O Monte Tamara

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Encorajado pela sua melhor amiga, Kyer caminhava de um lado para o outro em frente à tenda. Esperava que não fosse tarde demais para convidar Laiza. Isso se um Legolas qualquer já não o tivesse feito. Afastou o pensamento. Ainda assim, era uma baita pretensão acreditar que alguém como a Elfa iria com ele à festa das flores.

Nunca tinha perguntado a idade dela. Não sabia se a ofenderia com a sua curiosidade. Suspeitava que eram mais de cem anos. Se fizesse as equiparações de raça, eram quase da mesma idade. Era um argumento que ele estava guardando para uma possível discussão.

Fora isso, sabia que Laiza era diferente das outras elfas, até mesmo da irmã. Não a tratavam da mesma forma. Ela era linda, poderosa, a maior alquimista do reino e a única pupila de Celen em centenas de anos. Mesmo com tudo isso, percebeu que ela ficava nervosa diante das autoridades, mesmo que nunca abaixasse a cabeça para nenhuma delas.

Em contrapartida, mais de uma vez viu que a olhavam com desdém. Quando podia, ele ficava perdido olhando para a beleza dela. Sem dúvida, era uma mestiça. Suas orelhas eram menores, suas marcas diferentes e seu poder não era como o habitual. Se estava certo, jamais a engoliriam se não fosse filha de um dos quatro soberanos elfos.

– Ky? Tá tudo bem com Alys?

Estava tão absorto que não a viu chegar. Ela estava com seu conhecido uniforme de batalha. O cabelo preso em um coque bagunçado e os óculos tortos. A primeira imagem nítida de que se lembrava da chegada a Nafh'ta. A primeira que não estava ligada à dor dos problemas com Lys.

– Oi, não... nada de errado com ela.

Ele nunca foi um completo idiota perto das garotas. Por incrível que pareça costumava usar do seu jeito tímido para fazer sucesso. Laiza era um caso à parte.

– Então há algo de errado com você? Celen me disse que está se habituando bem aos metais, houve algum problema?

– Não, está tudo bem.

Ficou calado. Petrificado pela luz dos olhos dela.

– Então?

E fez papel de idiota.

– Ah, sim, claro. Eu vim te perguntar se não quer ir comigo à festa das flores.

Ela fez uma cara de quem se surpreendia com o pedido e depois abaixou os olhos.

– Kyer, eu fico lisonjeada, mas infelizmente não poderei aceitar. Eu não vou à festa das flores.

– Por que não?

Ela torceu o canto da boca. O garoto que era um observador nato, sabia que aquela era uma reação inconsciente toda vez que a Elfa mentia.

– Tenho que trabalhar na profecia.

Ele olhou dentro dos olhos dela e se lembrou da última semana. Foi Laiza que compreendeu tudo que ele tinha feito por Alys, mesmo antes da amiga. Foi ela, também, que secretamente ensinou feitiços a ele, mesmo que ainda não tivesse poderes. Era ela que passava horas conversando sobre a vida em Nafh'ta, ainda que tivesse trabalho a fazer.

Não desistiria assim tão fácil. Quando criança ele costumava questionar sobre porque não tinha poderes. A avó dizia que tinha ligação com os seus corações, que quando os dois batessem no mesmo ritmo, saberia que tinha sido abençoado pelo Construtor.

– Me dê a sua mão, por favor.

Ela o olhou desconfiada mas atendeu o pedido. Ele sabia o feitiço, o tinha treinado diversas vezes, mesmo que sem resultado. Fechou os olhos e quando os abriu ficou feliz de ver que tinha funcionado. Desde que chegara à grande floresta, seus poderes tinham despertado. Não tinha mostrado a ninguém, até agora.

Os Contos AlphaWhere stories live. Discover now