Coração Dividido - Série Corações Guerreiros

Capítulo Um

Dezenove Anos Antes

Enquanto caminhava até a marca de largada dos pilotos, Thomas pensava em tudo o que havia feito em apenas dois anos. Até os 16 fora o típico adolescente mimado, filho pais ricos com nada em comum a não ser o ódio que sentiam por terem se casado pelos motivos errados, aumentar as fortunas das famílias e que se separaram antes mesmo que ele completasse um ano de idade.

A vida do pai era saltar de uma esposa-troféu para outra, cada uma durando no máximo dois anos como a senhora Astor-Evans da vez, as últimas até tentaram sair da cama do pai direto para a sua. Não que ele tenha dito não para qualquer uma delas, eram só vadias querendo dinheiro mesmo, qual o problema de se aproveitar? Quando não estava se casando com uma aspirante a modelo ou atriz, era um dos empresários mais respeitados do mercado imobiliário.

Já a mãe demorou anos para se casar novamente, não por falta de opções, mas porque já havia cumprido sua "função social", casou com um dos maiores herdeiros da costa Oeste e teve um filho – homem – com ele. Deu o tão esperado herdeiro para as tradicionais famílias, assegurando assim a continuação dos nomes e fortunas. Então ela decidiu que o próximo casamento seria por sentimentos – não especificamente por amor, mas sentimentos – não por contas bancárias. Enquanto isso, a mais jovem congressista de Indiana tinha coisas mais importantes para fazer do que tomar conta de um filho ou caçar um novo marido.

Thomas não se ressentia com os pais, também não se sentia colocado de lado ou ignorado. Entendia o mundo em que nasceu, assim como entendia seus pais. Eles lhe deram o melhor possível: bons colégios, preceptores de respeito, tutores inteligentes, um nome respeitável e principalmente, a consciência de que tudo no mundo tem um preço, sabia que tudo na vida girava em torno de dinheiro e posição social, ou você tinha ou lutava para ter. Amor era uma complicação desnecessária que apenas quem não tinha dinheiro achava essencial para a vida. Até nisso se julgava um homem de sorte, sua namorada – e se tudo desse certo naquele dia, futura noiva – compreendia seu ponto perfeitamente. Ela era a escolha mais óbvia: bonita, bem-sucedida, com uma fortuna em crescimento. Claro que dentro de cinco ou seis anos sua carreira como modelo estaria acabada. Um belo contrato pré-nupcial e ele não precisaria se preocupar com divórcios e advogados.

Pouco antes de soar a buzina que anunciava a primeira largada, a dos pilotos, Thomas já estava concentrado e nem lembrava que tinha pai ausente ou mãe relapsa, só não esquecia da surpresa que havia preparado para pedir a namorada em casamento. Assim que soou a buzina anunciando que os pilotos deveriam correr até os carros, ele praticamente voou pelos 120 metros que o separava do seu veículo. Chaves na mão, adrenalina nas veias e a vontade de vencer dominando cada músculo de seu corpo.

Já acomodado no banco de couro de seu esportivo, ele podia sentir a potência de mais de 600 cavalos vibrando, as rotações por minuto do motor aumentando, a tensão acumulada nas pontas dos dedos.

Cada volta na pista era uma experiência única, a chance de ser conhecido como o Rei da Rua, daquela corrida. Thomas tinha tantos títulos acumulados desde que resolveu transformar as corridas em rua em eventos seguros, mas fora do circuito oficial de corridas, que quase não tinha mais graça correr. Quase.

Depois de destruir três carros de cerca de meio milhão de dólares cada, em menos de dois anos, ele ainda sentia a emoção de correr, e a vibração da máquina em suas mãos era o combustível que faltava para o jovem sentir-se completo novamente. Isso e o SIM da namorada. Ele sabia que era novo para dar esse passo, estava consciente que ainda precisava terminar os estudos, mas com o futuro garantido não havia tempo para dúvidas ou questionamentos. Sua vida era exatamente como pilotar aquela máquina nas corridas não oficiais em que participava: rápida e excitante, mas sem grandes novidades.