O Inimigo comum - Ansiedade

136 13 1
                                    


           1


Era julho e o inverno de São Paulo começava a parecer inverno de verdade. O vento gelado soprava por entre os enormes prédios da Avenida Paulista e a previsão para a tarde é era de 12°. As horas não passavam, Koji olhava para o relógio a cada segundo. Ele puxava a gola da camisa e arregaçava as mangas, a perna começava a balançar involuntariamente. A droga da ansiedade de novo, pensou ele bebericando o café, já era a quarta xícara do dia. Ele olhava para a tela do computador e as planilhas logo se transformavam em telas de jogo na sua mente. Não aguentando mais olhar, ele se levantou e foi ao banheiro.

O prédio comercial tinha 3 fileiras com 7 baias cada uma. Ele passou pelas baias e viu que faltavam vários colegas. Koji não era muito de fazer amigos, falava com um ou outro, mas as baias vazias eram incomuns.

Ele entrou no banheiro e viu um dos colegas debruçado na pia. Era o Jonathan do RH.

Aquele filho da puta mal caráter, pensou Koji. Ele odiava tudo em Jonathan, a voz fina e estridente, a camisa por dentro da calça que deixava uma barriga de cerveja a mostra, o cabelo oleoso, mas o que mais irritava era a falsidade. Deixando isso de lado ele se aproximou e perguntou se estava tudo bem. Jonathan tossiu e disse sim, ele se virou e deu aquele sorriso falso que Koji odiava tanto.

-Estou bem, acho que comi algo estragado no almoço. É só enjoo.

Ele tentou sair do banheiro meio cambaleando, mas logo que chegou à porta se curvou e vomitou ali mesmo. Koji rapidamente pegou ele pelo braço e o sentou no chão.

-Você precisa de um médico. Disse Koji, saindo e indo até a sala de seu chefe. Chegando lá ele bateu na porta, mas o Sr. Galvão, o chefe, não atendeu. Achou estranho pois tinha visto ele entrar na sala e não sair. A porta estava entreaberta, ele entrou e observou a sala, parecia estar vazia, a janela estava aberta e os documentos que estavam na grande mesa de mogno escuro eram derrubados um por um a cada rajada de vento. Ele foi até a enorme janela para fechar, tropeçou em algo e bateu a cabeça na quina de um armário. Vieram vários palavrões em sua mente, mas só disse um "ai" bem baixinho. Ele verificou se estava sangrando, latejava muito, mas não tinha cortado. Finalmente olhou para ver no que tinha tropeçado, e viu o corpo obeso do Sr. Galvão caído. Ele tomou o pulso, mas não conseguiu achar, colocou os dedos perto do nariz e sentiu o ar saindo pelas narinas. Rapidamente pegou o celular do bolso e discou o número de emergência. Uma das funcionárias também entrou na sala a fim de falar com o Sr. Galvão e presenciou a cena.

-Ele também! Gritou a mulher de meia idade.

-Como assim? Perguntou Koji, ainda esperando ser atendido.

-O Jonathan ta desmaiado no banheiro, já chamamos a ambulância.

Koji então desligou o celular, a mulher foi verificar o Sr. Galvão. Koji saiu da sala e a empresa estava um caos. Ele foi caminhando devagar até sua mesa e ouviu alguns burburinhos. Talvez eles tenham almoçado no mesmo restaurante e deu ruim, um cara comentava com um pessoal. Tem essa epidemia de meningite também, disse uma moça.

A cabeça de Koji latejava, não parecia, mas ele estava tenso pela situação. Ninguém estava trabalhando, ninguém sabia o que fazer, é impressionante como a falta de um chefe deixa tudo desorganizado, pensou Koji. A ambulância finalmente chegou, primeiro socorreram Jonathan e depois o Sr. Galvão. Uma das funcionárias ficou encarregada de ligar para as famílias. Depois que a ambulância foi embora os funcionários também foram saindo. Koji se sentou, e mesmo não querendo terminar o expediente, pensou que não seria certo sair antes do horário.

CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora