passado, das tardes que passava com Jungkook. Tudo era ótimo até ele conhecer Taehyung. Não que Kim seja um problema, mas acho que comecei a me sentir sozinho quando eles começaram a namorar, ainda mais por saber que myg estava doente, talvez fosse por isso que tantas coisas bobas me afetavam de uma forma realmente grande.

— Eu senti tanto a sua falta. — ele confessou, me olhando de relance enquanto seus dedos tocavam a areia da praia.

E ali, vendo as ondas quebrarem na superfície, o céu nublado, a brisa gelada, as gaivotas fazendo aquele barulho irritante e gostoso ao mesmo tempo, eu o olhei com um sorriso.

— E eu senti a sua.

10881 | pjm+mygOnde histórias criam vida. Descubra agora