Mais que amigas

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Eu nunca tinha ficado ansiosa com o pensamento de ir pra escola, até hoje.
Acordei de madrugada e não conseguir mais dormir, porque fiquei pensando nela.
O que tá acontecendo comigo?

Chego na escola e a primeira pessoa que eu vejo é ela.
- Ooi.- diz vindo até mim.
- Oi.
- Como é que você tá?
- Bem.
- Certeza?
- Sim.
- Absoluta?
- Umhum.
- Tá bom.
Ela se despede e vai para sua cadeira. Saio da sala e vou para o meu único refúgio nessa escola, a biblioteca. Meia hora depois sinto a presença de alguém atrás de mim e imediatamente sei quem é.
- Lendo o quê?- pergunta Verônica se sentando na frente.
- Um livro.
- Chata.
Sorrio
- E você entendeu a pergunta.
- Entendi sim.- falo mostrando a capa do livro.
- "Capitães da Areia", um livro muito bom.
- Sim. Você não tem aula?
- Tenho, mas a aula está mega chata, aí vim ficar aqui contigo.
- Não acredito! A menina certinha perdendo aula?
- Que disse que eu sou certinha?
- Eu tô dizendo, é só olhar pra você.
- Não vou discordar.
- Claro. Eu sempre tô certa.
- Convencida.
- Eu?
- É, você mesma.
- Boba.
Verônica olha ao redor como se estivesse a procura de alguma coisa e sorrir quando encontra uma mesinha. Vai até ela e se senta. Não que eu esteja observando cada passo dela, nem nada do tipo, só fiquei curiosa pra saber o que ela ia fazer. Só isso.
- Eu queria muito um livro de Machado de Assis, mas acho que não tem aqui.
- Qual?
- Memórias Póstumas de Brás Cuba.
- Ainda não vi também, mas talvez tenha.
- É, qualquer dia eu procuro.
Nesse momento ouvimos o sinal e Verônica faz uma careta.
- Estou indecisa, porque queria ficar aqui, mas não quero perder aula.
- Vai pra aula, sei que você quer ir.
- Muito bem, dê conselhos assim e seja uma menina boazinha.
Esse comentário me arranca uma gargalhada, que há muito tempo não dou.
- Por quê?
- Porque ser bom é legal.
- Umhum. Tá bom- digo colocando muito ironia em cada palavra.
- Vou lá, depois eu volto.
- Beleza.
Vejo ela seguir até a porta, me dando tchauzinho.
Gosto dela mais do que eu quero admitir. A presença dessa garotinha me faz muito bem. É como se essa energia boa dela fosse contagiante. Ela é cativante, engraçada, bobona e linda. Linda de um jeito simples. Ela não percebe a maioria das coisas, diria que é um pouquinho manipulável, mas é muito legal. Espero que ela não se afaste como as outras pessoas, quando descobrir a verdade sobre mim. Quando ver a garota cheia de cicatrizes e feridas ainda abertas que eu sou. Quando perceber que sou problemática e que não tenho mais nenhuma vontade de viver.
Cerca de uma hora depois ela aparece novamente.
- Voltei. - diz batendo palminhas e sorrindo.
- Oi. Tenho uma surpresinha pra ti.
- O quê?
- Pega esse livro roxo, aí na primeira prateleira.
Ela faz o que eu pedi e fica boquiaberta quando ver qual o título.
- Não acredito! Você achou?
- Achei.
- Obrigaaada.- diz vindo até mim e me dando um abraço. Retribuo a tirando do chão.
- Eeei!
Sorrindo a ponho de volta no chão.
- Menina, você tem força, né?
Balanço a cabeça em concordância.
Me sento na mesinha que ela estava há alguns minutos atrás e ela se senta comigo.
- Tô feliiiz.- diz sorrindo e olhando para o livro de Machado de Assis.
- Que bom.
Ela levanta o olhar e percebe o quanto estou a encarando. Estamos tão perto que consigo sentir a sua respiração quente e descontrolada. Vou me aproximando automaticamente, mas quando estou perto o suficiente, ela se levanta. Seguro seu braço.
- Vai onde?
- Ee.. Hã..
Percebo o nervosismo dela.
- Tá com medo?
- Um pouco.
- Não precisa ter.
Ela me encara com aqueles olhos lindos e começa a se aproximar de mim, me abraçando na altura dos ombros. Sou bem mais alta que ela, mas como estou sentada não faz tanta diferença.
- Sei o que ia acontecer e tô muito nervosa, porque nunca beijei uma menina.
- Imaginei, mas fica calma. É um beijo comum.
De repente me vejo beijando ela. Seguro sua nuca com uma das mão e ponho a outra na base de sua coluna. Conduzo o beijo de forma calma e vou percebendo que o seu medo vai sumindo aos poucos. Seus lábios eram exatamente como imaginei. Delicados, macios e quentes. Desejei tanto esses lábios, que nem acredito que está mesmo acontecendo. O gosto da boca dela é diferente de todas as outras que eu já provei.
Fomos parando o beijo aos poucos e finalizei com alguns selinhos. Ela apoiou a cabeça na minha e me deu um sorriso. Percebi, nesse momento, que esse beijo ia mudar minha vida e que eu estava perdida. Perdida nesse sorriso. Perdida nessa boca. Estava completamente apaixonada por ela.
- Foi bom?
- Foi. Melhor do que eu esperava.
- Que bom.
Ela olha ao nosso redor preocupada.
- Não tem ninguém aqui, pode ficar tranquila.
Ela sorrir pra mim, surpresa por eu ter falando exatamente o que ela queria saber.
- Acho que a nossa turma já foi liberada. Vamos?
- Vamos.
Saímos e nos despedimos, cada uma indo pra sua casa.
Chego na minha e vou comer algo. Estou sem comer desde que sair de casa. A minha ansiedade não me deixou por nada de comida na boca. Quando estou finalizando meu lanche, recebo uma mensagem de um número desconhecido.

"Oi" recebido às 12:45
"Oi" enviado às 12:50
"É a Verônica" recebido às 12:51
"Como você conseguiu meu número" enviado às 12:55
"Tiffany me passou" recebido às 12:58
"Aa. Tá tudo bem?" enviado às 13:00
"Amham. Eu preciso falar contigo" recebido às 13:03
"Sobre?" enviado às 13:05
"Tive uma discussão em casa, que me obrigou a tomar um decisão" recebido às 13:08
"Discussão? Qual o motivo?" enviado às 13:10
"Nós. O nosso beijo" recebido às 13:15
"Como assim?" enviado às 13:16
"Melhor eu te falar pessoalmente" recebido às 13:20
"Tá. Até amanhã" enviado às 13:21
"Até" recebido às 13:23

Estou preocupada. O quê ela quer falar comigo? Que decisão ela tomou?

Duas Em Uma (Conto Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora