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"Não perca quem você é no borrão das estrelas.
Ver é enganar, sonhar é acreditar.
Tudo bem não estar bem.
Às vezes é difícil seguir o seu coração."

JESSIE J, Who You Are

F A Y E   M O H L E R
17 anos

— Faye, sua vez.

A pequena frase do Senhor Taylor pôde ser considerada a minha sentença de morte, afinal, falar na frente de um grande número de pessoas nunca foi o meu forte.

Para aumentar a minha angústia, um silêncio perturbador tomou o lugar no momento em que eu me dirigi para a frente da sala, e vários olhos se fixaram aos meus, ato que me fez desviar a atenção para o papel que está sendo massacrado na minha mão graças ao meu nervosismo, que resulta tremedeiras sem fim.

— O texto é de uma autora desconhecida. Ela se chama Jenifer Montalione, e é dona de um blog admirável.

— O que te fez escolher esse texto? — o professor questionou.

— A minha relação direta com os sentimentos citados pela autora. Parece que o texto foi feito para mim. Para tudo o que eu sinto.

O professor assentiu com a cabeça e gesticulou com as mãos para que eu começasse a ler. Timidamente, abri o papel e puxei o máximo de ar possível:

Eu posso contar para você, eu posso contar para ele. Eu posso contar para qualquer um. Ou até mesmo para todos. Mas só eu sei o que eu senti, só eu sei o impacto que a vida teve sobre mim. Algumas vezes, esses sentimentos não cabem em palavras, você só olha para o céu e olha para pessoa e diz "é muito difícil", parece que nem em todos os idiomas do mundo eu encontraria uma palavra para definir.

Desde a primeira vez que eu li esse texto, a lembrança de como foi difícil me abrir para terceiros há dois anos atrás veio à tona.

Após o pesadelo que eu vivi nas mãos de Simon, a minha confiança no próximo se tornou nula. E, mesmo que eu tentasse me abrir com as pessoas que eu amo, nada surtia efeito.

As palavras nunca se encaixavam, os sentimentos que eu dissertava nunca eram cem por cento entendidos. E não adiantava. Ninguém entendia a minha dor e o que ela causava no decorrer dos meus dias.

Mas a gente tenta. Tenta uma, duas, três. Fala uma, duas, três. Explica de várias maneiras. Muitas vezes, resolve, ajuda a tirar o peso dos ombros. Mas em outras, a gente só precisa ficar só. Gritar, chorar, dançar, cantar bem alto. Ir para perto do mar e só pensar nas ondas.

A dança foi a única coisa que me ajudou a liberar todos os meus medos, os meus desejos e a profunda tristeza que se apossou de mim. Era – e é – dançando que eu consigo extravasar tudo o que fica guardado no meu coração.

A música, os movimentos, as expressões, tudo isso me ajudou a mostrar o que eu realmente sentia. E com a descoberta sobre o poder maravilhoso do mundo da dança, parte da minha vida começou a fazer sentido.

Porém, grande parte continuou no escuro.

Nesses momentos, a gente se frustra com quem está perto, olha e pensa "como você não vê?" e às vezes as pessoas vêem, mas não sabem lidar ou só não querem mesmo. E mesmo que quisessem, eu não saberia explicar. Aí a gente briga, inventa motivos para chamar atenção, pedindo ajuda mesmo sem querer ser ajudada. Aja paciência, eu sei. Muitos não tem, se cansam de tentar entender o que mal tem motivo. E quem fica, sofre, sofre por ter ver assim, sofre por não parecer ter fim, sofre por não saber te ensinar o caminho para o fim.

Entre ParadoxosOnde histórias criam vida. Descubra agora