Mari.
Um vento leve vem da janela permitindo que a cortina balance deixando algumas faixas de luz entrar no quarto. Demoro um pouco para me acostumar com a baixa luminosidade do ambiente.
Tento pegar meu celular para ver que horas são, mas um peso em cima do meu corpo me impede.
Ah, seu cheiro...
Olho pra baixo e só consigo ver seu cabelo espalhado por todo o meu peito. Nossas pernas estão entrelaçadas, seu braço me rodeia, sua respiração é calma. Parece que não está nem perto de querer acordar. O lençol só a cobre da cintura para baixo, deixando à vista as suas costas. Não me contenho e começo a passar meus dedos de leve no contorno de sua coluna.
Ela é tão linda.
Tento me mover novamente, tirando seu braço que me envolve, ela geme baixinho em protesto, mas não acorda.
Procuro por uma calcinha e uma blusa para por. Chegando na cozinha faço nosso café, ou melhor, o café dela e meu suco. Café com leite pra ser mais exata. Preparo algumas coisas para comermos e volto no quarto para ver se ela acordou. Está igual uma pedra, do mesmo jeito que deixei ela ficou.
Parece um pouco psicopata, mas fiquei encostada na parede a observando. Admirando suas costas nuas e seus pés para fora da cama enquanto o lençol amassado cobria parcialmente seu corpo. Peguei meu celular para poder rever essa cena a qualquer hora. Tirei uma foto.
Ela começou a se mover na cama, passar a mão pelo colchão, tenta se levantar, mas logo tomba seu corpo fechando os olhos novamente. Sorrio com a cena. Vira seu tronco ficando de barriga pra cima, olhando para o teto. Logo ela percebe minha presença e me olha assustada, mas rapidamente muda para um sorriso.
- Está a quanto tempo aí? - ela pergunta se sentando.
- Acho que uns dez minutos.
- Que horas são? - olho o visor do celular e revejo a foto que tirei em poucos minutos.
- São quase dez e meia. Sabia que você fica linda dormindo?
- Dez e meia ainda é de madrugada, quero voltar a dormir. - ela diz indo para a beirada da cama ficando de joelhos, sentando em seus calcanhares e levando o lençol até o busto, ignorando totalmente meu elogio. - Não pense que ignorei seu elogio, como sempre não sei o que falar, então vou apenas concordar: sim, eu sei.
Rio quando ela termina a frase fechando os olhos com cara de debochada, mas depois se transforma em um sorriso com preguinhas nos cantos dos olhos. Caminho e paro na sua frente fazendo com que ela estique o tronco para ficar quase na minha altura. Dou um beijo na sua testa e selo nossos lábios rapidamente.
- Bom dia Bela.
- Bom dia meu amor. - ela fecha os olhos colando nossas testas. - Estou com fome.
- Tem coisas na mesa. Fiz seu café, deve estar esfriando.
- Que tipo de namorada é você?! Se não for pra ter café na cama me retiro desse relacionamento agora. - ela estica o braço me empurrando.
- Vou tomar café sozinha então. - começo a andar, mas antes de completar o primeiro passo ela me puxa de volta pelo braço. A força foi tanta que quase cai em cima dela.
- Me dá um beijo de bom dia direito.
- Você está com bafo. - digo e ela logo fecha a cara, rio baixo. Me agacho um pouco e minha mão vai em direção a sua nuca. Aproximo meu rosto do dela, os nossos narizes se encostam. Sua mão vai de encontro a minha cintura e então iniciamos um beijo. Beijo calmo, só para sentir a presença uma da outra, finalizando com selinhos.
- Vou esquentar um pouco o café, ok?
- Ok, vou por uma roupa.
Vou em direção a cozinha e pego o café para aquecer. Pego algumas coisinhas que faltavam da geladeira para por na mesa e vou em direção a própria. Nossa cozinha é estilo americana então nossa mesa fica na sala. É um lugar pequeno, mas muito aconchegante, não trocaria por nada, nosso primeiro apartamento.
Pego uma cadeira para poder alcançar um pote no armário de cima, mas assim que coloco uma perna na cadeira para dar impulso Isabela me assusta.
- Ai meus deuses, Mariane! Para, não se mexe. - ela fala da entrada da cozinha. Chega mais perto e olha concentra para um ponto em minha perna. - Está doendo? Isso foi eu?
Só então sigo seu olhar e me deparo com um roxo enorme na parte de dentro da minha coxa esquerda. Sorrio da sua preocupação.
- Ainda tem dúvida? Ontem a noite você não estava tão preocupada assim.
Ela sorri orgulhosa e me dá um selinho antes de ir em direção a mesa. Pego o pode que queria e me junto a ela.
Observo ela tomar seu café com uma perna junto ao corpo na cadeira, rindo de alguma coisa que vê no celular. Parece que sempre foi assim. Parece até que as fases ruins de antes não aconteceram. Mas mesmo nas fases ruins conseguíamos permanecer juntas e jurar amor uma pra outra. Cada momento feliz que tínhamos durante essas fases parecia suprir toda a dor que estávamos sentindo, todo cansaço. Agora, morando com ela, tendo nosso próprio canto como sempre sonhamos, parece que essas fases não existiram. Parece certo.
- Ei, - Bela me chama passando a mão pela minha bochecha percebendo o quanto eu estava longe, olho pra ela. - eu te amo.
- Eu também te amo.