Prólogo

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"O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março."

Tim Maia- Aquele Abraço

Era início de fevereiro. O céu estava limpo e o sol ardia com os termômetros marcando quase quarenta graus.

Perto das nove horas Cício, Maurício na certidão de nascimento, mas Cício desde sempre, tomou café da manhã sentado na rede da varanda de casa. Café preto e pão com margarina. A cada mordida, ele pensava nas tarefas que tinha para executar naquela quarta-feira.

Em determinado momento, houve uma movimentação na casa em frente. Era um caminhão de mudança. Aquela casa, na verdade, uma mansão de três andares com um imenso jardim que ele cuidou por cinco anos, estava vazia havia três meses. Ficou feliz por perceber que receberiam novos vizinhos. Ele precisava ir até lá negociar acerca do jardim... Não podia se dar ao luxo de perder aquele trabalho para outro garoto.

O rapaz sabia que quem olhava para a sua casa dizia que ela destoava do bairro pela sua simplicidade. Aquilo não deixava de ser verdade... Ele e sua família tinham se mudado para aquela região antes dela se tornar um local de luxo. Na época, a maioria das casas requintadas que os cercavam agora, eram apenas terrenos baldios. Mas em algum momento, alguém decidiu fazer uma bela mansão, e logo começaram a surgir outras e agora aquele era um dos melhores bairros do Rio de Janeiro, o Jardim Botânico.

Cício, com sua pele cor de jambo e olhos negros, roupas simples e chinelos de dedos, sempre causou certa desconfiança aos vizinhos da alta sociedade que se mudaram para a região, ao longo daqueles anos.

No entanto, seu jeito trabalhador e gentil logo fazia com que confiassem nele e ele cuidava da maioria dos jardins das mansões ali por perto.

Aprendera a trabalhar com aquilo quando tinha apenas dez anos, cinco anos atrás. Começou apenas capinando as ervas daninhas e plantando algumas mudas simples. Com o tempo, porém, foi aprendendo a fazer mais coisas e agora trabalhava o dia inteiro, criando jardins magníficos, aparando arbustos, colhendo frutas e mantendo a ordem de modo geral. Lavando os carros e cuidando de piscinas.

Aquela mansão em frente à sua casa tinha um dos maiores jardins do bairro. Cício esperaria até a família se ajeitar para ir conversar. A casa tinha uma piscina grande também que ele costumava limpar. A família que morou ali anteriormente era do Rio Grande do Sul e regressou para sua terra natal no final do ano.

Sentado na rede da varanda de casa, usando uma regata branca, bermuda de surfista e chinelos de dedo, ele observou atentamente o que acontecia durante o processo da mudança. Alguns homens carregavam móveis e caixas de dentro do caminhão e entravam pela porta da frente, fazendo esse processo exaustivamente.

Do lado de fora, um carro prateado parou na outra extremidade do caminhão, próximo à cabine, e dele desceram quatro pessoas – certamente eram seus novos vizinhos.

O homem usava uma camisa polo vermelha, bermuda jeans e óculos escuros que cobriam quase todo o rosto. Olhava para o trabalho dos homens que descarregavam o caminhão. Logo começou a reclamar que eles pegaram um vaso de forma desajeitada. Pareceu um tanto esnobe. Mas no que ele estava pensando? A grande maioria dos ricos daquela região era esnobe.

A mulher devia ter trinta e poucos anos, estava usando um vestido longo floral de alças e seus cabelos eram extremamente lisos e loiros. Cício pensou que não fossem seus cabelos de verdade, mas fruto do processo de horas e horas em salão de beleza. Ela tinha o cacife de uma verdadeira madame.

De dentro do carro saíram ainda duas meninas, a pequena devia ter dois ou três anos e correu na direção da escadaria de entrada, sem dar atenção aos chamados de sua mãe para que voltasse. Ela se chamava Leila, pelo que Cício pôde escutar, e tinha cabelos castanhos presos em duas tranças.

A outra menina era uma moça, talvez um pouco mais nova do que ele. Seus cabelos também eram castanhos como os da irmã, embora no sol ficassem avermelhados, e ela olhava para tudo com atenção. Estava usando um vestido azul claro com pequenas bolinhas brancas. Sua pele era tão clara que Cício imaginou se era mesmo moradora do Rio de Janeiro...

A garota se afastou do restante da família, que estava reunida nos degraus de entrada da casa, e caminhou em direção ao jardim. Cício podia ver tudo o que eles faziam, pois a mansão era toda cercada de grades finas de ferro. Em determinado momento, a garota mais velha subiu em uma árvore e ficou sentada no galho.

Ele achou aquilo no mínimo diferente. A maioria das mocinhas da alta sociedade não subiam em árvores... Talvez eles fossem os chamados novos ricos. De qualquer maneira, ele gostou dela e ficou curioso para saber seu nome.

A mãe de Cício, Helena, saiu de dentro de casa e começou a ralhar com ele por estar sem fazer nada ali fora. Helena era uma típica carioca, de pele bronzeada e cabelos escuros. Falava alto e tinha o perfil de mandar e ser obedecida imediatamente. Cício pensava que ela talvez tivesse sido rica algum dia, pois tinha toda a pose para isso.

Mas Helena era uma mulher de fibra, que morou anos na favela e nunca se deixou abater pelas dificuldades. Criou Cício sozinha por seis anos. O pai dele os tinha abandonado logo que ele nasceu. Depois dos seis anos do garoto conheceu seu segundo marido, Jonas. Um caminhoneiro que raramente ia para casa.

Na casa ainda moravam com eles suas duas meia irmãs, frutos do casamento de sua mãe com Jonas: Beatriz, de oito anos, Lorena, de seis. E Helena estava esperando mais um, mas ainda era cedo para saber o sexo...

— O que está acontecendo lá fora? – Helena perguntou, ao perceber a movimentação do outro lado da rua.

— Nossos novos vizinhos chegaram.

Ela ficou algum tempo observando a mansão em frente. Mas não tinha paciência de ficar mais do que alguns minutos parada, de modo que falou, antes de entrar:

— Vá se apresentar e consiga de volta o jardim deles.

Ele concordou com um movimento lento de cabeça,mas não se levantou. Sabia que não adiantava ir naquele momento. No entanto,não se contraria Helena de modo algum, então, ficou apenas ali observando oprocesso de organização. Buscou com os olhos a garota que subira na árvore, masela não estava mais lá. Novamente sentiu curiosidade em conversar com ela.Talvez pudesse ser legal. Algo nela o tinha deixado curioso, embora ele nãosoubesse explicar o que era...


Olá queridos leitores! Aí está o prólogo

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Olá queridos leitores! Aí está o prólogo. Espero que tenham gostado... Se sim, deixe seu voto e seu comentário, pois isso ajuda na divulgação. Amanhã sai o primeiro capítulo. Vou lançar os capítulos todos os sábados, então, nos vemos lá!

Ah, ia esquecendo de dizer, essa história envolve música nacional e músicas de capoeira. Então alguns capítulos virão com a sugestão do clip de músicas relevantes. Enjoy it.

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