Localização Celles – Província de NamurBélgica, Setembro de 2017.
O sol corteja sutilmente o Castelo de Miranda, seu tom alaranjado contrasta com o verde das folhas que se erguem do chão para as paredes de pedra. Mesmo que o mundo tenha sito tão cruel com o castelo em ruinas, o sol faz questão de lembrar que ali já houve vida, muitas cantigas e histórias supostamente desconhecidas passarão pelos dedos do pai de Wen, um renomado historiador.
A jovem com olhos vidrados nos quadros queimados consegue absorver a beleza morta, o frio se faz presente conforme a noite cai. Seus lábios arroxeados estremecem a cada minuto que se passa, mas não é frio, Wen sabia muito bem que está na hora de ir para casa o mais rápido que conseguir.
– Pai... Até quando vamos ter que ficar aqui? – Seus ombros caem se queixando.
Viajar de uma cidade para outra às vezes tem suas desvantagens, entre elas está o cansaço.
– Só mais um pouco querida, vá encontrar sua irmã e peça para sua mãe ir para o carro antes que escureça. – Wen conhecia bem aquela frase, isso significa que ele vai demorar e muito.
Ela segue a voz de seu pai passando por alguns pedregulhos, estava pronta para mais um discurso sobre precisar ir embora, e lá estava ele ao lado de uma prateleira de livros. O engraçado é que não há livros, apenas restos deles. Seu pai evita tocar os papeis velhos, ele erguia um objeto ocular enquanto capta cada detalhe.
– Dr. Willians! – Rugiu Wen.
– Só mais um instante minha filha... – Sua voz ia diminuindo conforme busca por algo olhando de lá para cá.
Seu pai sequer ousou em olhar Wen, apenas acenou com uma das mãos para que ela fosse. Ele está completamente fascinado com a beleza amarelada dos papeis de idioma estrangeiro, sem seus materiais de estudo o Dr. Willians evita toca-los para que não se percam para sempre num passado distante.
Wen continua a olhar o homem ainda de costas, suas roupas estão completamente empoeiradas e ele parece nem se importar, até mesmo os cabelos grisalhos estão a fiapos.
– Faça bom uso dos seus últimos momentos. – Enfurecida a jovem decide ir procurar sua irmã.
Ela se vira deixando para trás o pai que ria sozinho, Wen podia imaginar a cena em que ele acha algo inesperado. É uma visão um tanto engraçada quando seu pai começa a perceber o que está fazendo, toda a sua pesquisa em suas mãos de forma tão descuidada.
Mas mesmo assim Wen se sente irritada com a atitude de seu pai parar no meio da estrada para vasculhar um castelo abandonado de mil novecentos e alguma coisa, em sua cabeça passa várias formas de dizer para sua mãe o quão desinteressado está seu pai em procurar o novo lar, para ele tudo o que importa é o passado, pelos menos o que restou dos dias tenebrosos daquela época. A jovem anda pelo corredor olhando rapidamente cada porta por onde passava, mas se sentia cada vez mais frustrada quando sequer notou algum vestígio de onde Liv poderia estar. De alguma forma Wen consegue sentir traços das pessoas por onde elas passam, mas Liv é uma exceção.
Os olhos de Wen se desviaram das entradas e saídas, tudo o que observa são as plantas que parecem engolir a arquitetura antiga com uma fome indomável. Wen sente que de alguma forma tudo parece estar tão conectado que dá a ela uma vontade de correr sem rumo dos olhares inexistentes a mandando embora.
Esse sentimento a apressa dali, talvez possa estar apenas ficando louca com essas sensações que a faz se desesperar apelando para os gritos.
– Liv! – Wen resolve tentar, mas o nome de sua irmã bate contra as paredes e retorna num eco eterno.
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MÍSTICA
FantasíaMística é a porta que se abre para quem precisa fugir, mas dessa vez não é uma apenas gentileza, a Mística precisa de Wen e no momento tudo o que a menina precisa saber está dentro dela. PLÁGIO É CRIME DE ACORDO COM A LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIR...