Terror na rua

3 1 0
                                    


           Sem dúvida alguma sua vida era estranha, porque às vezes uma esperança apressada o lançava à rua. Então tomava um ônibus e descia em Palermo ou em Belgrano. Percorria pensativamente as silenciosas avenidas, dizendo-se: – Me verá uma donzela, uma menina alta, pálida e concentrada, que por capricho dirija seu Rolls-Royce. Passeará tristemente. Logo me olha e compreende que eu serei o único amor de toda a sua vida, e esse olhar que era um ultraje para todos os desgraçados, pousará em mim, cobertos os olhos de lágrimas. O sonho se desenroscava sobre esta necessidade, enquanto lentamente deslizava à sombra das altas fachadas e dos verdes plátanos, que nos mosaicos brancos decompunham sua sombra em triângulos. – Será milionária, mas eu lhe direi: "Senhorita, não posso tocá-la. Ainda que você queira entregar-se, não a tomaria." Ela me olhará surpreendida; então eu lhe direi: "E tudo é inútil, sabe? É inútil, porque estou casado." Mas ela oferecerá uma fortuna a Elsa para que se divorcie de mim, e logo nos casaremos, e em seu iate iremos ao Brasil. E a simplicidade deste sonho se enriquecia com o nome Brasil que, áspero e quente, projetava diante dele uma costa ruborizada e branca, cortando com arestas perpendiculares ao mar delicadamente azul. Agora a donzela havia perdido sua embalagem trágica e era – embaixo da seda branca de seu vestido simples como o de uma colegial – uma criatura sorridente, tímida e atrevida ao mesmo tempo. E Erdosain pensava: – Nunca teremos contato sexual. Para tornar mais duradouro nosso amor, restringiremos o desejo, e tampouco lhe beijarei a boca, e sim a mão. E imaginava a felicidade que purificaria sua vida, se tal impossível acontecesse, mas era mais fácil deter a Terra em seu movimento que realizar tal absurdo. Então dizia-se entristecido de uma vaga coragem: – Bom, serei "cafetão". – E logo um horror mais terrível que os outros horrores lhe desparafusava a consciência. Ele tinha a sensação de que todas as moscas de sua alma sangravam como sob um fusível de um torno, e paralisado o entendimento, embotado de angústia, ia à louca aventura em busca de bordéis. Então soube o terror da fraude, o terror luminoso que é como o estalar de um grande dia de sol na convexidade de uma salina. Deixou-se arrastar pelos impulsos que retorcem ao homem que se sente às portas da cadeia pela primeira vez, impulsos cegos que conduzem um infeliz à jogar a vida em um naipe ou em uma mulher. Talvez buscando no naipe e na fêmea uma consolação brutal e triste, talvez buscando em tudo que há de mais vil e baixo certa certidão de pureza que o salvará definitivamente. E nas calorosas horas da sesta, sob o sol amarelo caminhou pelas calçadas de mosaicos quentes em busca dos prostíbulos imundos. Escolhia preferencialmente aqueles em cujos saguões via cascas de laranja e rastros de cinza e os vidros forrados de trapos vermelho ou verde, protegidos por malhas de arame. Entrava com a morte na alma. No pátio, sob o enquadrado céu azul, havia geralmente um único banco pintado de ocre, e sobre ele deixava-se cair extenuado, suportando o olhar glacial da gerente, enquanto esperava a saída da pupila, uma mulher horrorosa de magra ou de gorda. E a meretriz gritava-lhe da porta entreaberta do quarto, em cujo interior se escutava o ruído de um homem que se vestia: – Vamos, querido? – E Erdosain entrava em outro quarto, zumbindo seus ouvidos e com uma névoa girando nas pupilas. Logo recostava-se no leito envernizado da cor de fígado, sobre as mantas sujas pelas botas, que protegiam a colcha. Subitamente sentia desejos de chorar, de perguntar a essa horrível porca o que é o amor, o amor angélico que os corais celestiais cantavam ao pé do trono do Deus vivo, mas a angústia lhe tapava a laringe enquanto de nojo o estômago se fechava como um punho. E no entanto a prostituta deixava ficar a movediça mão encima de suas roupas. Erdosain dizia-se: – O que fiz da minha vida? Um raio de sol enviesava o cristal da clarabóia coberta de teias de aranha, e a meretriz, com a bochecha apoiada no travesseiro e uma perna apoiada sobre a sua, movia lentamente a mão enquanto ele entristecido dizia-se: – O que fiz com minha vida? Subitamente o arrependimento lhe entristecia a alma, lembrava-se de sua esposa que por falta de dinheiro tinha que lavar roupa apesar de estar enferma, e então, enojado de si mesmo, saltava da cama, entregava o dinheiro à prostituta, e sem tê-la usado, fugia até outro inferno a gastar o dinheiro que não lhe pertencia, a afundar-se mais em sua loucura que uivava a todo tempo.

Os sete loucosOnde histórias criam vida. Descubra agora