Capítulo 1

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[Berenice]

***

Rio de Janeiro, dias atuais.

São cinco horas da manhã. Esfrego meus olhos, ainda sonolenta para ter certeza de que é mesmo esta hora que vejo no despertador sobre a mesa de cabeceira. Sinto preguiça e apenas estendo a mão para silenciar aquele maldito barulho ensurdecedor!

Respiro fundo. Espreguiço-me. Apesar de estar receosa, não tenho alternativa a não ser levantar. Que remédio?

Hoje será um dia cansativo para mim. Na verdade, todos os dias tem sido assim desde aquele dia fatídico. Ah, só de lembrar, sinto arrepios... Mas não quero pensar nisso agora, não antes de tomar um banho e tomar aquele cafezinho santo de sempre para acordar.

Faço como tudo planejei. Debaixo do chuveiro, eu deixo que a água quente escorra pelas minhas costas massageando assim, todo músculo enrijecido pelo stress acumulado. Fico um pouco ali pensativa.

Eu não queria ter que sair daqui, da minha casa, da minha cidade e muito menos do meu país. Mas acontece que o mundo não vai esperar eu me recompor. A vida tem que seguir. E tudo aqui me lembra o Richard. Isso significa que se eu ficar, estarei condenada a viver prisioneira de mim mesma, dentro do casulo que eu mesma criei.

Já não tinha vida social, muito menos vontade de conhecer novas pessoas. Só que agora o quadro mudou de figura e eu preciso me resgatar antes que eu enlouqueça. E eu estou falando bem sério.

Com esse pensamento, desligo o chuveiro e alcanço a toalha, a mesma de sempre, com meu nome gravado. Lembro agora que isso foi um presente de casamento. Acabo lembrando também que ele tinha uma toalha igual com o nome dele gravado...

Droga! Sinto falta de ar...

— Calma, Berenice! Você é mais forte do que imagina e você vai superar isso, é só um pensamento bobo, não fique nervosa... — digo para mim mesma. — Não quero ter que pensar nele... não quero... por que eu não o esqueço? Por que as lembranças são assim tão dolorosas? Já se passaram seis meses... porque tinha que acontecer justo comigo? — sem obter respostas, enxugo-me e sigo para meu quarto.

A roupa que usarei está posta sobre minha cama. Escolhi um jeans claro, camiseta preta, um cardigã verde musgo e um tênis comum. Pouco acessórios. Apenas brincos e um anel. Na mala de mãos coloco as últimas coisas que faltam antes de fechá-la e repousa-la sobre o pequeno sofá no canto do quarto.

Depois de vestir a roupa e ajeitar meu cabelo diante do espelho, estou pronta para sair. Mas ainda falta tomar pelo menos um cafezinho. Para isto vou até a cozinha e providencio meu desjejum. Sento e aproveito para comer algumas torradas com geleia. Quando termino o meu café, limpo tudo que sujei, pego a mala de mão e meus óculos, que apesar de ser um dia frio, o sol teima em aparecer. Pego também a mala maior e a puxo pelo corredor a fora.

Olho atentamente para os cômodos da minha casa. Quantas coisas vivi aqui! Uma lágrima insiste em rolar, mas eu sou mais rápida e enxugo antes que borre toda a minha maquiagem.

— Hoje não, Berenice! Hoje você não irá mais chorar. — eu fico falando sozinha até me convencer de que estou certa disso.

Neste momento a campainha toca. Sei bem que é. Marilia, minha melhor amiga. Foi ela quem me incentivou a ir embora e viver novos sonhos. É claro que ela fica triste com a minha partida, mas sabe que será melhor para mim, inclusive no aspecto profissional.

— Bom dia, flor do dia! — minha amiga Marília parece bem alegre, apesar de detestar acordar cedo.

— Bom dia! Quanta disposição! — dou um abraço forte em minha amiga. — Pensei que não viesse mais.

Meus Dias Sem Você  - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora