Capítulo 3

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Sísifo acordou primeiro, mas El Cid foi quem se aprontou mais rápido. Logo estava de pé, com a urna nas costas, pronto para ir.

"Vamos?"

"Você tem energia de sobra mesmo. Mas não podemos sair assim, sem nos despedirmos dele, não é? Tenha calma, nós dependemos das outras pessoas para realizar as missões com sucesso."

"Depender dos outros para ter sucesso pode ser a sua ruína. Quem garante que os outros farão a parte deles com êxito?"

"Ora, se eles não conseguirem, é só ir lá dar uma mão. E bem, você não pode esperar que as pessoas façam tudo que queira se você não conseguir se relacionar suficientemente bem com elas, não acha? Ei, El Cid, não é vergonha alguma receber a ajuda de um amigo."

"Ter de receber a ajuda indica que sua espada não é bem afiada."

"Ou que duas espadas afiadas são melhores do que uma. Estou pronto, vamos lá nos despedir."

O leiteiro já trabalhava, limpando o estábulo e alimentando as vacas. Sísifo aproximou-se e fez carinho no focinho de um dos animais.

"Bom dia."

"Bom dia. Ei! Você está com essa caixa nas costas! Quer dizer que vai embora?"

"Sim. Muito obrigado por ter nos acolhido esta noite."

"Que pena... esperava que me ajudasse de novo hoje. Poderia ficar e trabalhar como meu ajudante."

"Desculpe, eu não posso. Tenho muita coisa a fazer e muitos lugares para ir. Mas, quando eu voltar, venho te ajudar de novo!"

"E qual é a próxima parada?"

"Eu quero dar uma olhada no lugar que aquele lenhador morreu."

"Resolveu caçar fantasmas agora? Você diz que é um guerreiro, mas eu acho que é algum escritor de coisas esquisitas!"

"Às vezes caçar coisas esquisitas é o que um guerreiro como eu sempre está fazendo", riu Sísifo. "Quem sabe eu consiga ver o fantasma, não é?"

"Você é mesmo um maluco... Bem, boa sorte. Eu preparei um queijo para vocês levarem também! Está lá fora, ao lado do portão."

"Muito obrigado, prometo retribuir na próxima vez."

"Que retribuir o quê! É o meu agradecimento por ter me ajudado no trabalho. Sabem como os galões de leite pesam."

"Você precisa mesmo de um ajudante. Já pensou em adotar um dos garotos do orfanato?"

"Hein? Nunca pensei nisso!"

"Por que não experimenta trabalhar com um deles? Aí terá com quem conversar todos os dias. Eu preciso ir agora. Boa sorte."

Ele ainda passou pelos cavalos, que tranquilamente pastavam em outra área. Agradeceu-lhes pela carona no dia anterior, mesmo sem saber se conseguiam entendê-lo. Esperava que ao menos o sentimento de gratidão os alcançasse.

"Está agradecendo aos cavalos?", perguntou El Cid, incrédulo.

"Por que não? Eles nos carregaram o dia inteiro ontem. Os homens acham que os animais não entendem nada, mas eles entendem coisas que estão muito além de nosso alcance. É por isso que meu irmão conseguia saber de coisas antes de todo mundo, apenas conversando com a natureza. Eu não tenho a mesma habilidade, mas sei que aqueles cavalos entendem tudo de justo e de injusto com eles... assim como o mundo todo."

Entrelace de opostosOnde histórias criam vida. Descubra agora