S/N parou em frente à porta branca e respirou fundo. Seu coração batia tão forte e alto que ficou com medo que alguém pudesse escutá-lo. Já fazia dois dias que Kim Taehyung — seu melhor amigo e amor platônico — havia voltado para Seul, mas sua coragem de reencontrá-lo havia sumido. Ela ainda lembrava-se do dia no qual confessou seus sentimentos por Tae, minutos antes de ele embarcar em um avião para Melbourne, onde passou quase dois anos. Agora ele estava de volta. E as malditas borboletas em seu estômago também.
Os gritos de crianças vindos de dentro da casa mostravam a quão cheia a mesma devia estar. Era uma festa para comemorar o retorno de Taehyung; S/A queria vomitar. Se tivesse pelo menos se mantido calada sobre seus sentimentos, agora ela não teria com o que se preocupar. Não sabia como seria tratada e muito menos como olhá-lo. Ela era uma grande adolescente babaca de dezenove anos.
Fechou os olhos enquanto trancava o ar e apertou a campainha. O barulho de passos caminhando até a porta só lhe assustaram mais. Agora não dava pra correr ou nem ao menos se esconder na moita do jardim, a porta havia sido aberta e uma mulher de cabelos curtos apareceu. S/A sorriu.
— S/A! Que bom que veio! — a mãe de seu melhor amigo exclamou empolgada. S/N não havia perdido o contato com a mesma desde a partida de Tae, as duas haviam se aproximado muito mais na verdade. — Taehyung não para de perguntar por você, está muito insistente.
S/A não deixou de rir e se xingar mentalmente por sentir suas pernas tremerem. Ele sentia sua falta e seu coração estava aliviado. Passou pelo espaço da porta e adentrou o local aconchegante onde costumava tomar chocolate quente toda sexta à noite. No sofá estavam os dois irmãos de Taehyung sentados enquanto jogavam algum jogo de cartas. Os mesmos correram para abraçá-la quando a viram e quase lhe derrubaram. S/A riu com a demonstração de afeto de ambos e saiu para o fundo da casa, onde estava a maioria dos convidados.
Sentiu o cheiro bom de comida e fechou os olhos apreciando. Porém, quando abriu, sentiu como se uma flecha acertasse seu peito em cheio. Encontrou-o no meio de mais três amigos, todos de infância. Jimin, Jungkook e Hoseok. Para ela, ele ainda continuava sendo o mais bonito entre o grupinho. E ela com certeza notou sua pequena mudança. Estava um pouco mais alto e com o cabelo mais claro que o comum, mas o sorriso ainda era o mesmo.
Não sabia como reagir diante daquela circunstância. Ele estava matando a saudade de alguns amigos e ela se sentia egoísta em atrapalhar. Ainda sim, sentiu-se especial por apreciar aquela cena. E então antes que pudesse desviar seus olhos do garoto, o mesmo a capturou observando-o. Seu coração bateu tão forte quanto no dia em que ele lhe beijou no aeroporto, após sua declaração. S/A sentia suas bochechas esquentarem só em lembrar.
Antes que pudesse pensar em pelo menos se afastar dali, Taehyung cochichou com seus amigos — que trataram de soltar piadinhas que a mesma não conseguiu ouvir, mas pelo sorriso no rosto de Tae era algo constrangedor — e se afastou do grupinho de meninos vindo em sua direção. S/A escondeu as mãos para traz, para não mostrar o nervosismo.
— S/A, que saudades! — Taehyung falou enquanto fechava a distância entre os corpos, envolvendo a garota em um abraço quente e confortante. — Eu não acredito que você só veio me ver agora.
As mágoas nas palavras de Taehyung não passaram despercebidas pela amiga, que se xingou mentalmente. Será que ele não entendia que ela estava envergonhada com tudo aquilo? Era ela quem havia se declarado. Ele até havia beijado-a, mas em seguida ficou fora por dois longos anos, onde S/A se manteve solteira e ainda apaixonada pelo amigo. Mas e ele?
— Desculpe V. — chamou-o pelo apelido de sua infância. — Eu estava cheia de tarefas, mas agora estou aqui.
Taehyung arqueou a sobrancelha com a resposta da amiga. Havia encontrado a mãe da mesma ainda naquela amanhã e ela confirmou que sua filha estava há dias trancada no quarto apenas olhando série e terminando um livro enorme de quase quinhentas páginas.