Now my bedsheet smells like you

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A luz do dia começa a me incomodar, quem foi que abriu as cortinas? Tateio a cama em busca de algo para cobrir os olhos, mas não sinto o calor do qual já estou acostumado.

—  Yuri, feche as cortinas. - me viro de barriga para baixo e cubro a cabeça com o travesseiro - Que horas são, gatinho? - Silêncio - Yuri?

Levanto-me e vou até o banheiro, cozinha, sala. Nada. Vazio. Ele deve ter ido a padaria, claro, padaria, pão, leite, cigarros. Cigarros? Yuri não fuma. Vou até o quarto. Bagunça. Preciso achar uma faxineira, desde que Yuri começou a vir aqui não arrumo nada. Yuri. Sinto falta de seu corpo.
Faz uma semana, uma semana que nos conhecemos, mas sinto como se fosse a vida toda. A energia de nossa intimidade é algo tão natural. Eu estou completamente e desesperadamente apaixonado. Apaixonado? Ou apenas viciado em seu corpo? Ele foi moldado pra mim, feito a mão, para que seu pequeno corpo se encaixasse ao meu. Cada detalhe, cada curva. Cada toque, beijo, relevo, cada entalhe da madeira fina que seu corpo parece ter sido feito. Frágil ao olhar, bruto ao toque. Mas é agradável. Sinto um desejo de tocá-lo mais e mais. Quando o toco me sinto completamente anestesiado. Volto para a cama, Yuri será meu café da manhã. Fome. Fome sem ser de comida, mas fome. Fome de sua atenção, fome de desejo, de luxúria.
Olho para o relógio acima da janela, onze horas. Me viro para o canto, vou esperá-lo. Esperar. Demora. Que sensação de frio e abandono é essa?
Doze horas…
Quinze horas…
Frio. Meu corpo se arrepia de desejo, de vontade.
Já não consigo mais ficar deitado. Fui abandonado. Deixado pra trás feito lixo. Descartável, com prazo de validade.
Não sei seu sobrenome, não sei o numero do seu celular, não sei porra nenhuma. Não sei nem se ele é real ou apenas fruto de minha mente perturbada. Não custaria muito. Não sei quem é ele.
Estava muito ocupado o fodendo para perguntar. Ele sempre vinha até mim, eu não precisava saber. Tratei como se ele fosse sempre estar ali para mim. Idiota.

O que eu faço? Ele não pode ter me deixado. Não depois do que tivemos. Estou exagerando. Exagero. Ele só não quis me acordar, tenho certeza que ele vai até o bar hoje a noite, claro que ele vai, é assim todo dia, desde que nos conhecemos.

Era mais uma sexta, o bar estava cheio, e eu exausto. Avistei ele dançando perto da jukebox, cabelos loiros compridos balançando, roupa justa, quadris de bailarino.

Perfeito.

Nossos olhares se cruzaram, senti um arrepio correr minha espinha, que olhos eram aqueles? Olhos fortes. Olhos de soldado. De alguém que sabia o que queria, e sabia exatamente o que estava fazendo.

Aconteceu tudo tão rápido.

O bar foi esvaziando, nossos copos enchendo, a conversa fluindo. Quando dei por mim já estávamos em cima da moto em direção ao meu apê.

Porta aberta. Roupas no chão. Beijos molhados. Mãos ousadas. Sacada. Yuri contra o vidro. Gemidos. Estocadas. Mais Gemidos. Cabelos Espalhados. Urgência . Orgasmo.  Banho. Mais sexo.

O resto daquela semana continuou da mesma forma, Yuri me encontrava no fim do expediente e vínhamos pra casa, fodiamos de maneira insana, não conversávamos com palavras, nossos corpos tinham uma linguagem única. De manhã ele ia embora, e a noite estava lá me esperando novamente. Por que diabos eu não peguei seu telefone? Por que não adicionei ele em alguma rede social? Por que ele me deixou?

Ele estava agindo normalmente ontem. Não estava? Como uma pessoa que vai te abandonar deveria agir?

Não, ele não estava normal.

Me beijou mais intensamente ontem, pedia pra que eu o olhasse nos olhos, ele não despregou o olhar do meu enquanto me chupava, ou enquanto montava em mim, rebolando, subindo, descendo, levando minhas mãos a sua cintura, cavalgando em mim, jogando a cabeça para trás, quebrando o contato de nossos olhos por breves segundos. Para voltar a me encarar com aqueles olhos marcantes, inebriados de desejo. Como se estar sendo preenchido por mim fosse a melhor coisa do mundo.

Ontem  a noite ele esteve aqui, e agora tudo tem o cheiro dele, cada cômodo da casa trás lembranças de seu corpo sobre o meu.



Uma da manhã. Fim do expediente. Ele não apareceu.

Cerveja, cigarros, whisky. Ele não apareceu.

Sábado, domingo, segunda.

Sexta de novo, e ele não apareceu.

Desespero, olheiras, mau humor, o tempo passa, ele não volta.

Seis meses.

Não lembro do seu rosto, só lembro de seus olhos, de seu cheiro, sua pele na minha. Ele é real? Ele esteve aqui? Tenho que sair daqui.

Demissão, passaporte, aeroporto.Tenho que sair daqui.

Acabou, ele se foi. Preciso seguir em frente.

Tempo.

Trabalho novo. Sonhos. Carreira.

Um dia normal, como qualquer outro, boate cheia, copos vazios, corpos suados, Yuri.

Yuri?



Shape of youOnde histórias criam vida. Descubra agora